Capítulo 59 - Novas Promessas

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Tereza Cristina e Griselda dormiam quando foram despertadas por batidas insistentes na porta e um medo intenso passou a dominá-las naquele momento, em que estavam tão desprevenidas e ainda por cima, nuas.

Enchendo-se de coragem, a senhora Pereira perguntou quem era enquanto se vestiam rapidamente e sentiram grande alívio em saber:

VILMA -Somos nós Griselda, Celeste e eu. Viemos fazer uma visita a vocês.

Vilma e Celeste foram para Iguabinha, pois a mais velha há anos ajuda uma instituição que abriga mulheres e crianças em situação de risco, vítimas de relacionamentos abusivos.

Ela fez questão de convidar a amiga para que esta conversasse com aquelas mulheres e entender os abusos que também sofria em seu casamento com Baltazar e a situação entre os dois estava se tornando cada vez mais insustentável.

Celeste ficara impressionada com tudo o que ouvira. Ver aquelas mulheres e crianças marcadas pela violência não só fisicamente, como psicologicamente também a fez ter forças para tomar a atitude de seguir em frente com Solange. Dessa vez não estaria desamparada financeiramente, pois a sociedade com sua comadre e amiga seria o suficiente para poder se manter. Há uns dias atrás colocou o marido para fora de casa após uma discussão na qual foi agredida, sendo socorrida por Crodoaldo, seu vizinho e naquela visita, depois de ouvir tantos conselhos teve a certeza de que jamais voltaria a conviver com o "Zoiudo" outra vez.

Passado o susto, as duas ficaram felizes com a visita, sem contar que Tereza Cristina teve novas notícias sobre os filhos, de que estavam bem e que os laços com o pai se recuperavam aos poucos.

Indiscreta, Celeste não deixou de notar que sua comadre não tinha o hábito de dormir durante a tarde e que ela estava mais agitada que o normal.

CELESTE -Tá tudo bem comadre! Você está doente? Tá com uma cara esquisita – e só parou de falar porque Vilma, discretamente lhe deu um chute por debaixo da mesa.

GRISELDA -Estou muito bem comadre, vamos tomar nosso café que saco vazio não para em pé? – Disparou, fuzilando a amiga com os olhos.

TEREZA CRISTINA -Celeste gostaria de te agradecer por tudo o que está fazendo pelos meus filhos! – Agradeceu na intenção de amenizar aquela situação um tanto constrangedora.

CELESTE -Imagina dona Tereza Cristina.

TEREZA CRISTINA -Sem esse "dona" por favor, afinal aqui somos todas amigas e essas formalidades já não me cabem mais! – disse simpática, apertando-lhe as mãos cordialmente.

No decorrer da conversa Vilma comentou sobre a real situação da instituição, que a mesma precisava de uma boa reforma e meios para angariar fundos para se manter. Ao todo 10 mulheres e 25 crianças se abrigavam ali, convivendo da melhor maneira que podiam. Eram assistidas pelo município, mas a verba repassada não supria todas as necessidades.

Comovida, Tereza Cristina disse que gostaria ajudar de alguma forma, só não sabia como se ainda não podia se dispor do seu dinheiro, e sentiu-se entristecida por isso, sendo consolada pelas três que reconheciam sua boa vontade, e num estalo Celeste teve uma boa idéia.

CELESTE – Tereza Cristina, olhando hoje para todas aquelas mulheres, com a alto estima tão baixa, muitas se sentindo feias, não desejáveis, sem esperanças de recomeçar em um novo relacionamento e olhando para você com todo esse porte de mulher fina, bonita, elegante, que sabe se vestir, se maquiar, por que não ensina isso a elas?

VILMA -Que excelente ideia minha miga, é isso mesmo Tereza, ensina a essas mulheres a como se maquiar, as ajude a se olhar diante do espelho. Tenho certeza de que essa troca fará muito bem a elas e principalmente a você.

TEREZA CRISTINA -Posso fazer isso sim e farei com o maior prazer do mundo. Como a Zel disse, chegou a minha oportunidade de colaborar com outras mães também, o único detalhe é que precisamos de maquiagem! – Disse encolhendo os olhos, toda constrangida.

GRISELDA -Não se preocupe com isso Terê, a maquiagem é por minha conta. Minha Nossa Senhora de Fátima concedeu essa graça para que eu possa ajudar outras pessoas, e digo mais, podemos fazer um mutirão e reformar aquele lugar. Entro com o material de construção, e posso ensinar a elas um ofício o que acham?

VILMA -Perfeito minha miga, não esperava menos de você.

CELESTE – Alguém precisa cozinhar para esse batalhão todo e me disponho a ensinar a fazer uns quitutes, umas receitas novas que quero estrear no nosso boteco.

Assim seguiu-se a semana de Celeste, Griselda, Tereza Cristina e Vilma. Quatro mulheres trabalhando com afinco, ofertando o que podiam, recebendo em troca muito mais do que poderiam imaginar e Tereza mais uma vez provou do sentimento de gratidão tão genuína, entendendo em como o pouco, tornava-se muito para outros.

Não deixou de se encantar com as crianças, o que só aumentou a saudade de seus meninos, principalmente ao se lembrar deles tão pequenos. Uma garota, de nome Carolina chamou bastante sua atenção, com seus olhos verdes muito vivos e expressivos, dotada de uma beleza ímpar, com os cachos soltos pedindo que ela lhe fizesse um coque de bailarina. Ficara encantada com o pedido e se esforçou para não chorar, pois com exceção de René Junior e Patrícia, nunca cuidou de nenhuma outra criança, nem mesmo em reuniões com amigos se mobilizou a dar atenção a elas. A afinidade entre as duas foi tamanha, que a garotinha ia atrás de Tereza Cristina para todo lugar.

Após dias tão exaustivos, mas extremamente intensos e prazerosos a socialite fez um pacto consigo mesma, que seria sempre útil e teria um olhar mais humano para o próximo. 

AS APARÊNCIAS ENGANAMOnde histórias criam vida. Descubra agora