Capítulo 21 - Lembranças

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- Esperem aqui, vou ver quem é.
Assim que abri a porta, senti meu sangue começar a congelar por entre minhas veias no mesmo instante.
- K-Kakashi...? - Mal consegui disfarçar a expressão de surpresa em meu rosto enquanto olhava pra ele.
- Desculpe. - Disse Kakashi enquanto olhava pôr sobre meu ombro, para o interior da sala aonde estavam os garotos. - Eu não sabia que estava com visitas...
Kakashi acenou em direção aos garotos e eles retribuíram o gesto, menos Gaara.
- Já estávamos de saída, não é mesmo meninos? - Temari se pôs de pé, indo até Kankurō para puxá-lo pelo braço.
- O que?! Acabamos de chegar Temari! - Protestou ele, impondo certa resistência.
- Hikari precisa trabalhar!
- Eu posso voltar depois, vocês podem ficar. - Kakashi disse, com seu tom de voz agradável e gentil, numa clara intenção de apartar aquela pequena discussão.
- Que isso, não viemos numa boa hora. Ela precisa focar no trabalho.
Gaara manteve-se em silêncio, pela expressão em seu rosto, eu podia jurar que ele parecia estar levemente incomodado com a ideia de se retirar.
- Vocês não vão embora agora, vão? - Perguntei.
- Não, iremos ficar mais um tempinho na vila.
Retirei uma chave do bolso da minha calça e joguei para Temari pegar.
- Porque me deu isso...? - Perguntou ela, olhando para o pequeno chaveiro em formato de coração.
- É a chave do meu dormitório, aproveitem para descansar lá durante o tempo em que forem ficar aqui. - Eu disse. - O nome do prédio e o número do quarto estão escritos atrás do chaveiro, irão encontrar ele facilmente, fica ao lado de um pequeno mercado próximo ao centro da vila.
O sorriso no rosto de Temari e Kankurō indicavam que haviam gostado da ideia.
- Perfeito, se não for problema para você dividi-lo conosco. - Kankurō comentou após se levantar.
- Jamais, eu até prefiro que fiquem comigo, assim eu não dormirei sozinha.
- Então tudo bem.
Tanto Kakashi quanto eu saímos do caminho para deixá-los passarem.
- Nos vemos mais tarde. - Kankurō ergueu uma das mãos antes de deixar o laboratório logo atrás de Temari.
- Até. - Olhei para trás ao notar que faltava um deles.
Gaara havia se levantado, mas ao invés de ir com seus irmãos, permaneceu no centro do laboratório, olhando pra mim com uma expressão desconfiada no olhar.
Fui até ele enquanto isso Kakashi permaneceu do lado de fora do laboratório para nos dar privacidade.
- O que foi Gaara? - Perguntei após me aproximar dele.
- Está tudo bem entre vocês?
Fiquei sem saber como reagir com aquela pergunta direta de Gaara. Ele era tão observador que havia percebido o meu nervosismo quando vi Kakashi.
- Sim, está tudo bem. - Tentei ser o mais convincente possível. - Não há nada com o que se preocupar.
- Hum... Sei. - Murmurou ele, olhando para Kakashi com aquele olhar marcante que ele possuía sem nem disfarçar. - Aliás, preciso te mostrar uma coisa depois.
Fiquei curiosa a respeito do que ele queria me mostrar, mas pelo jeito era algo que eu podia esperar sem problemas.
- Certo. Então nos vemos mais tarde.
Gaara assentiu.
Passou por mim, indo até a porta, depois passou por Kakashi - sem falar com ele - e em seguida começou a subir as escadas.
Kakashi entrou no laboratório e em seguida fechou a porta atrás de si.
Como olhar diretamente para ele havia se tornado uma uma tarefa difícil pra mim após o que havia acontecido, fui até a bancada aonde havia deixado a enorme pilha de papéis e em seguida passei a folhear algumas delas, numa intenção de manter a calma.
- Em que posso te ajudar Kakashi?
- Vim ver se precisava de ajuda.
Olhei para ele por breve momento. Me perguntando se ele estava mesmo falando sério.
- Shizune apenas me pediu para dar um jeito nessa papelada e...
Tudo estava consideravelmente bem até ele começar a vir em minha direção. E para a minha surpresa, ao invés de me afastar eu me mantive imóvel enquanto ele se aproximava.
- Duas cabeças pensam melhor do que uma. - Comentou ele, após pegar um terço dos papéis que estavam próximos a mim na bancada. - Não é mesmo?
