Capítulo 95 - O Favor

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   Soltei Kakashi assim que ouvimos o som da porta batendo com uma força exagerada.
— Eu espero que tenha tido um bom motivo para ter deixado ele ir, mesmo após tudo o que te fez Hikari, porque, sinceramente, eu não consegui pensar em nenhum que fosse suficiente para tal escolha.
Mesmo estando de costas para mim naquele momento, eu podia sentir pelo tom de sua voz que ele estava mesmo decepcionado comigo, e aquilo conseguiu me deixar de coração partido, mesmo eu ciente de que merecia aquele tipo de tratamento.
Afinal, Kakashi estava certo, eu não possuía nenhum motivo para ter deixado Kaname escapar após a bagunça que ele havia feito, isso sem contar o que ele havia feito no passado, e pior ter matado o nosso pai...
— Ele é o meu meio irmão e…
Kakashi me olhou pôr sobre o ombro e o olhar sério dele me fez parar de falar imediatamente.
— O seu "meio irmão" tirou a vida do seu pai e tentou tirar a sua diversas vezes.
Engoli em seco.
Aquelas palavras conseguiram ser mais afiadas que a lâmina da katana de Kaname.
— Eu sei. — A minha voz quase falhou. — Você tem razão Kakashi, ele fez coisas erradas, imperdoáveis… Mas… Ele precisa de ajuda.
— O que…?!
— Ele precisa de ajuda…
Kakashi veio até mim enquanto tirava sua bandana e a máscara, deixando-as sobre o sofá. Em seguida parou na minha frente, olhando profundamente como se estivesse procurando por algo.
— O que ele fez com você? Te lançou alguma espécie de Genjutsu ou te fez tomar alguma daquelas porcarias que ele tem escondido nos aposentos dele?
Franzi o cenho ao ouvir aquilo.
— Não, nenhuma das opções. Eu estou falando sério Kakashi. Kaname realmente precisa de ajuda, ele está fora de si, ele está dominado pela maldade que tomou conta de seu coração. — Expliquei, tentando ser o mais clara possível. — Algo me diz que ele não tem noção das coisas que está falando ou fazendo.
— Hikari…
— A alma dele está perdida, é o que eu sinto sempre que olho nos olhos dele…
— Me desculpe, mas agora é você quem parece não estar tendo noção do que está dizendo.
Kakashi balançou a cabeça em um sinal negativo, e em seguida começou a andar de um lado para o outro enquanto parecia estar tentando se acalmar.
Durante esse meio tempo acabei me perdendo em pensamentos, me recordando de alguns momentos da época em que Kaname e eu éramos mais novos.
Para evitar que a minha mãe ficasse brava, foram poucas às vezes em que meu pai havia me levado junto com ele para visitar o meu meio irmão.
Kaname era quatro anos mais velho do que eu. E a primeira vez em que o havia visto ele tinha apenas dez anos de idade.
Graças aos lapsos de memórias, eu não conseguia me lembrar de muita coisa, mas eu me lembrava que o meu meio irmão morava com a mãe, em uma parte mais afastada do centro do país do vento.
Em uma casa pequena e muito velha. Eles não tinham eletricidade na casa e mal possuíam o que comer.
Senti um enorme pesar em meu coração só de lembrar daquilo.
Kakashi passou por mim, me fazendo sair daquele torpor do qual eu me encontrava. Indo até o seu quarto onde entrou e fechou a porta atrás de si.

“Kakashi...”

