— Tem certeza do que está fazendo, Íria? – Phil me questionou pela milésima vez, vinte e quatro horas depois, quando o corpo sintético chegou e comecei a modelagem.
— Não. Mas é meio tarde para isso agora, não acha? – Evidenciei dando forma aos hematomas na pele sintética.
Realmente não dava mais para voltar atrás, Violeta, como prometi a mãe dela e a ela própria quando recobrou a consciência, já fora levada pelo veículo de cargas que trouxe minha encomenda.
Enzo me falara sobre esses corpos. Eram projetados para estudos de medicina dos módulos avançados do curso. Sua pele era moldável, através de um programa no foco. Ele mandava as ordens e a nanotecnologia do corpo obedecia.
Ele podia ter me mandado pronto, mas era arriscado, portanto, mandou anônimo e dei as características necessárias, segundo ele era melhor, assim eu saberia fazer as programações em casos futuros.
Para minha alegria, recebi meia dúzia de sintéticos anônimos, logo, não teria mais que depender de tempo.
— A paciente concordou com isso? – Phil interrompeu meus pensamentos, de novo.
— Claro que concordou! Te contei Phil, ela pediu para morrer. Só se acalmou quando contei sobre o protocolo. – Bufei.
Entendia a preocupação dele, seria sumariamente executada se algo desse errado e essa merda toda fosse descoberta, mas não ia voltar atrás por medo. Se desse certo poderia salvar muitas vidas.
Mas os deuses gostavam de mim. Invadi o sistema de monitoramento do crematório e assisti o corpo sintético, ser cremado até as cinzas no lugar de Violeta, sem que ninguém desconfiasse e essas evidências, pelo menos, fossem destruídas.
Uma semana depois, Enzo me contatou informando que a cobaia 1, estava em processo de recuperação acelerada e tudo transcorria de maneira perfeita, portanto, o protocolo E1 estava aprovado e o "estudo" prosseguiria.
Nossas conversas geraram novas possibilidades a serem exploradas, como o motivo do aumento da infertilidade entre as mulheres humanas. Eu criei a teoria de que esse quadro era principalmente psicológico.
As mulheres não se sentiam seguras para procriar, logo, sua biologia reagia ao medo gerando infertilidade. Portanto, em ambiente saudável e seguro, em tese, sua infertilidade poderia ser naturalmente revertida. Mas para comprovar ou refutar tal hipótese, um acompanhamento monitorado deveria acontecer nas pacientes depois de resgatadas.
Não fazíamos ideia de por quanto tempo precisaríamos monitorá-las, mas Enzo estava eufórico com a ideia e me garantiu que tinha meios e recursos para a empreitada.
Pouco mais de um mês do início do protocolo me ausentei de novo, para mais uma semana de seminários e trabalhos presenciais na Universidade. Apesar da pauta não ser extensa desta vez, deixando muito tempo livre por dia, ainda tinha que ficar uma semana em Brice, hospedada no prédio residencial da Universidade, no confortável apartamento da Dra. Lins, onde ela reservara um quarto só meu.
Considerava esse, meu período de férias. Porque assim que os trabalhos da manhã terminavam, estava livre para passear pela cidade, tomar café com a mãe de Violeta, me divertir com Enzo e seus amigos, finalmente consegui fazer compras e substituí minhas roupas puídas por novas. Claro, não muito, para não gastar demais, pois o prêmio tinha que durar até minha formatura, quando passaria a ter um salário.
No terceiro dia, decidi andar um pouco sozinha pela praia. Sentia falta de viver perto do mar. De onde estava podia ver ao longe o imenso castelo, onde, segundo Enzo, o rei não morava.
Ele me contou certa vez que o castelo era um símbolo dos séculos em que os predadores reinam nestas terras, como tal, se transformou em um prédio governamental, com acesso público ao andar térreo, alguns cômodos dos andares superiores e ameias do telhado, para turismo.
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Valquíria Mares
Random**** OBRA CONCLUÍDA **** Agora vocês perguntam: Quem é você? E eu respondo: sinceramente também gostaria de saber. Fui criada apenas sabendo meu primeiro nome: Valquíria. Minha mãe, só me permitia chamá-la de "mãe", então não sabia seu nome. Meu pai...