Capítulo 61 - Mártir

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O céu estava diferente...
Um degradê entre um tom de roxo mais escuro e próximo do horizonte um laranja mais fraco.
Eu não me lembrava de tê-lo visto ficar com aquelas cores antes...
Nuvens densas ainda podiam ser vistas mesmo com toda aquela escuridão que agora se aproximava.
O sol estava se pondo, levando consigo embora toda a fonte de luz que ainda restava.
Havia perdido a noção de quanto tempo havia se passado enquanto eu andava sem rumo por entre aquelas árvores.
Olhei para trás, notando que já estava bem longe de casa aquela altura.
Porém, mesmo tendo andado tanto, eu não me sentia cansada.
Mesmo ventando tanto, eu não me sentia com frio.
Mesmo em meio aquela escuridão, eu não sentia medo do que os meus olhos já não podiam mais enxergar.
Naquele momento eu só sentia vontade de continuar indo em frente mesmo não sabendo pra onde, o porquê, ou que me aguardava.
O silêncio era absoluto, como se não houvesse mais nenhuma vida além da minha, o que de certa forma no fundo parecia um pouco assustador.
Entretanto, eu não podia negar para mim mesma o quanto era bom sentir a energia da natureza fluindo através do meu corpo naquele momento.

Eu me sentia viva.
Eu me sentia livre.
Eu me sentia sendo eu mesma.

Eram tantos os sentimentos que mal pareciam caber dentro do meu peito.
Quando olhei para o céu novamente, estrelas preenchiam o céu pouco a pouco e entre elas a lua começava a surgir, trazendo consigo o seu brilho único.
Uma cena de encher os olhos e continuaria sendo se eu não tivesse me distraído com o fato de ter pisado sem querer em uma pequena poça que estava no chão. Um pequeno acidente que eu teria conseguido evitar se estivesse prestando a atenção por onde andava.
Por sorte eu estava usando botas.
Afim de evitar mais imprevistos como aquele, decidi pegar a lanterna que havia trago comigo para aquela viagem.
Alguns minutos depois precisei parar de andar, pois meu instinto me dizia que algo me parecia estar errado.
Mas o que poderia ser...?
O cheiro.
É isso!
O cheiro do ambiente estava diferente, e não era nada agradável ao nariz.
Com a ajuda da fonte de luz que saía da lanterna, aproveitei para olhar ao redor com mais atenção, afim de encontrar de uma vez por todas a fonte daquele odor horrível, o que foi totalmente em vão, e para piorar quanto mais eu andava, mais insuportável aquela situação se tornava.
Decidi recuar, e novamente acabei pisando dentro de uma outra poça, sendo esta um pouco mais funda do que a anterior, o que quase me levou a uma queda.
Ao sentir que a água havia molhado a minha calça, levei o faixo de luz para baixo e o que vi me deixou em choque, a barra da minha calça agora estava com manchas escuras.
Seria aquilo lama?
Me abaixei ao lado da poça e notei que aquilo havia sido um erro pois não era lama e nem água, aquilo era sangue.
O baque havia sido tão grande que acabei caindo sentada no chão.
Ergui minha mão que estava livre e agora ela também estava manchada de sangue.
Aquela área toda estava cheia de sangue espalhado por toda parte.
Agora minha mão tremia junto com a lanterna e a minha respiração que parecia ter ficado três vezes mais rápida.
Após conseguir, finalmente, me recompor um pouco daquele susto, saí do chão e em seguida comecei a correr para outra direção aleatória, afim de sair logo daquela floresta estranha.
Entretanto, assim que consegui sair daquele lugar finalmente, acabei me deparando com outro ainda pior.
E o pior de tudo era que eu conhecia aquele lugar.
Sim, o conhecia como a palma de minha mão.
Eu estava diante de um dos lugares onde havia passado uma boa parte da minha vida.
- É bom ter você de volta Hikari. - Comentou uma voz rouca de repente me assustando. - De volta para o lugar de onde você nunca devia ter saído.
Era ele.
Aquele tom de voz era inconfundível.
Aquela era a voz do demônio.
Eu mal consegui ter forças para sequer erguer a lanterna que estava prestes a cair da minha mão de tanto que eu tremia.
A sombra dele estava diante de mim e começava a se aproximar de onde eu estava.
O meu corpo havia congelado, não seguia nenhum dos meus comandos...
- Não sabe o quanto Kimimaro sentiu a sua falta. Ele está aqui.
Dei um passo para trás após ouvir aquele nome e em seguida senti o ar voltar para os meus pulmões.
- Eu mal posso esperar para terminar o que eu comecei e você sabe muito bem do que eu estou falando.
Por instinto levei uma das mãos até a nuca, a deixando sobre a marca da maldição que ele havia me dado.
Sim.
Eu sabia muito bem do que ele estava falando...
Assim que dei outro passo para trás, os olhos dele surgiram no meio daquela escuridão e naquele momento senti um súbito medo da morte.
Eu sentia que ela estava vindo.
Quanto mais eu olhava diretamente nos olhos dele, mais eu sentia que a minha vida estava esvaindo do meu corpo.
- O que pensa que está fazendo Orochimaru?!
Ambos olhamos na direção que havia vindo aquela voz.
Kimimaro se aproximava a passos lentos agora.
O olhar frio me causava arrepios pois eu sabia o que ele me dizia...