Naquele momento eu senti uma enorme necessidade de ir até ele, mas eu sabia que Kakashi queria um pouco de espaço para conseguir colocar a cabeça no lugar. Ele estava bravo e queria espairecer longe de mim, e eu precisava aceitar mesmo meu coração querendo que eu fizesse o contrário.
Levei as mãos até o rosto, soltando um longo suspiro, aproveitando para tentar expulsar aquele sentimento de angústia que estava forte dentro de mim.
Quando abri os olhos novamente, algo no tapete bege me chamou a atenção. Me aproximei para ver melhor e confirmar que eram as manchas de sangue de Kakashi e não só ali, ao erguer o rosto notei que também continham algumas manchas na parede, sangue que provavelmente haviam saído de Kaname após o soco que havia levado.
Fui até a cozinha para pegar algo que pudesse usar para limpar aquilo, e durante o processo me senti como se estivesse apagando as provas de uma cena de um crime.
Quando eu finalmente havia terminado, levei o pano até a pia e enquanto lavava ele acabei me lembrando da comida que havia feito especialmente para Kakashi, e que talvez nem fosse ser tocada por ele após aquela discussão toda...
Fui até a porta para trancar e assim que cheguei a sala ouvi Kakashi me chamar, o que me deixou em alerta pois aquela altura eu já estava começando a achar que ele já estava dormindo.
Fui até o quarto, me sentindo meio receosa, e após bater algumas vezes na porta eu entrei.
A princípio olhei para a cama, mas só encontrei Hiro dormindo profundamente ao lado de seu brinquedo. Então, quando olhei para o banheiro vi que além de Kakashi estar lá, ele estava vestido apenas da cintura pra baixo o que me fez desviar o olhar imediatamente.
— Me chamou?
– Sim, eu preciso de um favor.
Olhei para ele pelo canto dos olhos, notando que agora ele me mostrava a sua mão ferida.
— Eu não estou conseguindo fazer um curativo sozinho…
— Eu irei te ajudar.
Precisei respirar fundo algumas vezes enquanto ia até o banheiro, tentando lidar com aquele nervosismo todo causado apenas por ter visto uma boa parte do corpo perfeito de Kakashi.
Eu não costumava me sentir assim, pois eu era uma médica e médicos eram acostumados a ver partes dos corpos de seus pacientes, mas aquele caso era diferente, aquele homem conseguia me provocar diversas reações das quais ninguém nunca havia conseguido antes. 
Ele se virou encostando o corpo, ainda úmido do banho, na pia e em seguida ergueu a mão em minha direção.
Sem muita cerimônia, peguei a mão dele com uma das mãos e com a outra ativei o meu chakra medicinal sobre o ferimento que parecia ter sido bem profundo pois ainda estava saindo bastante sangue.
— Pensei que iria optar por me dar alguns pontos. — Ele comentou com aquele tom de voz sério que conseguia deixá-lo ainda mais sexy.
— Posso perguntar porque achou isso? Tentei manter os meus olhos na palma da mão dele, afim de conseguir continuar me mantendo concentrada, o que estava sendo uma tarefa bem difícil, ainda mais com o cheiro gostoso que estava vindo dele.
— Porque é mais doloroso.
— Ué, é justamente por esse motivo que eu optei por usar esse método.
— Eu fui rude com você.
— Não, você não foi, disso eu tenho cem porcento de certeza. E mesmo que tivesse sido, eu ainda sim optaria por usar meu chakra medicinal em você.
– Eu perdi a cabeça quando vi ele te batendo daquele jeito.
Permaneci em silêncio pois não sabia o que dizer para ele, só de lembrar da cena eu já me sentia profundamente envergonhada.
— Aquilo não foi nada, bom não comparado ao que já aconteceu entre nós no passado...
Kakashi apoiou sua mão livre sobre a pia, e pelo canto dos olhos eu pude ver claramente que ele estava inconformado com aquilo mas ao invés de botar lenha na fogueira ele apenas disse:
— É triste ver que isso é mais normal do que parece hoje em dia… Quero dizer, eu não sei o que é isso porque não tive irmãos, mas eu conheço muitas pessoas que já passaram por situações semelhantes. — Comentou. — Um ex-aluno meu é a prova disso, e por incrível que pareça ele passou pelo mesmo que você.
— O Uchiha...
— Ele mesmo.
Abaixei o olhar, ficando um pouco abalada ao comparar as duas situações agora que eu sabia o que Kaname havia feito com o nosso pai. E por mais que os motivos para aquelas atrocidades fossem diferentes, a dor da perda de alguém importante para você era a mesma.
— Kaname sempre teve uma vida difícil desde muito pequeno. Ele cresceu em um lugar horrível, sem ter nem o básico para conseguir ter uma vida aceitável. — Expliquei. — A sua mãe vivia sempre doente por isso não conseguia trabalhar por muito tempo, e assim eles mal tinham o que comer. Se não fosse pela ajuda do nosso pai, ele poderia não estar vivo agora. Entretanto, eu descobri algo que me deixou horrorizada…
Precisei de alguns segundos para conseguir lidar com a onda de emoção que havia surgido inesperadamente dentro do meu ser ao lembrar daquilo.
Kakashi permaneceu em silêncio, aguardando eu ir em frente com o assunto.
— Kaname me disse que o nosso pai batia nele e na mãe dele com frequência, com excessão das vezes em que ele me levava junto, é claro. E o pior de tudo eram as desculpas esfarrapadas que o meu pai me dava após eu perguntar porque Kaname sempre estava com machucados pelo corpo.… — A minha mente parecia um quebra-cabeça sendo montado pouco a pouco.
Pisquei algumas vezes tentando dispersar aquelas imagens horríveis das quais o meu cérebro parecia querer insistir em me fazer imaginar.
— Eu senti com o meu coração que ele estava dizendo a verdade, até porque o nosso pai sempre escondia coisas das quais fossem manchar a sua imagem na vila. Já era um costume.
— Eu realmente não sei o que dizer, eu não fazia ideia…
— Sabe Kakashi, eu estive pensando durante a nossa volta para a vila naquele dia… E talvez o certo fosse eu voltar para o meu país antes do combinado.

O Ninja Que CopiavaOnde histórias criam vida. Descubra agora