10. - Os Kimball.

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Decidi jantar no meu quarto aquele dia, porque estava remoendo internamente o que li na carta e, por mais que quisesse vociferar tudo a Aaron, naquele momento não fiz. Quando a noite caiu, pegar no sono foi um pouco difícil, porém depois de algumas horas quebrando minha cabeça com isso, finalmente adormeci.

Olhei-me no espelho, puxando meus fios de cabelo molhados para o lado a fim de retirar dos meus olhos. Passo a toalha sobre o meu pescoço que se encontra molhado pelo esforço no palco; ainda posso ouvir as palpitações do meu coração rápidas e latejantes. E brincar que Bethany acha que tirar a roupa é algo fácil.

Estreitei os meus olhos, ouvindo uma voz me chamar da porta do camarim.

— Ei, garota. Tem uma dança para você lá em baixo.

A voz da velha-guarda ressurge, e é Jodie que fala. Antigamente a mesma foi uma stripper com muitos anos de glória, graças a sua beleza fatal, mas como tudo, tempo chegou ao fim, e agora, juntamente a Jesse — o cafetão —, ela encaminha garotas estúpidas como eu pelo caminho da perdição. A mesma ergue o lábio carnudo, estourando uma bolha de chiclete no ar. E sua testa enrugada franze, indicando sua clara impaciência em minha direção.

Franzi o cenho em resposta, curiosa.

— Uma dança para mim? — Indaguei, encarando o relógio antigo grudado a parede acima dos espelhos, o ponteiro roda lentamente, e indica que beira às dez horas da noite. Está hora de eu ir. Geralmente eu sou uma das primeiras a entrar no palco —, por ser mais nova e menos experiente é mais fácil para o Jesse encobrir e deixar as melhores por último. Portanto, é estranho que algum cliente queira me ver a essa hora, pois assim que saí, as dançarinas principais adentraram.

Jodie me fita, um suspiro irritado escapando dos seus lábios pintados em um rosa-pink.

— Sim, foi o que eu disse. Um cliente pagou por uma dança de colo, vamos.

— Mas meu horário já acabou. — Anunciei, indicando o relógio, e a mesma rolou os olhos, estourando novamente o chiclete cor-de-rosa em sua boca. Comprimi o meu lábio, tentando não me irritar.

— Quer ganhar dinheiro ou não, garota? — Eu hesito, mas não preciso respondê-la.

Suspirei.

— Quem é o cliente?

Coloquei a toalha sobre a bancada, e girei sobre meus calcanhares, indo em sua direção.

— Ernest Nide. — Respondeu, encarando suas unhas extremamente grandes. Em algum momento, outra velha-guarda como ela, estava lhe fazendo a mesma pergunta: "Quem ganhar dinheiro ou não, garota?", e o que você não faz por uns bons trocados? Porém agora a mesma só é uma imagem distante do que muita de nós será daqui há alguns anos. Contudo espero honestamente que meu tipo de envelhecimento seja em outro lugar, porque não quero fazer stripper a minha vida inteira — quanto mais indicar garotas pelo mesmo caminho.

— Eu não o conheço. — Revelei, vendo-a dar de ombros.

— Talvez ele seja novo por aqui, pois o vi chegar agora no show principal. Mas foi até o Jesse e pediu especificamente por você, pagou em dinheiro vivo. — Jodie retrucou de volta, gesticulando com a mão. Sorriu, e inclinou o queixo em direção as araras. — Então vista o traje rosa, e esteja lá embaixo em cinco minutos, o dinheiro dele tem que valer a pena.

Tem que valer a pena.

Rolei os meus olhos quando ela se foi.

Jodie acha que isso é uma diversão para os homens, retirar a roupa, dançar para eles, seduzi-los, mas não é, é uma exploração aonde as mulheres — (em sua grande maioria) —, fazem para conseguir dinheiro fácil. Pelos mais variados motivos, elas poderiam estar fazendo outra coisa, mas nem tudo é simples, nem tudo é uma escolha, porque eu sei que a minha não é.

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