02. - Você tem a mim agora.

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— Me escute! Isso é um completo engano! Pegou a pessoa errada, eu não sou ninguém!

— Não, não é, você viu as provas, é a sua mãe, e é real. Seu nome é Hadley Haighet. Seu pai é Blade Haighet e sua mãe sequestrou você há doze anos atrás sem nenhuma explicação cabível. Eu não tenho dúvidas quanto a isso. — Virei meu rosto contra a janela, apertando os papéis em minhas mãos com força. Uma risada amarga escapa da minha garganta, cruelmente.

Eu vejo os resultados, mas não acredito neles. Eu sei que é minha mãe na foto, mas não consigo acreditar no que entona da boca desse desconhecido. Ela não pode ter me sequestrado, não pode ter me sujeito a uma vida de merda por qualquer motivo egoísta que seja. Ela não pode. Como eu posso acreditar nisso?

Essa é a questão, não posso e não vou. Minha mãe pode ter sido omissa minha vida inteira, mas lembro-me perfeitamente do que ela disse quando perguntei aonde estava meu pai —, havíamos acabado de nos mudar de cidade e eu estava estupidamente chateado por isso, e enquanto tirávamos nossas poucas tralhas de algumas caixas, na minha cabeça eu pensava que se eu tivesse um pai não precisaria estar fazendo isso
—, mas a resposta que a mesma deu, me fez calar diante da perspectiva. Ela disse que estávamos melhor sem ele. Ele não liga para nós, para nenhuma de nós! Esqueça isso! Ela esbravejava rudemente, sempre com raiva da pergunta. Mas, naquela mesma noite, depois que deitei para dormir ela me deu uma coisa, um pingente em forma de mapa, disse que era do meu pai, e que se isso alimentasse minha ideia infantil que ter um pai mudaria minha vida de merda, era para eu ficar com ele. E eu fiquei. Era a única coisa que eu tinha dele, uma coisa, insignificante talvez, e me agarrei isso, porque nunca tive nenhum nome, nenhuma informação, apenas a droga de um pingente do qual nem sei se é dele mesmo. Não sei porque me apego isso agora. Não sei se nessa altura minha mãe é confiável, não sei se esse homem é.

Até algumas horas atrás meu pai era só o que eu imaginava, um homem desconhecido que desgraçou completamente com a minha mãe para que ela fosse tão instável. Lembro-me de tentar imaginar como ele era, se obtinha meus olhos, meu sorriso, ou o tom do meu cabelo, ficava tentando imaginar se ele realmente não me queria — por isso, nunca o virá. Tentava, inutilmente, colocar em minha cabeça, que talvez, talvez, minha mãe estivesse errada, o que absolutamente não é o caso. Agora eu vejo o seu rosto, cabelos negros, olhos azuis, um sorriso presunçoso. Não o conheço, requer reconheço, é só um homem estranho a margem do que poderia ter sido a minha vida.

Mas se tem algo que eu sei com certeza é que minha mãe não me sequestrou. Isso não pode, à medida que um sequestro só é validado se isso ocorrer:

— Pelo o que saiba, só é sequestro quando um dos pais dá parte na polícia. — Lati raivosa, vendo um olhar tortuoso do mesmo recair sobre mim. Não gosto desse olhar. — A não ser é claro que ele tenha o feito e minha mãe seja uma mestra do crime que nunca conseguiu ser descoberta, não é? Essa é a explicação cabível, certo? — Ele não responde. Firmei meu olhar sobre ele, suspirando. — Ele não deu, não foi? Ela não mentiu sobre isso, pelo menos não sobre isso.

— Ele não podia. — Respondeu rapidamente.

— Como assim não podia? Não podia achar medidas de encontrar sua filha?

Aaron bufou.

— Entenda uma coisa, Hadley: se Blade denunciasse sua mãe, ela seria presa, e por consequência, você nunca mais a veria.

Passei a língua entre os lábios, soltando uma risada áspera. Essa parte eu entendi, o que não me desce é isso:

— Ótimo, mas quanto a detetives particulares? Ele não mandou nenhum atrás de nós? Não havia nenhuma outra possibilidade dele me encontrar? Ou só está tentando me convencer de alguma?

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