45. - Lar, doce lar.

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O relógio tocou, me despertando, mas quem disse que eu quis me levantar? Abrir os olhos? Me mover? Sem chance, sem chance alguma. Não vou para Easton Park hoje, de forma alguma, meu sono é mais precioso, mais urgente, mais necessário. Não estou a fim de voltar aquele inferno tão cedo, porém tenho, sei disso, contudo, minha cama fofa e os edredons quentes sobre mim me impede disso. Não quero, e não vou.

Era meu plano, absolutamente, mas, por algum motivo que desconheço, Justin não pensava o mesmo. Veio me acordar quinze minutos depois do meu despertador, dizendo que me aprontasse, porque definitivamente eu iria para Easton Park, mesmo que eu garantisse que não. Mas sou convencida fácil, principalmente porque ele ameaça dizendo que se eu faltar mais um dia, será mais um trabalho a conta, porque o tio Gannor faria questão disso. Contragosto, obedeci, suspirando pesadamente ao tomar meu banho. Logo estou vendo minhas opções de uniforme de Easton Park, decidindo por fim colocar um vestido vermelho com a símbolo logo da academia, ele tem as alças mais grossas que o normal, contrastando com a blusa branca de gola que obtém por baixo, grudado ao vestido. Ele é terrível, mas estou morrendo de calor. Visto o meu uniforme engomado pelas empregadas silenciosas da mansão. Nem as escuto, mal as vejo, mas magicamente, sempre, minhas coisas aparecem no lugar.

Após isso, desço as escadas, puxando meu vestido do corpo, sentindo um calor surreal ressurgir apenas com alguns passos. Rosemary é quente, no entanto, hoje está demais.

Sentando-me rapidamente eu puxo a gola alta do vestido, além de estar me incomodando, está me fazendo suar. Será que tem alguma chance de eu conseguir entrar de top e shortinho? Justin arca uma sobrancelha imediatamente, dando-me um sorriso malicioso quando me sento. Logo Carmel se aproxima, colocando uma bandeja na minha frente, e não obtém ovos e bacons como costumo comer, e sim, torradas integrais, salada de fruta e mingau que cheira a aveia. Eu olho para Carmel, vendo a mesma sorrir reconfortante para mim, me incentivando. Nem me atrevo a retrucar, é perca de tempo.

— Vai deixar Jason controlar até o que você come agora? — Justin solta provocativo, dando uma mordida na sua maça verde quando observa minha careta em direção ao café da manhã. Acompanho o movimento, abrindo um sorriso enquanto levo meu mingau realmente de aveia, a boca. Me recuso a responder.

— Cadê os meninos? — Resmungo, pegando meu celular sobre a mesa e observando que marca quarenta e quatro graus. Agora responde porque me sinto em uma fornalha.

— Treino de lacrosse, James e Jansen, e Jason para o de futebol. — Justin responde desinteressado, e só pela forma como seus dedos batucam constantemente sobre a mesa de vidro, sei que sua perna também se mexe abaixo de nós, inquieta.

— Mmh... — Resmunguei de volta, inclinando meu queixo. — E por que você não está no treino? — Indago, olhando através da mesa absurdamente grande próxima a cozinha, essa nem é a mesa de jantar principal, e com isso, o silêncio reina, não que não esteja acostumada.

Justin solta uma risada seca, parando com os seus dedos.

— No momento, eu não faço parte do time.

Semicerro meus olhos, concordando.

Isso está estranho. Sinto no ar. Nada mudou entre nós, mas entre as paredes de sua mansão, me sinto encurralada, talvez por Carmel que está ao lado da mesa, nos olhando, mas acho que esse é o trabalho dela, apesar de me irritar até os ossos.

Eu desvio minha atenção, evitando rir disso. Não é legal rir da desgraça do Justin, porém quando lembro que Easton Park inteiro acha que tenho sífilis, não me sinto mal por ter ocasionado isso.

— Bem, e é culpa de quem?

— Sua. — Ele retruca, inclinando-se sobre a mesa. — Só sua.

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