Capítulo 47

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Josh encontrou Emmy sentada no balanço de madeira em seu quintal, ela estava cabisbaixa com o rosto encostado na corda que se prendia a madeira. Conforme ele se aproximava, ela diz
com os olhos fechados:
- Eu sei... eu sei! Foi uma ceninha desnecessária, e já estou arrependida de ter feito. Mas o que posso fazer?
- Emmy ... o que houve? Por que você se sente assim? - Josh segurava no pequeno rosto da garota que dizia isso, e enquanto a olhava ali encolhida, seu coração se encheu de compaixão.
- Eu só não esperava que isso fosse acontecer, sabe? Não agora. Talvez nunca. Sempre quis minha mãe feliz, mas achei que seríamos só nós duas,como as melhores amigas que somos, sempre aqui uma pela outra... mas agora outra pessoa vai entrar de vez em nossas vidas, nossa casa... só não me sinto confortável com isso.
- Mas deveria Emmy. Eu sei que você não é uma garota egoísta. olhe, veja bem... um dia você não vai mais morar aqui. E talvez esse dia não esteja distante, e logo estaremos casados, morando em nossa própria casa, aqui ou em outra cidade. E sua mãe ficaria tão feliz por você, e ela ficaria aqui sozinha. Mas agora ela vai ter meu tio e meu tio a ela. Ele sofreu tanto desde que ficou viúvo, nunca o vi tão feliz como agora!
- Ah, você só diz essas coisas por ser seu tio... - disse ela emburrada.
Josh achava a reação da namorada um pouco engraçada e sabia que deveria ter paciência.
- Emmy...
- Tudo bem, tudo bem! Serei sensata. O quanto der pelo menos... não espere muito de mim agora, ok?
Ele sabia que Emmy não tinha boas lembranças como referência masculina dentro de sua casa, de sua vida. Ele tinha fé que com o tempo as coisas iriam se acertar naturalmente.
- Bom, garotinha, só não esqueça que meu tio é seu chefe, ele pode acabar se irritando com você - Josh disse isso rindo, fazendo uma brincadeira, obviamente, já que a loja só estava aberta graças a Deus e a Emmy.
- Ha ha ha. Engraçado. E não me chame de garotinha mais! Ei, olha só! Seu tio já foi embora. Vou subir para o meu quarto e empacotar alguns pedidos da loja, preciso deixar no correio amanhã bem cedo.
- Claro. Amanhã eu passo aqui para me despedir de você
- Ahhhh, não! Não queria nem ouvir isso. Ainda estava agindo como se você não tivesse que voltar
- Você sabe que eu ficaria
- Eu quero que fique, mas falta pouco tempo para isso acontecer de vez.
Ela o beijou delicadamente e então subiu para seu quarto. Não viu a mãe pelo resto da noite, e odiava essa sensação de não saber se as coisas estavam bem entre elas ou não. Sua mãe estava dando um tempo a ela, ou estava chateada? Emmy mal conseguia se concentrar em seu trabalho manual, as pequenas ferramentas acabaram machucando suas mãos e ela derrubou um vidro todo de tinta no tapete. Entendeu que era melhor parar e dormir um pouco.
Com uma nova manhã, viria um novo dia. Ela sabe que o novo sempre vem com esperança, e era nisso que pensava enquanto dormia, arrependia pelo seu péssimo comportamento com aqueles que sempre a amaram tanto.
...
As semanas seguintes foram tranquilas, naquele final de semana Josh não poderia voltar para Jersey, tinha um ensaio fotográfico de casamento para fazer, aos poucos ele estava começando a trabalhar com fotografia, o que antes era só um hobby, havia virado um trabalho, e sempre que aparecia uma oportunidade ele ia.
Emmy estava preparada para passar mais uma noite vendo série quando recebe uma chamada do namorado, e quase se assusta com o entusiasmo de Josh do outro lado da linha.
- EMMY, EU CONSEGUI, NÓS CONSEGUIMOS! - a voz dele era pura empolgação, ela até afastou o celular do ouvido, era capaz de ouvi-lo a alguns centímetros do aparelho.
- O que, meu amor? Me contaaaaa! - Ela estava ansiosa pra saber o que havia deixado Josh tão empolgado.
- O CONCURSO, EM.. - antes que ele pudesse continuar, ela interrompe:
- SÉRIO? NÃO ACREDITO, MEU DEUS, QUE MARAVILHOSO! - ela foi invadida por uma gigantesca felicidade.
- Sim, aquela foto do girassol, não é que você estava certa, eu nunca imaginaria, hoje eu recebi um email com a notícia, e assim que terminei as fotos no casamento, te liguei pra contar - nesse momento a voz dele já tinha assumido seu tom calmo e doce de sempre.
- Parabéns, meu amor, isso é incrível, de verdade!
