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Fui até a varanda, na mesa tinha um jantar a luz de velas, mas com as velas apagadas ainda, e estava toda iluminada por pisca pisca. Assim que olhei pra baixo, gargalhei. Estava ele na frente do microfone, Arrasca com um pandeiro na mão, Bruno com um tantan e Everton no cavaco, mais duas caixas de som enorme uma de cada lado.

- Vai vai vai, ela apareceu já - ouvi o Bruno falar, longe do microfone.

- Calma filho, o menino vai falar primeiro - Everton disse.

- É... boa noite. Primeiramente queria pedir desculpa a rapaziada do prédio pelo barulho, mas eu preciso fazer um pagode pra minha amada. Na real, não sei se você vai ficar mais brava ainda depois disso, mas não custa tentar.

- Pode? - Arrasca perguntou.

- Pode, vai. Um dois, um dois tres e - eles começaram a tocar o começo de Recado Para a Minha Amada.

- Lua vaaai, iluminar os pensamentos dela, fala pra ela que sem ela eu não vivo, viver sem ela é meu pior castigo - ele começou a cantar e eu gargalhei, o que esses garotos estão fazendo, cara? - Vai dizer, que se ela for eu vou sentir saudade, dos velhos tempos em que a felicidade, reinava em nossos pensamentos luaaaa. - as pessoas começaram a sair na varanda e quanto mais eles cantavam, mais eu ria. Depois do refrão, eles emendaram com Baixa Essa Guarda. Gabriel cantava, enquanto Rodrigo fazia a segunda voz. Assim como na primeira, quando chegou o refrão, eles mudaram de novo. Conforme uma música começava, as cores do pisca pisca mudava, na primeira estava branca, na segunda ficou verde, agora estava rosa e eles começaram a cantar O que é o Amor, do Arlindo Cruz, confesso que apesar de rir, estava achando uma graça ele fazer tudo aquilo.

- Melhor você ficar só no futebol, ein meu parceiro - um cara do andar debaixo gritou, eu coloquei a mão na boca e ri.

- Isso, fica só jogando no Mengão mesmo que ta ótimo - uma voz feminina entrou na onda. Ele riu mas continuou cantando como se nada tivesse acontecendo, até porque, agora, já tinha um belo corinho do pessoal do prédio, cantando junto e fazendo palminha ajudando na batucada.

- Joga água nele, Iza - a vizinha do andar de baixo disse assim que eles terminaram a música, eu gargalhei.

- Que isso Dona Lurdes, me ajuda, pô - Gabriel disse rindo.

- Pra quem ta na dúvida, Izabela é aquela ali da varanda azul, viu gente? - Rodrigo disse e eu gargalhei, filho da puta. Pra combinar com a cor das luzes, eles começaram a cantar Casa Azul do Ferrugem, e eu, essa altura do campeonato, estava bem acompanhando, cantando, batendo palma e até arriscando umas sambadinhas. Eles emendaram com Buquê de Flores do Thiaguinho e aí que eu fui a loucura mesmo, enquanto a varanda ficava piscando com todas as cores agora.

- Pra infelicidades de muitos, e pra felicidade de poucos, encerramos por aqui, viu? - Gabriel disse e os meninos riram, eu ri juntinho, moleque cara de pau. - O importante é saber se minha amada gostou, porque foi total dedicado a ela. Eu sei que é pouco perto de tudo o que você merece, mas foi uma forma de demonstrar através de uma das coisas que você mais gosta, tudo o que sinto por você. Tudo não né, mas uma pequena parte. Amo você, minha preta. - Gabriel, eu posso ficar brava com você pelo menos por um dia? Esse homem é impossível, cara.

- Depois dessa eu casava, ein. - uma voz feminina falou, alguns andares abaixo.

- Já casaram, garota - Dona Lourdes disse.

- Ah, sabia não, foi mal.

- Mas to pensando em casar de novo - respondi e ouvi um pessoal comemorar, gente, juro, amo meu Rio de Janeiro e o fato de que qualquer coisa vira uma bagunça coletiva. Ri, vi que o Gabriel estava se despedindo dos meninos e entrei. Assim que cheguei na sala, vi o Batista saindo do quarto.

Talismã || Gabriel Barbosa.Onde histórias criam vida. Descubra agora