Capítulo 54 - TERÊ

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No decorrer da semana as buscas por Tereza Cristina continuaram exaustivamente e não obtiveram sucesso algum e com muito pesar noticiaram a família de que encerrariam as buscas por não terem encontrado o corpo e mais evidências e que o caso seria arquivado como sequestro.

Enquanto toda a família chorava por sua morte, tia Iris vibrava. Com sua sobrinha morta, seria uma questão de tempo para se aproximar dos filhos e usufruir da herança.

IRIS -Esses pirralhos são tão ingênuos e idiotas como o pai que não será nada difícil, fazê-los assinar uma procuração para administrar os bem de minha sobrinha querida e com o ódio que estão do pai, farão de tudo para mantê-lo bem longe, o que só facilitará os meus planos. Eu tinha certeza de que a minha vez chegaria e chegou. Te disse Tereza Cristina que acabaria com você e consegui da forma mais dolorosa. Não sabe a satisfação que me da em saber o quanto sofreu ao ver seu maridinho querido com nojo, te rejeitando e depois, acabou virando churrasquinho. Sua MALDITA, mereceu tudo isso e merecia muito mais. Well, mereço comemorar um acontecimento desses com toda pompa, todo glamour. Quero me dar ao luxo de jantar no restaurante mais caro do Rio de Janeiro, beber champagne com partículas de ouro, eu vou cagar ouro! – Concluiu rindo com sarcasmo. Ela ria tanto a ponto de não conseguir parar em pé.

Após a crise histérica vestiu-se elegantemente, usou um lindo conjunto de rubis, conjunto este que pertencera a sua irmã Maria Tereza e ela furtou. Chamou um taxi pelo aplicativo, fazendo questão de ser atendida por uma mulher, assim se sentiria mais segura, usando joias tão caras.

Iris transbordava de alegria, chegando até a cantarolar e não se atentou que a motorista que a conduziria para o restaurante era Vilma.

A taxista estranhou seu comportamento. Como poderia estar tão feliz em um momento de luto. Discretamente observava suas atitudes ao mesmo tempo em que se atentava para não chamar a atenção e ser reconhecida.

Seu faro investigativo a fez ligar o gravador do celular ao perceber que Iris atendera uma ligação. A mulher falava animadamente com sarcasmos, em francês, subestimando por completo a taxista. De fato, Vilma não dominava o idioma, mas não era preciso ser poliglota para saber que o que dizia não era nada bom e em questão de minutos iria descobrir.

A senhora Alonso desceu do carro, deu uma gorjeta generosa para a taxista sem se dar ao trabalho de olhar para cara dela.

Assim que se viu livre daquela mulher de energia tão pesada telefonou para Griselda para lhe contar as novidades.

A cada detalhe que a amiga contava, ela ficara ainda mais estarrecida. Pediu que mandasse o áudio gravado para seu celular pois certamente Tereza Cristina saberia traduzir algo que deixou as três chocadas:

AUDIO - ...après cette tragédie familiale, je deviendrai encore plus riche. avec l'argent que ma nièce très généreuse m'a donné et ce que j'hériterai, je nagerai dans l'argent... (...depois dessa tragédia familiar, ficarei ainda mais rica. com o dinheiro que minha tão generosa sobrinha me deu e o que vou herdar, nadarei no dinheiro...)

TEREZA CRISTINA -MALDITA! Essa víbora está feliz depois que conseguiu o que queria, ou seja, acabar comigo! Que ódio, que ódio!

GRISELDA -Calma Tereza, essa praga acha que acabou contigo, só que não, você está aqui, viva!

TEREZA CRISTINA -Que vida é essa Griselda? Uma vida clandestina onde não tenho o direito de abraçar os meus filhos!

GRISELDA -Sei o quanto isso te dói, mas você também sabe que o propósito maior disso tudo é proteger a vida deles. Depois de tudo o que me contou, sobre a chantagem que ela te fez, da crueldade que fez contigo quando era só uma menina, se descobrir que está viva, não me dirá esforços para te atingir e sabemos que a Patrícia e o René Jr são sua maior motivação, mas também seu maior ponto fraco.

TEREZA CRISTINA -Eu sou ciente de que não sou, tão menos fui a melhor pessoa do mundo, mas te juro que não consigo entender o porquê de tanto ódio.

