• Interrogatório •

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O dia passou rápido conforme eu desejava. Fiquei horas e horas em minha sala sem sair para socializar ou resolver assuntos da empresa.

Mas não é porque eu queria, e sim porque Kiara me deu uma lista de afazeres para os preparativos da outra festa. Como antes, todos os funcionários se dedicavam para fazerem seu melhor nesse evento.

Acho que nós estávamos todos empolgados por nos juntar-mos com o pessoal do outro prédio. Imaginava que quase ninguém teve a chance de conhecer a segunda L.J Kim's.

A noite caiu quase tão rápido quanto a correria do pessoal lá fora, minha testa suava de tanto que eu pensava. Não tirei Jin da cabeça o restante do dia, nem consegui me concentrar direito no trabalho.

— Aigoo... para Ae-Cha, você precisa lavar seu rosto e esquecer que ele existe pelo menos um pouco. — Dei leve batidas em minhas bochechas. Peguei minha bolsa de maquiagem e fui ao banheiro do meu andar.

Parei em frente ao espelho, olhando meu reflexo cansado e obstruido pela falta de lógica. Lavei meu rosto com água gelada e suspirei ao passar um lenço para tirar minha maquiagem.

Limpando minha pele, eu reproduzi outra maquiagem leve, vendo que agora eu estava muito mais agradável que antes. A porta do banheiro se abriu. Me ajeitei rapidamente com receio de quem entrasse ali.

Sung me surpreendeu ao sorrir para mim quando atravessou a porta. Mas aquele sorriso demonstrava tristeza no fundo, meu coração apertou ao lembrar de seu casamento com Jin.

— Boa noite, Sung. — Fiz um pequena reverência. Ela sem dizer nada, me acompanhou. Se aproximou de mim e colocou sua bolsa de marca sobre a pia de mármore do banheiro.

Suspirando fundo, ela se virou para me analisar novamente. Aquele gesto, aquele silêncio me deixava nervosa de um jeito em que eu não pude me confortar.

— Tá tudo bem? Você parece triste.

— Não. Eu tô ótima, querida... — Ergueu a cabeça com um sorriso mais aberto, seu peito empinado para frente de forma confiante — Está ocupada agora? Eu queria conversar com você, te levar para jantar.

— Eu tenho que ajudar na organização da festa das novas coleções, mas...
— Olhei o relógio em meu pulso. Um relógio simples decorado com pulseiras rose gold. — Acho que eu tenho tempo de jantar, estou faminta.

Nós duas demos risada.

— Que bom, venha que eu conheço um bom restaurante aqui do lado. — Sung pegou sua bolsa para sairmos do banheiro. Pedi a ela que guardasse minha bolsa de maquiagem junto com a sua e então eu a acompanhei até o lado de fora da empresa.

Visto que sua pressa era grande, eu corria para alcança-la. As ruas estavam vazias como eu temia. Logo chegamos em frente a um restaurante de comida japonesa.

Um homem veio nos receber na entrada, sung pediu uma mesa para duas pessoas e ele nos guiou até uma delas. Nos sentamos em um canto reservado, se bem que o ambiente era ocupado apenas por quatro ou cinco casais.

Sung estendeu sua bolsa no braço da cadeira de madeira, apoiando-se na mesa para observar melhor o restaurante. Ela não olhou para mim uma só vez até o garçom nos atender.

Estava completamente perdida, sem saber o que fazer ou falar diante de tanto mistério. Sei quando alguém me esconde algo, e Sung não parecia nada bem, mas perguntar não adiantaria em nada.

Fizemos nossos pedidos. Por sorte esse restaurante não era tão caro quanto ao que Jin me levou há um tempo atrás, podia pedir qualquer coisa. Porém, eu escolhi um Temaki de salmão e um Yakisoba de frango pequeno.

