56. - Caminho cruzado.

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Se minha mãe estivesse aqui agora, me chamaria de burra.

Sim, ela diria: "Não seja estúpida, Hadley. Ele não obtém nada." E com esse pensamento, eu repliquei contra ele:

— Bem, Jason, você que leu a carta, então diga-me você. — Ele fitou a carta, em seguida a mim.

Me surpreendo com meu tom calmo, e percebo que é só a voz que se mantém assim. Observei com pressa minhas mãos tremerem, e as empurrei contra minha jaqueta bomber, fitando com imenso interesse os chucks azul-turquesa em meus pés.

— Eu até poderia... — Disse ele, e pelo canto de olho, o vi abaixando a carta. — Mas estou mais interessado em saber o que você acha.

Senti minhas mãos soarem dentro da jaqueta, e consequentemente meu celular deslizar entre os dedos.

Vamos lá, Hadley, é só o Jason e sua percepção rápida maldita. Ele está curioso, só curioso, e o que ele tem? Suspeitas e uma carta? Ah, sim, uma carta, uma carta que obtém o quê? Eu não sei, mas não acredito que tenha todas as respostas para minhas perguntas. Além disso, se ele realmente sabe o que se passa, por que se preocuparia em me questionar? Ao compasso que ele me encarava, a pergunta se respondeu: porque ele quer saber até onde você sabe.

Meu celular vibra sobre minha mão, e eu o pego, trazendo-o até o meu rosto com a mão trêmula. Sobre o visor, passei o dedo molhado, avistando um áudio da senhora Feige — ela é uma senhora de pelo menos oitenta anos, não digita, só grava áudios, e por causa disso eu trouxe comigo um fone sem fio que mantive grudado a minha orelha o jogo inteiro. Achei necessário falar com ela, depois de ontem sobre Carmel e Jason. Mas ela não me deu melhores conselheiros do qual eu poderia imaginar sozinha: negue tudo, e mantenha-se calma.

— Eu não sei nada sobre isso. — Lhe respondi, tentando parecer desinteressada. — Não li a carta, e por via, não sei porque sua mãe deixou para mim.

— Não sabe? — Replicou, ainda me olhando acusadoramente. — O que fazia no escritório da minha mãe? E como o encontrou?

Desviei o olhar do celular, e suspirei.

— O achei por acaso... E imediatamente, senti uma sensação nostálgica me embalar, e então Gary me contou que era da Nelwin, e mesmo sobre isso, já estava muito interessada para recuar.

— Interessada no quê? — Inevitavelmente, uma risada maldosa ressoou.

— Não sei no que exatamente, mas encontrei cartas suicidas em uma madeira frouxa em sua sala, é interessante, não? — Jason franziu o cenho, e não respondeu.

— E o que você exatamente estava procurando para achar isso? — Dei de ombros.

— Honestamente, nada, Jason. Eu entrei na sala, e fiquei curiosa, perambulei por ela, e sobre os pés senti uma madeira frouxa, e novamente, fiquei curiosa, mas não tive tempo de descobrir o porquê, e infelizmente, calhou de desvendar junto com você. Coincidência.

— Coincidência? — Repetiu, e eu consenti. Eu disse coincidência para não dizer burrice, foi uma imensa e completa burrice levar Jason comigo, contudo, não estava em mim, tampouco me lembro exatamente o que me levou até lá com ele em minha cola. No entanto, no fundo sei que mesmo sobre tudo, uma parte de mim acha que Jason é confiável, pelo menos sobre isso. Mas o que sei afinal? O conheço faz meses..., mas eu olho para esse garoto, sim, um garoto de dezessete anos, e me pergunto mesmo sobre o brilho maldoso em seu olhar, se ele seria capaz de me machucar. Não é uma brincadeira, não é para safar um pescoço, é assassinato, a sangue frio, ele seria capaz? Minha vida não pode está na mão de uma criança. Não pode. — Tá... E enquanto as noites mal dormidas?

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