A viagem

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Quando Joalin foi embora, senti toda tristeza voltar a se apossar de mim. Mas dessa vez, não deixei que ela carregasse de volta meu corpo cansado para a cama. No lugar disso, escolhi assistir Gilmore Girls pela milésima vez, no conforto do meu sofá. Minha mãe sempre se queixava do fato de eu gostar de assistir filmes ou séries repetidas, mas o que eu podia fazer? Pelo menos eu sabia que com eles não iria me decepcionar!

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Priscila] _ Any?

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Any] _ Aqui, mãe! _ gritei da sala, para que minha mãe pudesse vir me encontrar.

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Priscila] _ Ah... você está melhor? _ perguntou, enquanto me beijava o topo da cabeça.

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Any] _ Acho que sim... _ falei meio sem jeito_ mas não quero ir pra aula amanhã...

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Priscila] _ Tudo bem... _ disse ela, com um sorriso fraco _ você sempre foi responsável demais... as vezes parece mais velha do que eu... sei que se diz que não quer ir, é porque realmente não consegue... Mas tem outra coisa que preciso falar com você... Mas não sei por onde começar...

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Any] _ Pode falar, mãe. _ falei, genuinamente curiosa, e já criando em minha imaginação fértil, mil e uma teorias do que ela poderia querer falar.

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Priscila] _ É sobre o processo... Descobrimos uma nova testemunha, e ela pode ser exatamente o que eu estava precisando para conseguir convencer o juiz a nosso favor...

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Any] _ MAs essa é uma notícia maravilhosa, mãe! Você merece! Tem trabalhado tanto em cima desse caso!

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Priscila] _ Sim, filha... o problema é que essa testemunha mora na outra extremidade do país... E não decidiu se vai ou não depor a nosso favor... Eu preciso ir até lá, e convencê-la a vir... Mas eu não quero deixar você sozinha nesse momento... Mesmo sendo essa a chave do meu caso, e  mesmo sabendo que se não for, todos esses meses de trabalho irão por água abaixo... você precisa de mim... Pode ser que consigamos de outra forma! Vai me surgir alguma ideia, eu sei que vai!

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Any] _ Mãe... _ falei pesarosa_ eu, mais do que ninguém, sei o quão duro você trabalha e o quão dedicada é. Eu não me perdoaria se você tivesse que jogar fora tanto esforço por causa de mim. E eu sei que você o faria sem pensar duas vezes, e me orgulho muito de você por isso! Mas não quero! Quero que você vá! Quero que vença esse caso, por você, e por sua cliente, que realmente merece essa vitória! Eu vou ficar bem! Não vai ser a primeira vez que fico sozinha. _falei, fingindo a maior convicção que conseguia naquele momento, apesar de não me sentir minimamente contente por ter que deixá-la se afastar de mim justo no período em que mais precisava dela.

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Priscila] _ Não! Eu não quero você aqui sozinha... De maneira alguma! Eu fui até a casa de Joalin, porque sabia que seria exatamente essa sua resposta! Você sempre foi generosa demais para que eu pudesse esperar qualquer coisa diferente de você... _ falou olhando em meus olhos, e segurando meu braço com muito mais força do que seria necessário. _ Foi Bailey quem me atendeu, e, como Joalin tinha saído para mostrar a cidade a sua nova amiga, conversei com ele mesmo! Expliquei que eu gostaria que você ficasse na casa deles pelas próximas semanas... Fique tranquila que eu não dei qualquer detalhe sobre o motivo pelo qual queria que você ficasse lá, mas ele ficou tão feliz, que, de certa forma, eu acho que vai ser mesmo bom pra você... ficar entre seus amigos nesse momento... O que você me diz?

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Eu precisei pensar. Minha mãe julgou que minha cara de espanto se dava pelo fato de que ela poderia ter revelado qualquer detalhe de minha vida a meu amigo, mas na realidade, eu só fiquei mesmo arrasada ao ouvir que ela pretendia passar mais do que uma semana fora. Nós nunca passamos tanto tempo separadas, e naquele momento, aquilo era tudo que eu não precisava que acontecesse. Mesmo assim, tudo que falei foi:

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Any] _ Você tem razão... talvez seja mesmo bom pra mim...

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Ela ficou olhando em meus olhos, tentando encontrar a verdade no fundo deles, mas jamais a encontraria. Porque a verdade não morava ali. A verdade é que eu não passava daquilo: eu era a garota que cedia sempre, porque não queria ver os outros sofrerem. Mesmo que isso significasse que a dor viesse pra mim... Então, enquanto eu a abraçava, como para certificar a ela que tudo ficaria bem, ela me explicou que eu deveria arrumar minhas coisas, pois ela iria imediatamente para o aeroporto e faria quantas escalas fossem necessária para chegar o quanto antes ao seu destino. Quanto a mim, era imprescindível que já impusesse desde hoje, minha presença aos meus amigos, que eram amáveis demais para se recusarem a me receber!

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Um par de horas depois, minha mãe me deixou na porta de Bailey, e me abraçou forte, antes de pisar fundo no acelerador e gritar que me amava muito, enquanto seu carro ia sumindo na escuridão que nos abraçava. Para minha surpresa, Bailey estava realmente feliz em me ver! Ele carregou animadamente  minha mochila para o quarto de hóspedes, e pediu uma pizza de calabresa, para comermos enquanto esperávamos que Joalin e Sabina voltassem para casa. Era reconfortante ver que ele continuava exatamente o mesmo Bailey de antes. Só por um momento, eu desejei ser a mesma de antes também! Mas eu não era! Não mais! Nunca mais!

A barraca do beijo Onde histórias criam vida. Descubra agora