Não estou apaixonada

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- Vem aqui, quero te mostrar uma coisa.

Gizelly me puxou pela mão e passou em minha frente, fazendo sinal para que eu a seguisse. Ao final do corredor ela se virou e abriu a porta do último cômodo da casa, que notei ser mais um quarto, enquanto caminhava e abria duas longas cortinas, nos revelando o céu mais lindo que eu já havia visto. A noite estava absurdamente linda, a lua cheia tão grandiosa iluminava o rio e tudo o que havia ao redor, incluindo a sacada e a rede branca à nossa frente.

- Que céu mais lindo! - falei, deslumbrada com aquela noite.

- Sabia que ia gostar, por isso te trouxe aqui. É o quarto dos meus pais, o único daqui que tem sacada. Vem, vamos sentar um pouco - disse, se sentando na rede e dando espaço para que eu me sentasse ao seu lado.

- Gosto tanto de olhar a lua, mas muitas vezes eu não consigo tirar um tempo para fazer isso...a vida que eu tinha era tão diferente, poucas vezes tive momentos como esse - falei, fechando os olhos e sentindo a brisa bater em meus cabelos.

- Então devia fazer isso mais vezes - disse Gizelly, dirigindo seu olhar a mim.

A olhei de volta e sorri timidamente, repousando uma de minhas mãos em seu rosto. Seus olhos se fecharam no mesmo instante e eu colei nossas testas uma na outra, para depois tocar seus lábios com os meus.
A envolvi com um de meus braços e a puxei para mais perto, beijando-a sem pressa, enquanto ela colocava uma das mãos dentro da minha blusa e acarinhava minha cintura.

- Vamos deitar, é ruim ficar sentada muito tempo.

Concordei com a cabeça e me deitei primeiro, abrindo um dos braços para que ela se deitasse sobre ele. A vista que tínhamos era deslumbrante e fiquei um bom tempo em silêncio apenas pensando e observando o céu, até sentir a respiração de Gizelly pesar em meu peito.

Me inclinei um pouco para vê-la e notei que ela havia dormido, poucos minutos depois de termos deitado. Sorri ao ver seu semblante tão sereno e tranquilo por baixo dos cabelos desgrenhados, então a abracei mais forte e permanecemos ali, ela abraçada em meu corpo enquanto eu fazia carinho em seu cabelo, que insistia em cobrir seu rosto a todo instante. 

Confesso que não foi isso que imaginei quando ela abriu a porta do quarto e me deparei com aquela cama e a vista maravilhosa que essa noite nos trouxe, mas com Gizelly as coisas não eram como eu esperava, ela sempre poderia me surpreender. Ela sabia o quanto eu precisava disso e me proporcionou esse momento, por saber o quanto eu gosto desse contato com a natureza e como isso me faria bem.

Uma hora dessas em São Paulo era para eu estar bêbada em alguma festa ou na cama de alguma mulher bonita que esbarrei durante a noite, talvez sem nem saber o nome. Fechei os olhos e deixei que algumas lembranças tomassem conta dos meus pensamentos, enquanto Gizelly ainda respirava pesadamente sobre meu peito.

"... - Aquela mulher não para de te olhar, Marcela.

- Ela está sozinha? 

- Não faço ideia, mas não tira os olhos de você.

- Eu vou lá. Segura meu copo.

- Eu sei que você vai, Marcela. Quando é que você sai de uma festa sozinha, sem conseguir uma boa noite de sexo? ..."

Não sei quanto tempo fiquei ali presa a algumas lembranças e olhando Gizelly dormir em meu peito, pensando como tudo na minha vida tinha mudado em tão pouco tempo. Contemplei o céu por mais alguns instantes e em determinado momento me lembrei que seus pais ficaram de voltar bem cedo para cá.

Incondicional | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora