01. - Passado encoberto.

2.8K 92 88
                                    

Noto que o clube está cheio assim que subo no palco, iniciando minha dança juntamente a mais cinco garotas. Abaixo, aonde eles ficam sentados as mesas, está cheio de caras de meia-idade em seus ternos baratos, embebendo-se à vontade enquanto curtem o show. Eles gritam, jogam notas, e nos chama de todo tipo de palavreado que acreditam que seja excitante. Mas não é, nem de longe. Como sempre tento não pensar na repulsa que sinto quando um deles passa a mão pela minha perna, querendo subir, do qual rapidamente eu retiro, indicando o não com o dedo. Nesse strip clube, os clientes não tocam a mercadoria. Peguei a nota entre seus dedos, colocando ao corpete, logo voltei para trás, indo contra o pole-dance. De fato, nem de longe o Golden Sweetness é um clube de strip-tease de luxo, muito menos um estabelecimento do qual possa dizer que obtenha qualidade, mas acredito que nem dê para encontrar um clube desse tipo em Allentown, mas em relação a muitos outros do qual estive, sem sombra de dúvidas o Golden é o que mais chega perto de ser aceitável. Temos um segurança e um camarim, algo que considerado luxo quando se conhece o velho cafetão, o tio Jesse.

Não sei a história dele, muito menos me preocupei em saber, tudo que eu precisava era do dinheiro que ele fornecia, e só isso. Mas é eu que faço o trabalho sujo. Não que eu devesse esperar outra coisa, ou era ser stripper ou ir para o sistema de adoção com a morte prematura da minha mãe, e bem, de uma coisa na minha vida eu obtenho certeza: eu não vou para o sistema de forma alguma. Já era ruim suficiente pulando de galho em galho com minha mãe, então nem consigo imaginar o horror que seria ir para a adoção. Já estou naquela idade, e na melhor das hipóteses, eu seria mandada para um casal de acolhimento até que completasse os terríveis dezoito, e fosse jogada no mundo novamente. Estou bem assim, fazendo minhas próprias escolhas sem a autoridade em meu encalço.

Rodei sobre o pole-dance, ficando de cabeça para baixo, entrelaçando minhas pernas acima. A música ecoava suficiente alto nos alto-falantes, em um ritmo lento e sensual, conduzindo todas nós a seduzir aqueles homens, casados ou não, são todos iguais e estão aqui pelo mesmo motivo: satisfação pessoal. Somos um produto e estamos a vitrine a amostra.

De soslaio observei Hillary adentrar novamente o clube, após sua pausa para fumar, ofegante, olhando para todos os lados. A mesma arregalou os olhos, e eu sorri para a plateia, encontrando Jesse ao fundo, olhando-a de cenho franzido. Logo uma stripper também adentrou o local, da mesma forma, correndo até o Jesse. A música não parou, os clientes não se mexeram, mas meus olhos acompanharam uma confusão que se formava. Um som alto foi ouvido, algo como pneus derrapando, é difícil ouvir corretamente, contudo, um gritou ecoou, alertando todo mundo:

— É a polícia! CORREM! — Uma stripper gritou, e imediatamente as meninas pararam, estáticas. Jesse pediu calma da onde estava, e os clientes olharam para trás, mas foi uma questão de segundos para que polícias invadissem o recinto, com armas em mãos.

Ah não, merda! Se a polícia me pegar... Neguei com cabeça, vendo-os ir contra Jesse.

— Kelsey, corre! — Uma das meninas no palco diz a mim, e eu concordo, recuando e começando a correr. Um ano e meio e eu ainda não havia me acostumado com essa minha identidade falsa que adotei para o stripper clube, mas é assim que funciona, a cada cinco meses eu e minha mãe estávamos em uma cidade diferente, com um novo nome e uma nova vida, me despistar de pequenos detalhes é o que me mantém mentalmente sã.

De repente, o clube vira uma bagunça, todo mundo correndo para lá e para cá, garotas menores não querendo ir presas, homens casados não querendo ser descobertos, e garotas como eu que não querem ir para o sistema. Subi as escadas, invadindo o camarim, pegando meu agasalho e procurando por minha mochila, mas não consigo a encontrar em nenhum lugar, contudo o formigueiro que se forma ao meu redor com as meninas fazendo o mesmo, torna-se algo impossível. Mas preciso achá-la, tem tudo lá.

Black SeaOnde histórias criam vida. Descubra agora