Capítulo 25

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A menininha na manhã seguinte começou a apresentar problemas respiratórios, convulsões e perda de sentidos. Um exame rápido me deu a má notícia, os inibidores e reconstrutores celulares não estavam vencendo o vírus. Com apenas um ano de vida ela praticamente não tinha sistema imunológico para lutar contra a infecção, além de não termos ideia da quantidade de sangue infectado que injetaram nela. Eu a perderia muito antes que Phil fosse capaz de sintetizar alguma coisa para ajudar.

Projetei a ficha dela pela décima vez só naquele dia, para tentar ver algo que pudesse não ter percebido antes... Li cada sílaba... Então vi.

Ela tinha o mesmo tipo sanguíneo que eu ou pelo menos o mais compatível, já que minha tipagem não era humana ou amazona. Aí estava uma pequena, quase inexistente chance de esperança. Peguei uma seringa, conectei a agulha, tirei 10ml do meu sangue e injetei diretamente na corrente sanguínea dela.

— Enlouqueceu! Você pode matá-la. – Polox gritou quando percebeu pelo foco o que eu estava fazendo.

— Ela já está morrendo, idiota! Se houver uma chance vou tentar. Ela vai ter um choque anafilático se injetar mais algum medicamento e se não fizer nada estará morta antes do pôr do sol. Se meu sangue puder ao menos estabilizar o quadro já terei tempo para pensar em uma saída. Graças aos deuses, pelo menos a tipagem sanguínea dela é compatível com a minha, então não a mataria de qualquer forma, é só uma transfusão.

Por um milagre divino funcionou, melhor do que eu esperava. Em algumas horas pude tirar o equipamento respiratório e um novo exame revelou o impossível: a pequena dosagem de sangue que injetei retardou o processo de propagação do vírus e começou a combatê-lo.

Respirei alto, aliviada, com Polox gritando entusiasmado e Phil suspirando do outro lado do foco. Tânis encostou a testa no vidro por fora da sala e pude ver o embaçamento em frente a seu nariz conforme exalava, também aliviado.

Nos dias seguintes com novas aplicações o quadro começou a mudar perceptivelmente. Ela estava se curando! Mas não poderia continuar cuidando dela, eu estava plenamente curada desde o segundo dia, mas ainda me mantinha ali por causa da criança, porém precisava voltar ao trabalho fora da ala de isolamento.

Até porque Tânis deixou muito claro que não se moveria para fora do instituto, enquanto eu não saísse do isolamento. E tentava não pensar sobre o que ele dissera para se ausentar por tanto tempo, ou como seus compromissos deveriam estar atrasados.

Passei cinco dias ali, tempo em que cuidara pessoalmente de todos os infectados no isolamento e não tencionava abandoná-los. Já que refizera meus exames e determinamos que agora era completamente imune, poderia lhes dar um atendimento melhor, mas não se tivesse que continuar cuidando de Júlia.

Sim, descobrimos seu nome. Polox fez uma pesquisa e descobriu que ela era órfã. Traçando seu DNA, descobrimos que seu pai, minerador, morrera pouco depois de seu nascimento e sua mãe trabalhava em um bar, próximo das zonas de mineração, tendo contraído o vírus e morrido antes que pudesse pedir ajuda. Quando as autoridades chegaram ao casebre dela (pois seu patrão registrara seu desaparecimento, apenas um mês depois que não aparecia para trabalhar, dizendo que achou que a filha poderia estar doente e ela não trabalhou para cuidar da criança), o corpo já estava se deteriorando e não havia criança alguma lá... Pelo menos de acordo com os autos oficiais.

Com os inibidores, conseguíamos manter os infectados vivos por um período de três a cinco meses, mas se eles não recebessem tratamento esse tempo se reduzia para três semanas... Quatro com sorte.

Mais uma vez, decidi arriscar alto. Claro que nenhum infectado sabia que me curei do vírus, ou sequer da existência de Júlia. Para todos eles eu era imune, simples. Então aleguei que uma interna precisaria ser realocada por questões médicas e mudei Amber para o segundo dormitório do isolamento 1.

Valquíria MaresOnde histórias criam vida. Descubra agora