Capítulo 9

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Levei cerca de quatro horas para atender a todas, medicar, abrir fichas médicas no sistema e liberá-las. Mas finalmente a última saía da sala, quando Amanda chegou. Suada, respingada de sangue e visivelmente cansada.

— Que bom que está bem. – Ela sorriu para mim.

— Pena que não posso dizer o mesmo de você. O que houve?

Ela se sentou, então relatou o motivo da cirurgia que a impediu de me receber quando cheguei e de me ajudar com as meninas.

A segunda esposa do Sr. Halfass deu entrada com a velha e conhecida causa de "queda da escada". Apesar dos melhores esforços de Amanda, ela acabou não resistindo à perda de sangue e aos traumas múltiplos e entrou em óbito, uma hora atrás. Como Amanda teve que descer para informar a família, depois dar início aos protocolos fúnebres, só me encontrou agora.

— Aquele desgraçado! – Me indignei.

— Separei todo o material, imagens e demais protocolos burocráticos e vou levar comigo para Brice. Decidi não enviar os autos à coroa, vou entregar para a Dra. Lins.

— Tomara que ela consiga o que eu não consegui até agora. – Suspirei.

— Bem, se não precisar de mim, acho que vou dormir um pouco. – Amanda avisou.

— Pode ir. Mesmo que quisesse ou pudesse, acho que não conseguiria dormir. Só vou ficar tranquila quando terminar de resolver o caso das meninas resgatadas.

— Pobres crianças. – Amanda lamentou.

— Sabe, por mais que tenha odiado minha mãe por um tempo, sou obrigada a admitir que sua brutalidade foi útil para minha vida até agora. – Exalei – Ela não merece realmente minha raiva.

— Então agradeça, amiga. – Ela se levantou, se espreguiçando – Tente descansar um pouco, Íria. Boa Noite.

— Bons sonhos, Amanda. – Me despedi, indo para o elevador central, enquanto Amanda seguia para o outro, que a levaria à cobertura.

Cheguei no hangar do primeiro andar e encontrei Zack, ainda com os cabelos bagunçados do capacete, sentado em um sofá no canto do hangar, reservado aos pilotos dos transportes de carga.

Me lembrava de seu rosto de seis anos atrás. Ele tinha cabelos loiros e olhos azuis, um rosto muito bonito e um porte forte e atraente. Por um momento franzi a sobrancelhas para mim mesma pelo pensamento do "atraente", porque não via isso nos homens em geral, mas descartei mais essa bizarrice da minha cabeça.

— E aí? Novidades? – Interrompi sua concentração no dispositivo à sua frente.

— Sim. Nem todas boas, mas enfim... – Ele deu de ombros.

— Desembucha. – Me sentei ao lado dele, afundando as costas no encosto do sofá e apoiando a cabeça para trás.

— Aproximadamente, um terço dessas crianças não tem família. Por isso não conseguimos saber sobre os sequestros.

— Mas elas têm identificação, como todos nós. – Virei-me para ele surpresa.

— Sim, mas... Bem, vamos aos fatos: Berene Martin, doze anos, morta com sua família em uma explosão tubular de resíduos na província de Dauror, seis meses atrás; Luna Vais, onze anos, acometida por febre, óbito registrado há quatro meses na província de Marselha, última residência: Orfanato Real Marselha; Naty Constance Duri, quatorze anos, fugitiva do Orfanato Real de Prado há treze meses...

— Certo! Entendi. Pelo menos uma parte tem familiares, certo?

— Graças aos deuses, sim. – Ele exalou, se recostando no sofá ao meu lado – Já entrei em contato com todos eles e vou levar pessoalmente essas meninas até suas casas.

Valquíria MaresOnde histórias criam vida. Descubra agora