Kakashi estava tão perto que eu podia sentir o aroma do perfume dele.
Enquanto observava ele agitar aquelas folhas no ar, novamente cheguei a me perguntar o que ele estava fazendo.
Seria aquela uma tentativa para voltarmos a nos falar ou ele só estava tentando mostrar profissionalismo?
Quando fiz menção de que ia pegar as folhas de volta mas ele as ergueu no último segundo, tirando elas do meu alcance e por pouco não toquei nele sem querer.
- Eu posso fazer isso sozinha.
- Eu sei. - Disse ele, como se fosse uma coisa bem óbvia. - Mas, como precisamos conversar, achei melhor te ajudar enquanto fazemos isso.
Que droga...
Eu não me sentia pronta ter essa conversa, o que era compreensível devido aos últimos acontecimentos.
Suspirei, e em seguida dei alguns passos para trás, desistindo da ideia de tentar impedi-lo. Afinal, Kakashi parecia estar disposto a não desistir e por algum motivo senti que iria perder aquela luta.
- O que foi? Vai ser doloroso demais me deixar trabalhar contigo?
- Doloroso? - Repeti sem esperar por uma resposta. - Não, doloroso não.
Kakashi abaixou a pilha de papéis da qual estava segurando, deixando a mesma novamente sobre a bancada e em seguida fez questão de se manter em silêncio, o que me motivou a continuar com a conversa.
- Tsunade vai ficar sabendo disso depois? - Perguntei tentando não transmitir nenhum tipo de emoção em meu tom de voz.
Kakashi riu e ouvir a risada gostosa dele me deixou estranhamente vulnerável, motivo pelo qual precisei desviar o olhar por alguns segundos antes de conseguir me recompor.
- Acho que não é algo que ela precise ficar sabendo.
Aonde Kakashi queria chegar com aquela conversa...?
- Não quero que pense mal de mim. - Continuou ele. - Nunca foi a minha intenção fazer você perder a confiança, pelo contrário.
A vontade de perguntar novamente sobre a verdade por trás do que ele havia feito foi grande, mas deixar as coisas como estavam, pelo menos por agora, acabou sendo a melhor opção no momento pra mim.
- Talvez tenha sido um erro ter duvidado de você.
Kakashi estava prestes a dizer algo mas eu optei por interrompe-lo.
- Mas o erro maior foi ter te agredido.
- Eu acabei botando mais lenha na fogueira ao insistir em tentar te acalmar. Fui merecedor daquilo.
Balancei a cabeça, negando aquilo.
- Não quero que pense que resolvo as coisas dessa maneira.
- Ah não? - Ele perguntou com um certo humor em seu tom de voz. - Eu já estava começando a pensar que sim.
Nunca havia feito tanto esforço para não esboçar um sorriso como fiz naquele exato momento.
- Eu passei dos limites.
- Não teria passado se eu tivesse dito o porque de ter feito aquilo.
O que Kakashi havia dito era a mais pura verdade. Era uma pena ver que ele ainda não estava disposto a me revelar o motivo.
Kakashi era mesmo um osso duro de roer...
- Quer compartilhar alguns desses pensamentos comigo?
Era óbvio que não faria aquilo nem se eu mesma quisesse. Boa parte dos meus pensamentos eu precisava manter trancafiados apenas na minha mente.
- São muitos, iríamos levar muitas horas discutindo sobre isso.
- Bom, teremos um longo dia pela frente. - Disse ele, apontando para a papelada que estava entre nós.
Foi inevitável não rir após ouvir aquilo.
- Costuma gostar de pessoas engraçadas?
- Pra ser sincera, não muito. Mas notei que gosto do seu senso de humor.
A surpresa no olhar de Kakashi era notável, afinal, respondi a pergunta sem nem pensar duas vezes e ao cair a ficha do que eu havia dito, senti o constrangimento tomar conta do meu ser.
- Quero dizer, é... diferente. Não sei bem como explicar, mas o seu senso de humor é diferente.
- Hum... Entendi.
- Eu tenho muito trabalho a fazer. - Peguei a pilha de papéis que ele deixou na bancada e o fiz pegar novamente. - Você disse que iria me ajudar, mas está fazendo o oposto.
- Bom, então vamos ao trabalho!
Kakashi então pegou os papéis da minha mão sem contestar, e em seguida foi para outra bancada, finalmente me dando espaço para conseguir voltar a respirar normalmente.

