35. - O primeiro passo para a beira do precipício.

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Eu digito rapidamente para James, pedindo que de alguma forma ele não traga o papai para casa tão cedo e antes que pudesse sair da conversa, o mesmo me respondeu, questionando-me o porquê, apenas lhe disse que se ele não quisesse que o papai descobrisse com quem diabos ele estava se esgueirando a noite para ver, é melhor ele fazer exatamente o que estou falando. Devo dizer que foi uma infelicidade do destino eu descobrir quem é, para mim, é claro. Rapidamente James retrucou:

E você por acaso sabe quem é?

Dou um riso, digitando o nome. Nem cinco segundos mais tarde o mesmo afirma que irão para o cinema. É simples lidar com James quando sabe dos segredos sujos dele, mas dessa vez quando eu imaginava o que ele fazia quando sumia horas, eu esperava que fosse um assassinato, seria bem menos pior do que ele está fazendo no momento. Eu acho que eu realmente deveria me preocupar do porquê dele está o fazendo, em alguma hora de toda forma.

Eu aperto meu celular em minha mão, vendo uma mensagem de Rexford preencher minha tela, eu já havia recebido uma antes do tal Declan ligar para mim, dizendo: "Deu erro.", mas agora recebendo a explicação de como deu errado, isso só me irrita mais. Incompetente, idiota... Como ele sequer deixou isso acontecer? Além disso, o que ele estava pensando em drogá-la? Eu paro por um momento sobre o corredor, recostando sobre a parede, olhando para a porta do quarto de Hadley. No momento eu não estou me reconhecendo. É óbvio que eu sei, mas realmente necessitava ela está drogada para isso? Eu preciso conversar com Rexford, mas eu mesmo disse que eu não queria saber dos detalhes, apenas queria um susto, da forma que fosse... O que o envolva não é problema, não é? Puxo meus fios de cabelo entre os dedos, seria ridículo eu dizer que é? Na posição que eu me encontro?

Qual é o meu problema? Ele é óbvio, não é? Eu só estou sentindo o peso das minhas palavras porque se virou contra mim. Ela não devia estar em casa agora, drogada, sob meu único e exclusivo risco, mas está. Rexford cometeu um erro e diante disso eu simplesmente não pude ignorar a exigência de Declan e me manter indiferente sobre essa situação, pois se Hadley resolvesse encontrar os fatos quando estivesse sã, a culpa viria para mim, de uma forma ou de outra. Ou é isso que estou tentando me convencer, é só o medo de ser descoberto que me faz voar até ela? Porque apesar de eu estar negando veemente, tem uma vozinha no fundo da minha cabeça dizendo-me que não é bem assim. Eu tenho vontade de me bater agora. Quando Rexford terminar o que eu pedi, toda a raiva virá contra mim, eu sei disso, eu quero isso, eu preciso disso, não é?

Não é? Abro um sorriso. Não, eu não posso com isso agora, não posso me corroer com dúvidas, nada mudou, a Hadley é o que é, ela vai me destruir, de uma forma ou de outra, não importa o que ela ou eu faça no final disso, é o que vai acontecer. A maioria das mulheres que adentram minha vida está com esse destino agendado, talvez o problema realmente seja eu, ou elas, de todo modo, eu não vou deixar que isso aconteça, eu não posso permitir isso, não de novo, não sabendo de toda a dor. Contudo, agora, nesse exato momento o que eu quero e o que eu devo fazer entram em conflito.

Sinto que dei meu primeiro passo para a beira do precipício, no momento que a beijei, que sucumbi aos meus desejos mais obscuros, e não só agora. Eu engulo a seco, deixando para me martirizar depois, logo adentrando o seu quarto. Ela está sobre sua cama, seminua, olhando para o teto. Eu me aproximo mais, trancando a porta e ficando na ponta da sua cama, apenas observando-a. Seus fios castanhos estão sobre seus olhos, os cobrindo, enquanto o seu rosto está em um mar vermelho sem fim, amostrando seu aquecimento. Seus olhos lentamente vêm até mim, interrogativos.

— Vai ficar só me encarando? — Ela questionou, rouca, sentando-se sobre a cama. Abaixo o meu olhar, subindo pelo seu corpo, ah, eu definitivamente devo ser a pior merda existente, mas é inevitável não olhá-la. — Você não quer fazer isso?

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