Capítulo 30

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Me vi em um tipo de sala de audiências, com uma mesa ocupada por minha mãe e quatro idosas, com seus longos cabelos brancos. Embora por seu porte, tivesse certeza de que não eram tão frágeis e indefesas como a cor de seus cabelos pudesse sugerir. Elas meio que repetiram o que Valéria havia me dito sobre minha situação peculiar. Aprovada na provação, purificada e surpreendentemente revelada, com idade e condição inadequadas para ser consagrada.

Quase suspirei aliviada, até ouvir a má notícia. Elas já sabiam sobre a cura para o vírus estar contida em minhas veias e devido a toda situação inusitada do meu caso, decidiram que eu deveria ser mantida resguardada em sua cidade sagrada e capital, até atingir a idade de consagração.

Quase surtei, mas em segundos me dei conta de que ter um chilique não me ajudaria muito. Pensei por um momento e decidi mudar de tática, implorar. Sim, literalmente me ajoelhei perante elas e comecei meu discurso improvisando-o conforme o falava.

- Imploro pelos deuses que reconsiderem tal decisão. Sei que um de seus deveres sagrados como amazonas é celebrar e preservar as vidas femininas. Me manter aqui por dois anos até atingir a idade para a consagração significa condenar dezenas de mulheres à morte. Se considerar que nesse tempo, podemos efetivamente sintetizar a cura para o vírus, podemos elevar esse número para centenas, talvez milhares. Não há mais ninguém que possa atendê-las e cuidar delas de onde venho, tão pouco a cura para as demais corre por outras veias senão as minhas. Jamais me sentiria digna de ser consagrada se permitisse tal atrocidade.

Suspirei e prossegui.

- Rogo que me deem uma alternativa com a qual possa conviver, que acalme minha consciência. Peçam-me qualquer coisa dentro de minhas humildes condições e aceitarei, atenderei sem questionar ou me rebelar. Só imploro... Não deixem todas essas pessoas morrerem apenas por meu resguardo. - Baixei minha cabeça e esperei, rezando para ter falado bem o bastante e ter sido convincente o suficiente.

Elas levaram alguns minutos cochichando entre elas, enquanto me mantinha ajoelhada e de cabeça baixa aguardando com o coração acelerado.

- Muito bem. Consideraremos seu pedido até o amanhecer e a informaremos pela manhã. Agora pode retirar-se e seguir para a ceia, para os anúncios oficiais dos resultados de seus rituais sagrados realizados hoje.

- Lhes sou grata. - Agradeci, me levantei, as saudei com uma meia reverência, afinal precisava puxar o saco se queria uma saída, e me retirei da sala.

Enquanto seguia para a porta já me preparava para pedir informações a Kami e Dana para saber onde raios eu deveria ir para a bendita ceia, quando a transpus e encontrei minha irmã conversando animadamente com elas, me esperando.

- Maninha! O que aconteceu aí para demorar tanto? Havia pedido à Kami que me avisasse quando você entrasse para vir buscá-la e já estou aqui faz um tempo esperando. - Ela reclamou, me devolvendo meu foco, que logo liguei e coloquei no devido lugar.

- Irmãzona, se convivesse comigo há mais tempo, saberia que nada para mim, nunca, é descomplicado e rápido. E nem venham falar da provação, porque vocês não têm ideia de quanto tempo levei para chegar a isso. - Bufei.

As três riram.

- Venha, vamos para o salão de refeições. Em alguns minutos a ceia terá início e mamãe mandou preparar tudo para a celebração de seu retorno e vitória na provação. - Ela me estendeu a mão que peguei e segui com ela pelo corredor, apenas me despedindo de Dana e Kami, antes.

Nos afastamos e ela logo falava de novo.

- Eu disse que você podia ter mais de uma afinidade. - Valéria ergueu uma sobrancelha para mim olhando meu cinto.

Valquíria MaresOnde histórias criam vida. Descubra agora