GRISELDA -Além do ódio, tem a inveja. Pra mim ficou muito claro a verdadeira obsessão que a tia Iris tinha pelo teu pai e para ela você e sua mãe sempre foram uma pedra em seu sapato.

TEREZA CRISTINA -Te juro minha amiga, que não descanso enquanto não acabar com essa mulher e devolver tudo o que está fazendo não só a mim, mas principalmente os meus filhos sofrerem.

GRISELDA -Vai fazer o que criatura? Vai matar a mulher? Vai sair da vida de morta para vida de presidiária? Não vou te levar cigarros na cadeia não hein!

TEREZA CRISTINA -Credo, que horror! – Disse espantada, esboçando um sorriso rápido e espontâneo – A morte para tipos como esse é um privilégio. A cadeia é lugar para ela e assim todos os dias ao acordar vai se lembrar amargamente o que a colocou no inferno.

As duas sentaram-se na varanda e respirar ar fresco. Com uma notícia tão bombástica como aquela, precisavam relaxar. Dividiram a mesma rede, cada uma de um lado. Aos poucos iam se inteirando cada vez mais uma da vida da outra e se admiraram mutuamente no que eram na essência.

Griselda entendeu que todo os comportamentos ruins de Tereza Cristina foram por falta de amor materno, excesso de mimos, falta de vivências reais, de maturidade e valores que nunca lhes fora ensinado, mesmo recebendo a melhor educação, colégio caríssimos, graduação e cursos no exterior não aprendeu sobre as coisas mais importantes como respeito, empatia, resiliência. Se apiedou em perceber que por trás da figura da mulher rica, poderosa, absoluta, dona de si, escondia-se uma mulher insegura, auto-estima baixa, mas que dava grandes indícios de que essa não seria mais sua realidade. A socialite se deu conta que sempre fora a pobre menina rica, viu na faz-tudo a personificação do amor genuíno, seu carinho e sua luta para dar o melhor para seus três filhos, a força, coragem, determinação e um coração tão generoso. Griselda não tinha a menor obrigação de fazer nada aquilo por ela e reconhecia que a outra o fazia por altruísmo. Se perguntava a todo tempo como poderia retribuir tudo o que recebia da forma mais bonita e digna. Em seu coração sentia brotar sentimentos novos, era reconfortante tê-la por perto e sentiu-se triste e um tanto temerosa ao ouvir sua nova amiga dizer que precisava voltar para o Rio no dia seguinte.

GRISELDA -Não faz essa cara! – Pediu com um sorriso, segurando sua mão - Também não queria deixá-la sozinha aqui. Vou morrer de preocupação, mas infelizmente não tem outro jeito.

TEREZA CRISTINA -Sei disso, é importante que você vá, principalmente para saber como os meus filhos estão, se correm algum tipo de perigo. Saber que estará perto deles me deixará mais tranquila.

GRISELDA -Prometo ligar para você várias vezes ao dia, para saber como está e combinar com a Vilma para que durma algumas noites por aqui. Por ser taxista de aplicativo, poderá trabalhar em qualquer lugar.

TEREZA CRISTINA -É tão lindo tudo isso que estão fazendo por mim!

GRISELDA -Chamamos isso de corrente materna Terê. Do mesmo jeito que recebi ajuda com os meus filhos, quando fiquei viúva do traste do Pereirinha, as minhas comadres me ajudaram tanto e agora chegou a minha vez de fazer isso por uma outra mãe.

TEREZA CRISTINA -Você me chamou de Terê! – Indagou com um sorriso de canto de lábio.

GRISELDA -Desculpa! Nem tenho intimidade para chamá-la assim. É que as vezes sou meio espaçosa sabe. – Justificou toda sem graça, sentindo a face corar.

TEREZA CRISTINA -Nunca ninguém me chamou de nenhuma outra forma senão Tereza Cristina. Meu pai dizia que meu nome era muito bonito para ser reduzido a um apelido, só que gostei de ser chamada de Terê, pode me chamar assim sempre!

No embalo da rede, ao som de alguns animais e uma lua cheia, as duas acabaram dormindo, juntas.

AS APARÊNCIAS ENGANAMOnde histórias criam vida. Descubra agora