Capítulo 43

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Troquei a água do meu orbe e o aumentei o máximo que fui capaz. Quando achei que era suficiente calculei a distância até a saída que via e num movimento brusco comandei o orbe a toda velocidade atravessando o templo maluco.

Foi uma ideia horrorosa!

Passei como um grande borrão de água pela caverna das cachoeiras sem sentido e dei com a cara na parede do outro lado do templo quando a saída se fechou na minha frente e meu orbe explodiu voando água para todos os lados e me deixando caída e tonta com o nariz sangrando e vários arranhões e hematomas no meio de uma poça d'água que esquentava com rapidez.

Me lembrei imediatamente de passar mal no santuário do fogo em Sandrya. Me levantei da poça e corri de volta para a entrada, ela se fechou e olhei desesperada para todos os lados. Nada! A essa altura meus pés não só queimavam, como começaram a criar bolhas. Sentia meu corpo pegando fogo... minha cabeça rodando e não sei como não perdi os sentidos.

Me sentia sufocando. Comecei a tentar puxar água do último anel de água, mas ele desapareceu junto com a entrada, entrei em pânico, me sentei no chão, sentindo meu traseiro queimar e chorei. Sabia que não ia sobreviver. Fechei os olhos e me concentrei em pedir aos deuses que não deixassem meu irmão aguardando uma volta que não aconteceria e que pedissem a ele que cuidasse de Ox.

Quando não era mais possível suportar a dor das queimaduras no traseiro me deitei de lado, queimando a lateral do corpo e o braço, olhando para as cachoeiras, tentando me distrair da dor. Funcionou. Comecei a ver imagens nas cachoeiras. Casais de água e fogo, ora mulheres de água e homens de fogo, ora o contrário. Me dei conta de que via o passado longínquo, os híbridos que vieram antes.

Mantive o máximo da calma que consegui e mudei o foco dos pensamentos, em vez de raiva, me concentrei em ver memórias nas cachoeiras de água e lava. Só então me dei conta do óbvio.

— Posso ver o fogo como algo ruim e doloroso ou posso me lembrar de que meu corpo esquenta quando o homem que amo me toca e ver esse mesmo fogo como algo bom, prazeroso, aconchegante e erótico. – Disse alto a mim mesma.

Funcionou! Nem acreditei quando senti o calor sufocante e insuportável se transformar em algo prazeroso.

Meu corpo esfriou para uma temperatura muito agradável quando cheguei a essa descoberta. Olhei para mim mesma e vi minha pele azulada. Só então realmente entendi.

— O templo é a representação de mim mesma! Um corpo. O elemento em evidência era o que me assustava. Precisava encontrar o equilíbrio de todos eles em mim. Não preciso de um par que seja de um deles especificamente. – Suspirei – Espero que esteja certa.

Senti uma mão quente no meu ombro e olhei com os olhos ainda nublados pelas lágrimas que não tiveram tempo de secar.

— Está certa. Como ninguém antes. – Um lindo homem, loiro de pele avermelhada pelo fogo, me estendeu a mão.

A peguei e ele me puxou para me levantar. Ele me abraçou e beijou meus cabelos. Solucei em seu peito, emocionada pelo carinho que senti nele e o alívio de saber que não morreria afinal. Ele me apertou em seus braços.

— Por um momento torci para que não entendesse, pois meu filho precisaria da sua inteligência para ajudá-lo a se equilibrar, mas não posso pedir que se condene ao sofrimento dessa forma. Você não merece. E ele não a merece. Não sei se um dia virá a merecer e isso me entristece, porque meu filho jamais terá seu necessário equilíbrio.

— Ele terá. – Me afastei dele, passando a mão no meu rosto, limpando as lágrimas – Não da forma como os outros tiveram. – Olhei para os casais que se moviam pelas cachoeiras – Mas cuidarei para que tenha... Assim como Tânis e eu mesma. Encontrarei um meio. – Sorri sem alegria para ele.

Valquíria MaresOnde histórias criam vida. Descubra agora