Sung pediu apenas camarão frito e uma garrafa de Soju. Com seu copo cheio após o garçom trazer sua bebida, ela entornou tudo em um gole, grunhindo quando a bebida desceu queimando em sua garganta.

— Sung... — Engoli em seco quando ela me interrompeu. Oh mania que as pessoas tem de ficar me interrompendo, Aish.

— Me diga, querida, como vai seu trabalho na L.J Kim's? — Colocou mais uma dose de soju em seu copo, ainda sem manter contato visual.

— Bem além do provável. Por que a pergunta?

— Nada demais, estou curiosa sobre você. Jin parece se interessar por uma menina como você e eu não acho um problema... gosto de um cara também, isso não o impede de gostar de você. — Ela sorriu soprado, sentindo seu bafo de soju a metros de distância.

Definitivamente ela estava estranha.

— Me diga mais sobre você, eu faço questão de saber como é que você chegou até Seoul. — Levou outra dose garganta a baixo.

"Rico ama beber, não sei como aguentam"

Achei estranho o jeito como ela se interessou por mim de repente, sabia que não era somente por causa de Jin e nosso relacionamento anormal. Mas eu não podia negar em falar sobre mim para ela, Sung é uma pessoa boa, confio nela assim como em Sook.

— Eu morava em Osaka no Japão, minha mãe é americana e meu pai é japonês. — Parei um pouco para respirar — Vinhemos pra cá por causa do emprego que meus pais arranjaram, eles tem um restaurante coreano perto de casa.

— Que legal, me conte... Sua família tem uma renda boa? — Perguntou ela assim que o garçom nos serviu. Semicerrei os olhos ao observar bem a feição de Sung.

Olhos arquivado, as mãos tremendo pouco, testa levemente suada. Tem algo errado aqui, estou começando a achar que estou num interrogatório.

— Só o que tenho a dizer é que meus pais não gostam que falamos em nossa renda ou qualquer tipo de coisa que envolve dinheiro.

Respondi de forma fria, apenas começando a comer antes que ela perguntasse mais alguma coisa. Percebi o jeito em que ela ficou com a minha resposta.

Não foi isso que ela esperava, só não entendo o porque de tudo isso, o porque de tanta pergunta. Me aliviei quando ela também parou com seu interrogatório e aproveitou seu camarão.

Ela tinha muito mais a perguntar, eu sei que tinha. Mais tarde eu voltei para a empresa, quase não tinha ninguém e para piorar não terminei a lista de afazeres que Kiara me deu.

Pelo visto não voltarei para casa tão cedo quanto eu pensava. Só de imaginar que Jin e Sook haviam ido embora, que agora são 22:00 da noite e que nenhum ônibus vai passar por aqui essa hora me dava pavor e desânimo.

Peguei meu celular quando atravessei ao redor da minha mesa para sentar em minha cadeira. Digitando o número do meu pai que em poucos segundos de espera me atendeu.

— Ae-Cha, filha, estou trabalhando agora aconteceu alguma coisa? — Perguntou ele com a voz ofegante. De fundo eu podia escutar a multidão que estava no restaurante e a panela no fogo, piando.

— Desculpa te atrapalhar, pai, eu só liguei pra avisar que talvez eu dormirei na empresa hoje. — Olhei para minha sala, pelo menos tinha um mini sofá ali. Deve caber se eu me encolher um pouquinho — Ainda não terminei o trabalho, não se preocupem comigo.

— Tudo bem, querida, vou avisar sua mãe. Tome cuidado e se alimente bem.
— Eu desliguei o telefone, bufando de forma cansativa.

— E agora? Por onde eu começo?
— Joguei a cabeça para trás e virei a cadeira para olhar a noite linda da minha janela.

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𝕸𝖞 𝖇𝖔𝖘𝖘 °𝕂𝕀𝕄 𝕊𝔼𝕆𝕂𝕁𝕀ℕ°  [Terminada]Onde histórias criam vida. Descubra agora