64. - Redenção.

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Eu jamais imaginaria que deixar Rosemary Beach para trás seria tão doloroso, embora saiba agora o que estou deixando para trás. Apertei com força a mão de Leonard antes de me dirigir ao jatinho, do qual me acomodei a janela, plugando o headphone nos ouvidos, e finalmente pegando o envelope que ela me deu. Abri o mesmo, sacudindo-o, e logo caiu um pequeno bloco de notas em meu colo, do qual tomou nome de storyboard quando li a capa. Já na contracapa dizia; passe rápido, e foi o que fiz, visualizando um desenho meu se mexer. É como se estivesse em movimento.

Deu trabalho para fazer, compreendi essa frase logo quando peguei o livro de capa preta, e já nela havia vários desenhos com caneta colorida permanente, e dentro, não é muito diferente, passo por diversos desenhos meus, dos mais complexos, aos mais abstratos, o que me faz sorrir. Ela desenha bem, devia levar isso a frente.

Graças as artimanhas do meu pai, eu cheguei a Lakefront Military School pouco mais de uma e meia da manhã. Não foi bom. O complexo se situa no alto de uma montanha, em frente de uma praia, contudo como o restante de Miami, não tem nada de bonito. Mesmo a noite é possível ver as construções pedregosas do lugar, sempre mantendo cores frias, entre cinza-escuro, e azul-marinho. O colégio se estende através de muitos metros, e tem vários complexos, provavelmente os dormitórios, e agora entendo que não é à toa que comporta mais de dois mil alunos.

O mesmo homem que me apanhou no aeroporto, o Major McBride, abriu o portão, dando sinal para o guarda na entrada. Ele não tem mais do que trinta anos, e disse que havia servido o exército, mas que depois que perdeu a sua perna esquerda na guerra, resolveu se aposentar, e vir trabalhar aqui com o Tenente Appel, um homem do qual esteve nas forças armadas com o meu pai, e foi superior do mesmo.

Saímos do carro, e andamos até a porta de entrada, adentrando o hall, e já nele, comecei a me perguntar aonde foi que eu me meti. A esquerda, através de uma placa, eu vi que ali se seguia o refeitório, e a direita, aonde estávamos indo, é a diretoria. Grades cercam a vista, e atrás do balcão tem homem moreno, alto, e careca que me olha desinteressado enquanto lê algumas fichas dispostas a sua frente.

— Que bom que a princesa resolveu aparecer. — Um senhor na casa dos sessenta aparece, vestido em trajes do exército, e obtendo uma cicatriz em seu rosto, ele me mede divertidamente. Ergui uma sobrancelha, quem ele acha que é para... — Recolha tudo, Juan.

Ele pede ao homem na secretária, e o mesmo concorda, dando-me um cesto, e uma papelada.

— Vamos lá. Celular, joias, carteira, piercings, e qualquer coisa pontiaguda. — Senti-o fitando-me de rabo de olho enquanto retirava as coisas. — O brinco também vai ter que sair.

Rolei os meus olhos.

Qual é.

O mesmo colocou as coisas pequenas em um envelope, e me indicou o papel.

— Preencha isto, e assine seu nome aqui comprovando tudo que está aqui. — Assenti, preenchendo a ficha, e o Tenente indicou ao Major.

— Reviste a bolsa. — Ordenou ele.

— Temos que fazer isso. — O Major acrescentou, e eu assenti, sorrindo.

Acha que vou trazer o que para cá? Uma arma? O Major adentra uma sala ao lado da secretária, passando minha bolsa em um detector de metais.

— Muito bem, qual é o seu número de farda? — Respondi a ele, e o mesmo virou-se, indo pegar. O Tenente olhou para mim, firmemente.

— Você é a cara da sua mãe.

— Agradeço. — Respondi, displicente.

— Se o Aaron tivesse me dado você no primeiro momento que deu problemas, nesse momento você seria outra pessoa. — Eu ri.

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