Sabe aquela sensação de quando a sua alma saí do seu corpo e sua mente fica lá de cima, vagueando e observando tudo? Pois então, é como eu me sinto agora, completamente desconectado do meu corpo. Apenas a observei ir ao chão, enquanto Jason corria a minha frente, chamando o seu nome. Não era uma boa hora para estar paralisado, não faz o meu tipo surtar em situações como essas. Eu mantenho a calma, eu sempre mantenho a calma. Puxo o ar com força, encontrando forças em minhas pernas para que me leva até ela. Eu corro, sei que tem algo errado. O pânico de Jason devia me alertar, mas estava amortecido por dentro. Eu não perco a calma. Eu chego até ela e me abaixo, vendo as mãos de Jason tremendo sobre o seu corpo caído quando o mesmo a vira de bruços. Vejo o sangue ainda molhado em seu nariz e a boca roxeada, sem oxigênio.
— Hadley! Droga, droga, droga! Acorda! — Jason pragueja, e puxa o seu rosto e dá tapinhas, ao mesmo tempo que balança seu corpo a fim de acordá-la. Eu fito o mesmo, descendo meu olhar para baixo, franzindo o meu cenho. Ele teve aula de primeiros-socorros comigo, será que não lembra? Balançá-la não irá ajudar. Eu penso por um momento, ainda o olhando. Vejo o pânico irradiando dos seus poros.
— Isso não irá funcionar, idiota. Se acalma. — Peço entre dentes, empurrando o mesmo com força para trás, em um surto de calma e direção.
Abaixo-me sobre o seu peito, ouvindo seu coração, ele não bate. Isso me estreme, escuto sua respiração e também nada, checo os pulsos e nada. Olho para Jason de relance e começo as compressões no seu peito, e o abrimento de suas vias aéreas, ainda sobre isso, olho o idiota do meu irmão a frente, de boca aberta, sem saber o que fazer.
— Jason se mexe, vai chamar a enfermeira! Precisamos de desfibrador, ela não está respirando. — O mesmo me olha atônico, sem entender. É igual quando a mamãe morreu, ele só não reage, não consegue. — Jason! — Grito, chamando sua atenção e o mesmo pisca rápido, fitando-a, logo levantando-se em um pulo. E ele corre, rapidamente, e agradeço que o mesmo seja um bom corredor.
Ele leva dois minutos para voltar junto com a enfermeira e um desfibrador, eu contei, mas dois e era irreversível.
Depois que eu retirei minhas mãos do seu corpo ainda quente, a sequências dos fatos é um pouco distante para mim. Ainda estava me vendo, mas estava observando de cima, como se minha alma não quisesse estar a par da situação. Não gosto dessa sensação. Fiquei assim com minha mãe também, mas por um longo tempo, tanto tempo que quando a tristeza me atingiu, ela veio com força e destruiu tudo que eu era no caminho. Eu a vejo entrando na ambulância e o zumbindo da voz do diretor dizendo que eu e Jason não poderíamos ir, o que eu não retruquei. James apareceu, por algum motivo e a acompanhou, ele é maior de idade, pode sair da escola. Eu apenas observei isso, suguei o choque de Jason porque o mesmo ainda não reagia, não faço ideia do que ele sente, porém aparece apavorado.
Eu respiro com força, inerte, olhando minhas mãos, elas tremem tanto que as fecho em punho. Engulo a seco, tentando pensar, mas nada vem à mente, os pensamentos lógicos estão impedidos de entrar. Não ouço os protestos do diretor Heyes, ao menos dou um olhar para a plateia que acompanha sua saída, apenas vou para o estacionamento e adentro o meu jipe, sabendo para onde teria que ir. Não muito tempo depois, Jason também adentra o meu carro, desfocado.
— Eu vou também. — Disse ele firmemente, não me encarando nos olhos. Apenas dou um aceno rápido, sem nenhuma palavra, apenas o observo apertar o cinto de segurança enquanto ligo o carro. Vou a caminho do hospital.
Logo cheguei até ele. James já está lá e fala com o doutor que a atende, Darrell Remer, não ouço muito as explicações, mas sei que ela voltou, e está medicada e no oxigênio. Mas não espero por isso, eu a vi por um segundo, uma hora depois, já em uma maca em um quarto acompanhada por enfermeiras, vi os seus olhos se abrindo cansados, o que era um bom sinal, eu esperava, não demoramos cinco minutos, porque sei que os cinco primeiros são essenciais, mas ela não permanece acordada, por algum motivo. Isso não me anima, não era bom, o jeito que os enfermeiros e o doutor responsável se mexiam. E de repente, mais doutores chegaram e fomos impedidos de se aproximar, e a porta branca a frente se fechou, levando toda a minha esperança.
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Black Sea
FanfictionHadley Haighet passou sua vida inteira fugindo, esgueirando-se dos segredos obscuros de sua mãe, que em uma bela noite a arrastou casa a fora, dizendo que tinham que partir. Agora com quase dezessete anos, a mesma não via nada no seu futuro que não...