03. - De boas intenções o inferno está cheio.

1K 60 89
                                    

Bufei, fitando meus pés descalços, sentindo o ar-condicionado batendo contra minhas pernas e rosto, nunca me senti tão quente, na quitinete do qual moro quase nem tem água quente, quanto mais um ar-condicionado. Suspirei, aproveitando a sensação, contudo, bem ciente que estou presa. Este banco não é normal, além do cinto que fecha a minha cintura, existe outro com um suporte atrás do qual prende meus braços apertadamente, impedindo que eu saía. Tento puxá-los, mas é vão, mal consigo chegar ao cinto da cintura para abri-los. Desisti por ora, vendo o senhor a minha frente me dar um olhar gozador.

— Você entendeu agora? Porque pareceu não me ouvir.

Apertei meus olhos, trincando a mandíbula furiosamente. Ah, vai por mim, meu senhor, eu ouvi muito bem você dizendo que não posso fugir disso, mas simplesmente não aceito isso. Eu sempre tenho escolha, ou pelo menos, acho que sim.

— Não me olhe assim. — O mesmo repreendeu, fazendo um bico, e seus fios castanhos lisos foram bagunçados à medida que ele passou as mãos sobre eles, parecendo cansado.

— Está cansado? — Ironizei.

— Você não? Estou acordado há mais de vinte e quatro horas, e esse é o terceiro voo que peguei no dia, portanto é, estou. E acredito que você também deve estar, ou se não, vai ficar, até chegarmos em casa vai ser uma viagem de quatro horas, chegaremos lá apenas de manhã. — O mesmo fitou o seu relógio, e eu engoli a seco, ouvindo meu coração nos ouvidos.

Deixo que o choque se espalhe por minhas estranhas lentamente, e que me corroa. Fui sequestrada, perdi minha mochila de fuga, descobri que minha mãe é uma sequestradora, que tenho um pai, e que, aparentemente agora estou presa a um homem completamente desconhecido. Cruzei meus braços, e mordi minha boca, nervosamente. Eu preciso sair.

— E em casa seria aonde exatamente?

O mesmo ergueu os olhos a mim, mão no queixo, enquanto o seu olhar pairava longe sobre a janela.

— Rosemary Beach, Flórida. — Ergui uma sobrancelha, curiosa. Se obtém algo que eu sei de cor é todos os estados do país, e adotei como hobby gravar nomes de cidades também, contudo, não me lembro de Rosemary Beach no mapa da Flórida.

— E como é lá? — Ele me deu um sorriso de lado, e só agora pude notar como obtém olheiras roxas abaixo dos seus olhos. Ele está cansado.

— Quente, colorido, molhado... — Ele sorriu. — Tem praias, shoppings, restaurantes dos mais variados tipos, uma boa escola, e qualquer coisa que chame atenção das crianças da cidade. Eles estão sempre inovando, gostam de investir por lá, já que sempre tem uma criança entediada com as coisas, se é que me entende.

Não, não entendo. Em Allentown só tem um playground velho do qual eu e Bethany vendemos drogas uma vez.

— Você irá gostar de lá, eu garanto.

Muito confiante...

— Deveria tomar cuidado com o que promete, posso me decepcionar.

— Vou fazer de tudo para que isso não aconteça. Estou certo que serei bom para você, Hadley, por favor, me dê uma chance.

Fechei meus olhos por breves segundos, negando com a cabeça. Odeio promessas, porém mais do que isso, Hadley é...

— Você me chamando assim é estranho...

— E o que prefere que eu te chame? Devynn Lindstrom a estudante de dezesseis anos? Ou Kelsey Thornton de vinte e oito do clube de stripper? Tem alguma preferência? Porque seu nome é Hadley Haighet. — Abri minha boca, mas fechei-a logo em seguida, iria perguntar como ele sabe disso, mas ele bem que disse que sabe de tudo que eu fiz, tampouco não é de se admirar que ele deduziu perfeitamente por onde eu correria se a polícia invadisse; não que obtivesse muitos pontos de fuga. Mas ele me pegou desprevenida no único ponto de fuga mais rápido e eficiente, e devo dar crédito a ele, o mesmo foi inteligente, não posso negar.

Black SeaOnde histórias criam vida. Descubra agora