Capítulo 3

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- Papai? Você ainda está acordado? - digo entrando em casa, um lugar feito de madeira e bem quentinho. A primeira coisa que percebo é o aroma delicioso da mistura de legumes, algo como batata, cenoura, mandioquinha, beterraba e mais alguma coisa que não consigo decifrar. 

- Filha! - ouço a voz do meu pai vindo da cozinha, o lado direito da casa. Quando ele entra no meu campo de visão, David abre os braços e sorri largamente para mim. Nos abraçamos e sinto uma mão em minhas costas e a outra no meu cabelo, enquanto seu cheiro amadeirado com um toque de sabão invade meu nariz. Sinto-me protegida e amada em seu abraço, sempre cheio de carinho e saudade. - Eu não sabia que você voltaria tão cedo. - nos separamos e suas órbitas azuis me olham com alegria. 

- Pois é, nem eu! Minha patroa, Senhora Jones, deu-me um final de semana de folga. - seu cenho se franze rapidamente.

- Aconteceu algo? - diz pegando meu casaco e livro, botando-os na mesa da sala. 

- Oh, não. Ela só é... Muita legal, na verdade. - seus dentes e olhos sorriem novamente. 

- Que bom, Emma. Fico feliz por você. - papai pega a minha mão e me puxa para a cozinha. - Venha, estou fazendo sua sopa favorita. 

- Ah, eu sabia que algo delicioso estava sendo preparado. - digo sentando na mesa ao mesmo tempo que ele nos servia do lado fogão. Em segundos chega com dois potes fumegantes de sopa muito bem preenchidos e inspiro o aroma maravilhoso. - Obrigada, pai. 

- De nada, criança. - pegamos nossas colheres e começamos a comer. - Então... - diz depois de um tempo de silêncio reconfortante, misturado com o barulho da chuva. " É do silêncio que nasce o som." Essa frase passa pela minha mente em vários momentos, principalmente nos agradáveis.-.... Quem te trouxe? - ele continua. Olho o seu rosto e papai desenvolve um sorriso torto. - Porque você está muito seca para quem veio a pé.

- Quem...? Ah, meu patrão, Senhor Jones. Eu estava vindo sozinha, mas ele me viu da carruagem enquanto voltava da cidade e ofereceu-me carona. Fiquei um pouco acanhada de aceitar, porém Killian insistiu. - David levanta uma sobrancelha. 

- Killian, é? - sinto meu rosto ficar vermelho quando percebo que o chamei pelo primeiro nome. Isso não é nada comum e, felizmente, meus mais novos patrões são uma exceção. 

- