Capítulo 54 - Retalhação

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Acordei algumas horas depois sentindo muita dor na região do meu pescoço. Uma dor tão aguda que estava começando a me deixar com falta de ar.
Me sentei devagar e em seguida olhei na direção em que Kakashi se encontrava dormindo profundamente.
Ao levar a mão até a testa notei que eu suava frio, provavelmente devido a dor intensa que passava a querer se alastrar por meu corpo.
Quando a dor aumentou, me levantei e cambaleando fui em direção ao banheiro para evitar fazer qualquer tipo de ruído que acabasse acordando Kakashi.
Encostei a porta e em poucos segundos caí de joelhos no chão. Enquanto eu cravava as unhas sobre o selo estampado sob a minha pele, em minha mente eu amaldiçoava o autor por trás dele de todas as formas possíveis.
Estava acontecendo, de novo.
O selo estava ativo e só poderia significar uma coisa...

...Ele estava por perto.

***

Kakashi abriu os olhos assim que sentiu uma forte fonte de chakra se formar próximo de onde ele estava. Ainda meio desnorteado pelo sono, ele se virou cuidadosamente na direção oposta, dando de cara com um futon vazio.
A pequena varanda também estava vazia. Nenhum sinal de Hikari por perto. Entretanto, um gemido vindo do banheiro lhe chamou a atenção no mesmo instante, lhe fazendo despertar finalmente.
Ele então afastou o lençol que cobria parte de seu corpo e logo se pôs de pé, olhando novamente ao redor. Tanto seus olhos quanto ouvidos agora estavam atentos para qualquer tipo de movimento ou ruído enquanto caminhava a passos lentos até a porta do banheiro que estava entreaberta.
Outro gemido, este agora mais alto que o anterior. Um gemido que representava dor, agonia.
Era Hikari, ele tinha certeza disso.
De repente sentiu um frio tomar conta de seu estômago assim que parou em frente a porta.
- Hikari...? - Chamou ele após colocar a mão sobre a maçaneta.
Houve um breve momento de silêncio antes dela puxar a porta.
A primeira impressão que ele teve ao vê-la, foi a de que ela realmente não estava nada bem. Seu delicado e pequeno rosto estava pálido, e pela franja úmida, ele notou que ela suava frio. A mão pressionando a região próxima ao pescoço o fez entender aonde era o foco do problema no mesmo instante.
Deu um passo em direção a ela, numa clara intenção de ajudá-la, mas para a sua surpresa ela recuou alguns passos.
- Me deixe dar uma olhada nisso. - Pediu ele, o tom de voz baixo e controlado.
Ela balançou a cabeça algumas vezes, em um sinal negativo. As unhas agora cravadas sobre a pele, como se estivesse tentando arrancar o selo a força.
Ignorando aquela recusa, Kakashi chegou perto, colocando sua mão sobre a dela, o que fez com que ela parasse de se automutilar daquele jeito.
- Kakashi... - Ela disse ainda relutante.
Ele tomou a liberdade de levar suas mãos até a gola do kimono dela, puxando o tecido fino até que pudesse ver o estado em que se encontrava o selo naquele momento.
Seus olhar ficou vidrado na marca enquanto ela parecia querer tomar cada vez mais forma sob a pele pálida daquela mulher.
O primeiro pensamento que teve foi a utilizar o método de selamento do mal para ajudar a parar a manifestação daquele selo, mas por algum motivo sua intuição lhe dizia que aquilo não era uma boa ideia, pelo menos não agora.
- Eu estou bem... Eu... - Sua voz desapareceu pouco antes de seu corpo começar a ceder, indo em direção ao chão rapidamente.
Com movimentos rápidos ele a segurou, já desacordada, entre os seus braços antes que o pior acontecesse e em seguida a levou para fora do banheiro.
Após colocá-la cuidadosamente sobre o futon, Kakashi se surpreendeu ao notar que a marca agora parecia estar recuando ao ponto inicial. Embora aquilo lhe gerasse um bom sentimento de alívio, ao mesmo tempo lhe gerava certa estranheza.
Mas de uma coisa ele tinha certeza, Hikari iria ficar bem, bom pelo menos por enquanto.

***

No dia seguinte...

A primeira coisa que notei quando acordei foi que Kakashi não estava mais no quarto, ele havia saído bem cedo como o prometido na noite anterior. Dominada por um enorme sentimento de preguiça, rolei sobre o futon e em seguida olhei em direção a varanda.
Embora o céu estivesse claro, os raios de sol estivessem atravessando o vidro da janela, era difícil conseguir ver muita coisa com toda aquela neblina.
Estava perdida em pensamentos quando me lembrei do que havia acontecido na noite anterior. Com a mão sobre a região aonde minha pele estava marcada pelo selo maligno passei a repassar cada detalhe do qual eu conseguia me lembrar.
Tive um pequeno sobressalto ao me recordar de que Kakashi havia me pego naquele estado deplorável.
Me sentei rapidamente, afastando o lençol que me cobria e puxando a gola do kimono que estava meio frouxa, mostrando parte da minha pele pálida.
Senti meu rosto corar de vergonha.
Aquilo realmente não podia ter acontecido...
...Não na frente dele.
Com um enorme pesar em minha mente me levantei e fui trocar de roupa. Arrumei minhas coisas em tempo recorde dentro da mochila e ao abrir a porta de forma abrupta acabei dando de cara com Kakashi. Os nossos rostos agora estavam a poucos centímetros de distância um do outro.
Fui para trás rapidamente e para o meu azar acabei tropeçando no carpete, caindo de bunda no chão.
Kakashi e Iruka se entreolharam por um breve momento, ambos surpresos ao ver aquela cena, e depois vieram me ajudar.
- Você se machucou? - Iruka perguntou, preocupado.
- Não. - Aceitei a ajuda de ambos para me levantar. A dor da queda presente em meu corpo. - Vocês me assustaram. Podiam ter batido na porta.
- Estávamos prestes a fazer isso. - Kakashi disse, o tom de voz mais sereno do que o habitual. - Já está pronta? Temos que ir agora.
- Tudo bem. - Eu disse após me virar na intenção de pegar a minha mochila que estava no chão. Entretanto parei assim que reparei bem nas fotos que haviam caído da pasta que estava dentro dela.
- Dêem uma olhada nisso...
- Mais o que...? - A voz de Iruka morreu antes que ele pudesse terminar a frase.
Kakashi se abaixou ao meu lado em silêncio, pegou uma das fotos e em seguida passou a analisa-la melhor.
- Os rostos deles... - Começou a dizer, seu tom de voz agora bem sério.
- Estão irreconhecíveis... - Completou Iruka, pasmo.
- Pela profundidade dos cortes, creio que uma lâmina de espada foi utilizada para tal feito. - Peguei a foto que melhor mostrava o que eu havia acabado de dizer. - Aliás, se olharem bem para os braços dos três, verão que haviam sinais de mordidas também.
- Mordidas de lobo...? - Iruka perguntou, receoso.
Fiz que sim com a cabeça.
- Precisamos parar ele.
Senti um aperto em meu peito enquanto pegava as fotos e as jogava dentro da pasta. Ainda não havia tirado um tempo para analisa-las com mais atenção.
- É o que estamos indo fazer agora mesmo. - Disse Kakashi, me entregando a última foto.

O Ninja Que CopiavaOnde histórias criam vida. Descubra agora