Valquíria Mares

Capítulo 39

— Posso saber o que faz neste andar? – Um predador que só podia ser Eros me interceptou no corredor, a caminho do elevador.

Não gostei do olhar dele para mim, não sabia precisar bem o que havia ali. Parecia desprezo, mas havia algo mais, desconfiança talvez.

— É hoje! – Bufei – Já estava me retirando, senhor. – Apertei o botão do elevador.

— Estava saindo do apartamento do Dr. Hans, garota. Sabe o quanto isso é irregular?

— Phil é meu pai adotivo e mentor. Agora se me dá licença, estou cansada, ok?

— Não acha que é muito petulante para quem está falando com um príncipe?

— Talvez. – Respondi quando o elevador se abriu, mas não entrei. Enzo saía, puxando uma mala.

— E aí palhaça? Da próxima vez que precisar viajar às pressas, vou junto. Você é um perigo! – Ele me beijou no rosto, rindo.

— E perder a graça de ver seu rosto incrédulo quando descobrir o que aconteceu? Não, obrigada.

Nós dois gargalhamos.

— Você conhece esta moça? – Eros indagou ao irmão.

— Claro que... – Ele começou, mas dei uma cotovelada nele que se conteve – Temos alguns grupos de estudos na Universidade juntos.

— Mantenha sua amiga no devido lugar dela. – Eros disse e voltou-se para o meu agora-não-mais apartamento.

— O que foi isso? – Enzo me perguntou, quando o irmão sumiu dentro da porta.

— Por que nunca me contou que tinha dois irmãos insuportáveis? – Ignorei sua pergunta, me dirigindo para dentro do elevador aberto, com ele e sua mala.

— Porque não esperava que os fosse conhecer. Sabe como é, eu e Ênio de boa e dois insuportáveis, acho que podemos chamar isso de equilíbrio.

— Sua simpática irmã está achando que manda em tudo aqui. Tomou meu alojamento, jogou minhas coisas no cesto de roupas sujas e me mandou vazar de lá. Acredita que fui ameaçada de demissão? Levei minhas coisas para o apartamento do Phil, porque não cabe tudo no meu armário do vestiário.

Enzo gargalhou.

— Então saio e dou de cara com o insuportável número dois. Acho que ele pensou que eu estava transando com Phil, só pode! Tinha que ver a indignação dele.

— E você está aceitando tudo isso porque... – Ele incitou.

— Você não acreditaria no quanto foi cansativo em Sandrya e ainda cheguei aqui e atendi todas as mulheres da província. Estou moída, mané, só isso. Depois que dormir um pouco posso estar pronta para a batalha. Também, Tânis está na província resolvendo a intervenção e Ênio acabou de seguir para lá. É claro que quero ver o que eles vão fazer quando souberem.

— Acabou não me contando o que aconteceu em Sandrya. Como é ficar com sua irmã linda... – Ele provocou e soquei o braço dele que riu.

Enquanto me dirigia para o vestiário com ele, contei o que houve e Enzo engasgava de rir. Comecei a pensar que o fato de Valéria o ter achado aprazível fazia sentido, os dois combinavam muito bem.

— Então agora é a toda poderosa princesa letal? – Ele brincou.

— Vai à merda, palhaço. – Ri e ele gargalhou – A propósito e a bebê?

— Você estava tão ocupada assistindo as atuais internas que nem notou que Villy saiu e não voltou. Já entreguei Ágata para ela, a Sra. Primer te mandou um beijo e seus mais sinceros agradecimentos por mais uma vez salvar sua filha. Como já imaginava que teria de levá-las para casa, essa foi a causa da minha demora, levei as duas, expliquei o que houve a Jace e voltei. – Ele contou.