Seu coração

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CAPÍTULO QUARENTA



Dei dois pequenos passos para trás, admirando meu reflexo. Usava uma blusa solta preta dentro da minha calça jeans. Hoje, dia 9, era o dia da reunião de fim de ano na escola de Madi. Apesar de ter feito de tudo para não ter que ir, Bellamy não deixou.

Sentei na ponta da cama, me agachando para alcançar e calçar meu salto. Quando terminei, peguei meu casaco e bolsa em cima da escrivaninha e desci as escadas. No andar de baixo, Madi desenhava sobre a mesa da sala.

Claro, ela é só uma criança de sete anos, mas para uma pessoa dessa idade ela já desenhava muito bem. Desde cedo, ela já tinha a mesma vontade artística que eu. Eu tinha centenas de desenhos dela guardados, e tinha orgulho de cada um deles. Me aproximei, beijando o topo de sua cabeça.

-Oi, florzinha. Pronta pra ir?

-Sim. – Me respondeu com um sorriso. – Eu vou ficar com a Tia Raven ou Tia Octavia hoje?

-Com a Tia Raven. A Tia Octavia tem que trabalhar.

-Eu gosto da Tia Raven. – Falou docemente.

-Eu também, querida. – Fui ao seu lado, olhando para o que estava no papel. – O que você está desenhando?

-Um girassol. – Estendeu a folha para que eu pudesse ver de mais perto. A flor estava bem no meio e ocupava todo o espaço. Não era o girassol mais realístico do mundo, mas tinha bastante detalhes e estava muito bonito.

-Madi, – Peguei a folha de sua mão delicadamente. – Isso tá lindo!

-Obrigada, mamãe. – Pelas escadas, era possível ouvir os leves passos vindo. Picasso desceu, logo correndo para o lado da pequena, que fez carinho em sua cabeça. – Você acha que a Tia Raven me deixa levar o Picasso? Eu não quero deixar dele sozinho. – Nem eu, obviamente. Ele sempre acabava roendo meus móveis quando deixávamos ele sozinho.

-Acho que se você fizer uma cara bem bonitinha, ela deixa. – Me levantei do sofá, estendendo minha mão eu sua direção. – Vamos. – Levantou também, pegando minha mão e fazendo movimentos para que o cachorro nos seguisse.

(...)

Entrei pelo portão, seguindo meu caminho para a sala que devia. Poucos minutos ainda faltavam para começar a reunião. O auditório estava cheio de pessoas, principalmente mães, porém alguns pais também. Na primeira fileira ficavam os professores, a maioria quais eu reconhecia. Eles conversavam sobre diversas coisas, enchendo a sala de sons.

Fui para perto de um grupo de mães que eu conhecia por serem responsáveis pelas amigas de Madi. Começamos uma leve conversa sobre coisas aleatórias. Papo furado, realmente.
Eu odiava papo furado. As conversas que importam pra mim de verdade, são aquelas profundas. Aquelas que você quer gritar pra todo mundo, mas não quer dizer. Aquelas que parece que você tira um peso dos ombros. Aquela que, você sabe que disse pra pessoa certa e que ela vai ficar com você. Aquela que você é honesta com cada palavra, não importa o impacto dela. E esse, era o tipo mais raro de conversa. O tipo mais raro de pessoa.

Em pouco tempo, Bellamy entrou e se dirigiu ao palco, fazendo com que todos começassem a sentar. Ele começou desejando bom dia e cumprimentando as pessoas.

Nunca foi um problema pra mim ouvir o que as pessoas falavam, principalmente se essa pessoa era ele. Eu sempre fui uma boa ouvinte, pra qualquer um que fosse. Escutaria os problemas até de um desconhecido na rua. Mas, agora, eu não conseguia escutar uma palavra do que Bellamy dizia. Não que o assunto fosse desinteressante, eu achava importante essas reuniões só para saber se algo mudaria com o sistema da escola pro ano que vem. O problema, era a vista. Problema não, prazer. E esse era o problema.

Missão Impossível (Bellarke)Onde histórias criam vida. Descubra agora