***

Vinte minutos se passaram...

...E eu ainda não havia conseguido focar no trabalho. Kakashi pelo contrário parecia estar indo muito bem durante o processo. Chegava a ser surreal como ele parecia estar bastante concentrado naquele nível após a nossa conversa.
Eu estava olhando pra ele quando notei uma fumaça saindo por entre os meus lábios.
Entrei em estado de alerta no mesmo instante, pois ou eu estava ficando maluca ou a temperatura do ambiente havia caído muito sem eu nem ter sentido.
Mesmo vestida com uma camisa de mangas longas, passei a sentir o meu corpo começar a congelar com o frio intenso que passava a se instalar cada vez mais dentro daquela sala.
Em dado momento fui obrigada a largar as folhas sobre a bancada porque meus dedos pareciam que estavam prestes a quebrar.
Olhei para a janela e foi quando lembrei que estavam fechadas desde o momento em que havia entrado no laboratório hoje. A porta estava fechada também então de onde estaria vindo a rajada de vento que agora começava a espalhar as folhas que estavam sobre a bancada?
Olhei para Kakashi novamente, porém o mesmo permanecia como estava antes, concentrado no trabalho.
Seria apenas impressão minha ou ele não havia sentido a mudança do clima?
Não, não teria como humano não se incomodar com a intensidade daquele frio.
Tentei chamá-lo mas para a minha surpresa, minha voz não saiu.
Na verdade minha garganta estava seca demais graças ao ar gélido do ambiente.
Levantei do banco com uma certa dificuldade devido a baixa mobilidade do meu corpo e estava prestes a ir até Kakashi, me apoiando na bancada, quando fui atingida por outra rajada de vento ainda mais forte do que a anterior.
Os bancos foram arrastados e por pouco não saíram do chão.
Ao olhar para a janela me deparei com algo aterrorizante que me fez recuar alguns passos imediatamente.
Uma sombra enorme começava a se formar do lado de fora e no centro era possível ver diversos olhos vermelhos me encarando.

"Meu Deus... O que é isso...??!!"

O chakra poderoso que emanava de dentro daquela coisa era incrivelmente poderoso e assustador, e a única certeza que eu possuía era que aquilo estava longe de ser um simples jutsu ou genjutsu.
Um estouro me fez ter um sobressalto, as lâmpadas haviam explodido e por pouco os estilhaços de uma não me atingiram.
Encostei na parede mais próxima, afim de tentar me proteger do que quer que fosse a ameaça.
Meu coração parecia estar prestes a sair pela boca.
Aquele silêncio conseguiu ser mais perturbador do que o barulho das lâmpadas se quebrando.
Pelo canto dos olhos notei que Kakashi havia parado de escrever finalmente, as mãos tremendo sobre a bancada enquanto sua cabeça permanecia baixa.

"Kakashi..."

Olhei para a janela novamente ao ouvir outro som, o som dos vidros trincando.
Um desastre estava prestes a acontecer e eu sabia que precisava fazer algo urgentemente.
O problema era que eu estava sem opções, eu mal conseguia respirar com aquele ar gélido, quanto mais me mexer, meu corpo estava congelado.
Quando finalmente consegui dar um passo em direção a porta, o pior aconteceu.
Os vidros da enorme janela explodiram, me lançando fortemente contra a parede.
Minha visão ficou turva por um breve momento, e em meu ouvido eu escutava um zumbido alto devido a explosão.
Meu corpo todo doía e eu sabia que tinha quebrado alguma coisa devido ao som de ossos se quebrando dentro de mim com a pancada.
O chão estava manchado com o meu sangue.
Havíamos sido atacados, alguém conseguiria chegar a tempo de nos salvar...?
Eu estava perdendo a consciência. Eu sentia que estava, meus pensamentos estavam ficando cada vez mais confusos enquanto o meu sangue continuava jorrando.
- Hikari?
Pelo canto dos olhos notei que os olhos vermelhos, em meio aquela neblina negra, agora me observavam de perto.
- O que foi Hikari?

"Saia de perto de mim... Por favor..."

- Hikari!
Abri os olhos após um sobressalto que quase me fez cair do banco do qual estava sentada.
- O que?! O que foi?! - Perguntei alarmada enquanto cravava as unhas sobre a bancada que estava a minha frente.
Kakashi estava ao meu lado, o olhar cheio de preocupação agora parecia dar lugar ao alívio.
Espera...
Eu estava dormindo?
Olhei ao redor, notando que as janelas estavam intactas.
- Um pesadelo, não é mesmo?
Assenti, levando as mãos até a cabeça.
- Me pareceu tão real...
- Eu imaginei pelo o seu desespero. - Comentou ele, chamando a minha atenção. - Mas acabou, foi apenas uma ilusão.
Suspirei, sentindo uma dor em meu peito.
- É melhor você ir descansar.
- Não posso ir antes de terminar o trabalho...
- Que trabalho? - Perguntou ele após puxar a pilha de folhas para perto de onde eu estava.
Comecei a folhear página por página, sem conseguir esconder a surpresa em meu rosto ao ver que Kakashi havia terminado sozinho.
- Kakashi... Eu dormi por quanto tempo?
- O bastante para que eu conseguisse terminar essa pilha.
- Estou te devendo uma.
- Não. - Ele negou imediatamente. - Não me deve nada. É o mínimo que eu podia fazer por você.

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