• Terceira Chance •

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— Pegou pesado com ele, Cha. — Yun observava Carlos de longe. Seus olhos semicerrados tentando enxergar melhor de onde estávamos. Carlos passou por nós e como mandado, apenas passou reto como se não nos conhecia.

— Foi o mais leve que consegui pegar. — Bati a porta do armário abruptamente — Eu já dei uma segunda chance a ele, Yun... não posso me dar ao luxo de dar outra. Ele quase abusou de mim se não fosse pelo Jin.

Só de pensar na noite passada eu me sentia mal. Gostava muito de Carlos, ele parecia ser uma boa pessoa, mas tenho meus limites e ele ultrapassou todos eles.

Tive que cuidar do Yun e do Minho sozinha, sorte a minha que eu tinha o Jin para me ajudar a carrega-los para o quarto se não eu estava ferrada. Os garotos acordaram com uma ressaca tremenda e quase que Yun não vinha a faculdade hoje.

— Somos humanos, Ae-cha. Todos nós erramos e não é só uma vez. — Onda caminhou conosco até as salas, abraçada  com Yun.

— Escuta amiga. Eu sei que o que ele fez não é certo, nem mesmo eu iria gostar de ser tocada assim. — Sook começou a se pronunciar, envolvendo seu braço por cima do meu ombro — Mas a questão é que você precisa entender o lado dele... cara, você é uma puta de uma gostosa garota, me diz qual é o bêbado que não sentiria atração por você?

— Sem contar que ele estava fora de si, com o efeito da bebida nós fazemos coisas horríveis. — Yun, Onda e Sook tentavam limpar a barra do amigo.

Observei Carlos entrar no laboratório de medicina, o boné cobrindo metade de seu rosto vermelho e a cabeça levemente cabisbaixa. Ele estava triste e eu também.

— Quer uma dica? — Onda empurrou meu ombro de leve, todos paramos no meio do corredor — Você já é uma mulher adulta, então aja como uma.... vai lá e bota pra ferver.

— Fighting!! — Eles fizeram para mim antes de se afastarem e irem para suas salas.

— Me espera na saída, vamos juntas pra empresa. — Sook sussurrou de longe, fazendo com que eu concordasse.

Eu finalmente entrei na sala depois de uma breve reflexão inusitada. Quase todos os lugares estavam cheios em meio aquelas mesas em grupo. Só havia um. Ao lado dele... ao lado de Carlos.

Sabia que de fato o destino tentaria de tudo para me fazer falar com ele. Maldito destino, por que exitira? Só para me causar ainda mais dores, imagino.

Com uma bufada lenta, eu me sentei ao seu lado na última mesa. Carlos inesperadamente se afastou um pouco, um gesto que eu não esperava e que me fez olha-lo rapidamente.

— Bom dia pessoal. — O professor entrou na sala.

Os alunos responderam com outro Bom dia. Sem tirar os olhos de Carlos, seu olhar também se encontrou ao meu e ficamos um bom tempo naquela troca de olhares profunda.

— O trabalho que me entregaram foi um sucesso. Espero que continuem assim até o final do ano. — O velhote deu risada, fazendo a sala rir junto
— Como podem ver, vocês tem alguns objetos na frente de vocês... isso se chama microscópio e para acompanhar temos mais alguns recipientes que usaremos para uma pesquisa mais aprofundada sobre as bactérias.

Só prestei atenção nessa parte, dai em diante não conseguia parar de encarar cada gesto de Carlos. Aquilo estava me irritando, quem deveria falar primeiro era ele, não eu.

Calma Ae-Cha, você é uma adulta responsável... aja como uma.

Suspirei fundo novamente.

— Carlos....

— Sim?! — Ele rapidamente se adiantou, quase pulando da cadeira.

Fechei os olhos, pensando nas palavras que diria a ele sem que ficasse artificial demais para nós dois.

— Não vou dizer que peguei pesado com você... tive meus motivos para te ameaçar e te afastar de mim e dos meus amigos, sabe disso não é?

Me mantive calma, a voz mansa e deplorável.

— Sim e você está certa. — Encarou a mesa, dessa vez evitando me olhar— Realmente eu não tenho nada a dizer... eu errei e errei feio, isso não tem perdão.

— Não mesmo. — Neguei — Mas eu não posso te proibir de ser amigo do Yun e do Minho, não posso te proibir de ser um bom amigo para eles. No entanto, você deve mesmo refletir sobre suas ações e pensar muito antes de faze-las. Eu sei que estava bêbado, mas nós controlamos nossos corpos, e só permitimos que a bebida nos afete se quisermos e você quis.

— Vai me deixar voltar para o grupo? — Ainda não tirou os olhos fixos da mesa. Os polegares brincando entre si numa intensa desconexão.

— Quem sabe. — Dei de ombros — Só me responda uma coisa.... por que fez aquilo? Por que prosseguiu?

Ele ficou em silêncio, mas ainda era notável o seu desconforto. O professor dava sua aula normalmente atrás de nós, mas não conseguia sequer prestar atenção.

— Acreditaria se eu dissesse que é porque eu gosto de você? — Seus olhos demoraram para encontrar os meus — Ae-Cha... desde quando eu vi você nessa sala começei a ter uns sentimentos estranhos. — Ele parou e bufou — No começo eu pensava que era besteira... mas com o tempo foram ficando mais intensos. Até então eu venho tentando chamar sua atenção e eu me arrependo muito por ter feito aquilo, se pudesse pagaria com a minha vida.

— Não diga isso. — Peguei sua mão, uma coisa que nos deixou ainda mais desconfortáveis — Eu não vou poder te perdoar.... mas pode voltar ao grupo quando quiser.

— Sério mesmo?... — Arregalou os olhos — Ah, obrigada Ae-Cha.

— Só vamos impor uma coisa entre nós dois.

O que quiser.

— Eu não gosto de você do jeito que você gosta de mim e eu sinto muito por não corresponder isso, Carlos. Mas que fique bem claro, a partir de hoje somos apenas amigos, e tem mais... você vai se comportar e pensar em tudo o que for fazer, não quero mais ter problemas com você. — Parei para observa-lo — Eu não sirvo pra você, então se esforce para gostar de outra pessoa.

Ele deu risada, concordando sem parar.

— E não tente chamar minha atenção novamente ou eu te quebro na porrada mermão. — Nós dois começamos a rir. É claro que foi baixinho, mas ainda assim foi engraçado.

— Tudo bem... vou me comportar senhorita Ae-Cha. — Fez pose de soldado —  E mais uma vez obrigada, mesmo não me perdoando ainda assim me deixou voltar ao grupo... por um segundo pensei que ficaria sozinho de novo.

De repente ele ficou triste.

— Ei...

Eu peguei suas duas mãos, enrolando elas com a minha.

— Você nunca vai ficar sozinho. Temos nosso grupo de titans esqueceu? — Eu abri um sorriso fechado. Porém, ele continuou sério. — Anime-se, já passou.

— Obrigada.

Carlos ficou repetindo isso a aula inteira. Por um tempo me encheu o saco, mas eu até me acostumei e quase o mandei para aquele lugar que ninguém gostaria de ir.

𝕸𝖞 𝖇𝖔𝖘𝖘 °𝕂𝕀𝕄 𝕊𝔼𝕆𝕂𝕁𝕀ℕ°  [Terminada]Onde histórias criam vida. Descubra agora