09. - A carta.

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Passei a hora seguinte no meu quarto, encarando a carta em cima da cama, me perguntando por que raios estou tão hesitante em lê-la, é apenas uma carta, sei disso, mas não sei o que obtém nela e isso me assusta. Além disso fico martelando em minha cabeça do porquê minha mãe nunca ter me falado do meu pai, ou ter me dito quando implorei a ela que contasse sobre o passado ou alguém que pudesse nos ajudar. Eu estava sozinha, e ela estava morrendo, e se havia um momento que ela deveria abrir a boca e me contar a verdade era aquele, porém ela não o fez, por mais que eu tenha suplicado. Omitiu tudo a minha vida inteira, me impossibilitou de ter um nome, uma vida, um pai, uma família de verdade por anos, e eu nunca pude fazer nada. Ela me deixou sozinha, e sem nada. E agora estou aqui, de baixo do teto de Aaron Bieber, com uma carta do qual ela escreveu dizendo aonde estávamos para o meu pai babaca — sem eu saber. O que posso pensar sobre isso? Eu honestamente não sei.

Suspirei raivosamente, caminhando até a cama king-size. O que de ruim eu posso encontrar em um papel? Nada, eu acho. Abri a carta rapidamente, parando no mesmo segundo assim que ouço um barulho no corredor; é como um saco de batatas sendo depositado severamente contra o chão, contudo não é isso que chamou a minha atenção, e sim o celular na mochila do qual está jogada perto da escrivaninha. Andei rapidamente até lá, não deixando de rolar os meus olhos pelas camisinhas que encontrei pelo caminho. Assim que encontrei o meu celular antigo no bolso interno da mochila, atendi ao ver o nome da Bethany brilhar na tela.

Levei lentamente o celular ao ouvido, ouvindo gritos do outro lado da linha antes da voz de Beth ressoar.

— Eu já disse que se você não quiser que o gato saía, feche a porra porta! É tão difícil raciocinar isso? — Ela gritou, provavelmente com sua mãe que respondeu com outro grito: "Fale direito comigo, garota! E encontre a porra do gato agora!". Em seguida soltou um suspiro frustrado, voltando a linha: — Argh, tá, tá, não enche... Ei, sumida, até que enfim apareceu! O que houve?

Eu bufei, sentando-me sobre a cadeira estofada e cor-de-rosa da escrivaninha.

— Muita coisa. — Apertei o meio da minha testa, suspirando.

— Eu imaginei. Teve uma batida de polícias na quarta-feira e eu saí correndo, e soube que invadiram o stripper clube também, mas supôs que você tivesse escapado. Esperei que me mandasse mensagem, mas como não o fez, eu fui até sua casa na quinta e simplesmente não te encontrei lá. Te liguei loucamente, e voltei na sexta-feira para questionar a sindica, porém ela disse que você não havia voltado na noite anterior, e por causa disso eu comecei a achar que você havia sido levada. — Ela rosnou, gritando novamente com a sua mãe. "Eu estou no telefone se não notou, então para de encher a merda do meu saco e coloca comida na porta que ele volta!", em seguida voltou-se para mim. — Pensei que houvesse caído no sistema garota, te procurei por toda a cidade a fim de obter alguma informação, mas você só sumiu como mágica. E olha que entrei em cada buraco procurando por você que você não faz ideia... Agora me diga, o que aconteceu? E por que não avisou? Eu tenho sentimentos, ok? Obrigada por se preocupar.

— Sinto muito por isso, foi tudo uma loucura... E como disse, aconteceu muita coisa.

— Tenho tempo, começa. — Ela pediu, me fazendo pensar no ponto de ignição de tudo.

Disse tudo que consegui me lembrar; do sequestro aos Bieber, e até de Easton Park, devo ter passado pelo menos vinte minutos contando, porém mesmo assim não parecia suficiente para resumir tudo que passei desde que estou aqui.

— No fim, eu decidi não ir embora.

Respirei fundo quando terminei, ouvindo um murmúrio de incredulidade do outro lado, antes de ouvir uma porta bater com força do outro lado da linha.

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