Eu não deveria estar ali.

- Eu é que te pergunto isso Kimimaro, pensei ter dito para me esperar lá dentro.
- O que você está fazendo aqui? Achei ter sido bem claro naquele dia Hikari.
Ah sim, ele havia sido mesmo...
...Tão claro ao ponto de eu nunca mais conseguir esquecer aquelas palavras.
Pensei em algo para lhe dizer naquele momento mas por algum motivo não consegui.
Nunca havia sido a minha intenção voltar a pôr os pés naquele lugar, mas de nada adiantaria dizer aquilo para eles agora.
Eu só sabia que precisava ir embora antes que o pior pudesse acontecer.
- Kimimaro, não seja tão rude com ela. Ambos sabem que o lugar dela sempre foi aqui conosco.
- Você está enganado. - O tom de reprovação na voz de Kimimaro conseguiu abrir uma ferida enorme em meu peito naquele momento. - O maior erro da vida dela foi um dia ter acreditado que aqui seria o lugar certo para ela viver.
- Calado.
O olhar de Kimimaro encontrou o meu e para a minha surpresa ele parecia estar bem tranquilo.
- Você não tem mais o direito de falar sobre o que é ou não certo para mim.
A risada de Orochimaru preencheu o ambiente, o me fez sentir humilhada enquanto lutava com as minhas próprias lágrimas.
- Ela está certa. - Ele começou a andar em minha direção novamente. - Você não pode mais tomar decisões por ela. Ou seja, ela fica.
Antes que eu pudesse sequer pensar em fugir, era tarde demais.
Agora ele estava na minha frente, me olhando com aquele olhar hipnótico, enquanto uma de suas mãos deslizava por minha nuca devagar, me provocando inúmeros arrepios pelo corpo.
O medo era o sentimento que prevalecia em meu interior.
- Kimimaro não foi forte o suficiente para conseguir te fazer ficar longe de mim...
Balancei o rosto, negando aquilo, mas de nada adiantou, eu estava em suas mãos.
- Orochimaru, você não precisa dela. Eu possuo o poder que você tanto quer!
- Sim, mas disso eu já sei. - O tom de voz dele continha humor. - O seu corpo já é meu e isso não mudou.
- E então?
- O seu maior erro foi ter ser apaixonado por ela Kimimaro. - Os dedos frios de Orochimaru agora se entrelaçavam entre os fios dos meus cabelos. - Você é o culpado por trás de tudo o que aconteceu e do que vai acontecer.
Lágrimas passaram a transbordar através dos meus olhos assim que o vi dando meia volta e indo embora.
Novamente ele estava indo embora e me deixando sozinha.
O olhar excitado do demônio que estava a minha frente naquele exato momento foi a última coisa que vi antes de sentir os dentes dele sendo cravados com força na minha pele...

O Ninja Que CopiavaOnde histórias criam vida. Descubra agora