- Uma barraca. Quero passar a noite com você na beira do rio. Aceita?
- Passar a noite na barraca?
- É Marcela, passar a noite na barraca. Nunca fez isso não? - respondeu, ao fechar a porta do quartinho.
- Já, mas quando eu era criança.
- Então já faz bastante tempo... - disse Gizelly, segurando o riso - aiai Marcela, para! - exclamou, quando a belisquei na barriga - eu tava brincando!
- Peste!
- Vai, vamos começar a levar as coisas lá pra baixo - falou, fazendo sinal com as mãos para que seguisse.
- É sério isso? Com o tanto de quarto que tem aqui, você quer dormir dentro dessa barraca?
- Não é uma barraca. É "a barraca". Só pessoas importantes entram aqui - respondeu, convencida - bom, na verdade...você vai ser a primeira. Mas ela é grande, você vai ver.
- Por que a gente não fica aqui mesmo? Deve ter bicho lá, Gizelly - perguntei, tentando convence-la a mudar de ideia.
- Porque lá é diferente. Vem, vamos logo, você vai gostar - respondeu, levantando a caixa que era maior que ela.
- Da aqui que eu levo - respondi rindo da cena - pega as outras coisas.
Gizelly entrou e eu fui descendo na frente com a caixa, torcendo para que nada assustador aparecesse na minha frente. Não demorou muito e ela me alcançou, carregando um colchão enorme e uma mochila nas costas.
- Põe a caixa aqui, eu vou montar - falou, deixando a mochila e o colchão no chão.
- O que tem nessa mochila?
- Uma coberta, lanterna, repelente para bichos não picarem você, água, canivete e uma bolacha, caso você sinta fome.
Foi impossível não rir daquilo. Gizelly parecia que estava indo pra um acampamento de escoteiros, ela tinha se equipado pra uma verdadeira aventura na selva. Ao mesmo tempo que achava engraçado, também achava fofo ela ter pensado nos bichos que poderiam me picar.
- Segura aqui essa parte que eu vou arrumar - disse, terminando de montar uma parte da barraca.
Era realmente uma barraca grande, cabiam três pessoas tranquilamente ali dentro e dava pra ver que era algo que ela estava acostumada a fazer, pois montou a barraca rapidamente e sem precisar de muita ajuda.
- Que rápida, eu demoraria horas.
- Claro né Marcela, eu sou da fazenda e você da cidade. Você não ia sobreviver um dia numa floresta - falou, batendo as mãos no short para tirar a terra - você não sabe cozinhar, não sabe montar barraca, não sabe nem subir em um cavalo sozinha.
- E você não sobreviveria um dia sem mim, com esse pé machucado - falei, puxando-a em meus braços - estaria até agora chorando de dor.
- Acha que não sei cuidar de um corte igual esse, doutora? - perguntou, segurando meu queixo e selando nossos lábios rapidamente.
- Não acho. Tenho certeza.
- Está errada - respondeu, soltando meu queixo e se afastando para pegar o colchão.
Ajudei a arrumar as coisas dentro da barraca e depois de tudo pronto sentamos no colchão, uma do lado da outra. A lua mais uma vez estava linda, como sempre naquele lugar, em que apenas ouvíamos o barulho da água batendo nas pedras.
- O céu está lindo - falei, contemplando as estrelas e a luz do luar.
- Por isso quis tanto vir aqui. É diferente, parece que a lua está mais perto da gente e que não existem outras coisas ao redor.
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Incondicional | Gicela
Fiksi PenggemarMedicina sempre foi a paixão de Marcela, mas para concluir seu curso ela precisaria fazer estágio em uma cidade do interior. Não seria fácil deixar a vida em São Paulo e se adaptar a realidade de uma cidade pequena, longe da família, amigos e festas...