-  É graças a você, muito obrigada... eu quero dar o prêmio em dinheiro pra você, Em, a ideia foi sua.
- Para, pode parar, é o seu trabalho, foi ele que o fez ganhar, esse prêmio é todo seu, mal posso esperar para te ver com a nova máquina, seu trabalho vai ficar ainda mais incrível.
- No próximo final de semana estarei aí, como estão as coisas na livraria?
- Estão ótimas, as vendas aumentaram bastante, mas seu tio quase não para mais lá, ele passa bastante tempo com minha mãe, bom.. sempre que ela não está de plantão...
- Ahh, Em, isso era de se esperar, a livraria é importante pra ele, sabe.. mas não é o que ele sonha passar o resto da vida fazendo - ele dá uma pausa e prossegue - logo logo a livraria pode ganhar outro dono...
- Como assim, Josh? Ele vai vender a livraria? Você não está falando sério! - Emmy estava imóvel aguardando a resposta de Josh.
- Calma, Em, a livraria não vai ser vendida.. Eu conversei com ele esses dias, parece que vai finalmente começar a trabalhar como marceneiro, vai abrir o próprio espaço, ele já tem até encomendas de móveis, empresas estão requisitando o serviço dele também. Meu tio leva bastante jeito com isso, agora que ele seguiu em frente com sua mãe, não precisa ficar preso a livraria.
- Nossa, eu estou realmente surpresa, mas eu entendo...
- Mas não comente que eu te disse isso, tá bom? Ele ainda vai conversar com você... agora tenho que ir, estou morrendo de sdds!
- Eu também estou! Amo você.
- Amo você também - dito isso desligou.
...
Já havia se passado alguns dias desde a última conversa que Emmy teve com Josh. Ela estava muito animada desde que recebeu a notícia que seu namorado ganhou aquele concurso! Era quase bom demais para ser verdade, mas Josh sempre tivera tanta fé e dedicação, ela não poderia esperar algo diferente.
No momento ela tentava conciliar as encomendas da loja, e os preparativos do casamento da mãe, já que naquela noite depois da "grande cena", como Mary costumava chamar, agora, que já tinha virado uma piada interna entre elas, mãe e filha fizeram as pazes. Na verdade, em momento algum Mary se chateou ou se magoou, sabia que era uma notícia muito inesperada para a filha, estavam se habituando a uma vida onde acreditavam que seriam apenas as duas.
- Mas mãe... eu vou ter de sair de casa! Como posso atrapalhar vocês? Recém casados não gostam de projetos de adultos perambulando pela casa ou de cheiro de tinta artesanal durante a madrugada...
- Emmy! Pelo amor de Deus, filha, de onde tirou essas ideias absurdas? Amamos você. Sim, Henry também te ama como uma filha. Somos uma família... sua casa é aqui, seu lugar é aqui.
Emmy se lembrava desse diálogo e da ternura com que a mãe disse essas palavras, também se recordou do dia seguinte após o anúncio do noivado, seu futuro padrasto ficou muito nervoso ao vê-la na loja e não sabia como abordar o assunto com a funcionária que seria logo sua quase filha.
- Sr.Mclean, me perdoe por ontem... peço perdão pois eu tenho essa mania irremediável de agir impulsivamente, sabe? Bom, enfim... espero que possamos seguir em frente. Pela mamãe, ok?
- Emmy, não coloque as coisas nesse tom por favor - dito isso, ele segurou nas mãos de Emmy com um carinho fraternal - espero de coração que sejamos uma família. Eu imaginei que você já estivesse preparada para isso, pois sei que você me via sempre com sua mãe, você realmente pensou que eu só estava passando o tempo, e nada mais? Se eu comecei algo com sua mãe, sempre foi imaginando que um dia queria que nos casássemos. Se soubéssemos que você não estava preparada, teríamos esperado. Aliás, podemos esperar, se assim for melhor.
E então Emmy se sentiu a pior das egoístas. Henry disse isso com um sorriso frágil no rosto.
- Eu jamais faria isso! Eu amo a minha mãe, e sei que irei amar a família que seremos.
Os dois se olharam e sorriram timidamente. Emmy pediu licença e foi buscar o espanador para limpar algumas prateleiras. Sentiu um misto de emoções ao imaginar que tudo iria mudar daqui pra frente.
Ela pensou em como as coisas podem se tornar tão diferentes de uma hora para outra. Quando estava no carro com sua mãe, passando pela estrada empoeirada em direção a Jersey, não passou nem por um segundo em sua mente, nem mesmo uma vaga ideia de que tantas coisas teriam início e outras fim. Mas talvez essa fosse a beleza de tudo. 
Notou que não estava limpando nada, então tratou logo de terminar o que começou, e foi checar alguns e-mails e ficou surpreendida com a quantidade de novos pedidos na loja online.

Amor em JerseyOnde histórias criam vida. Descubra agora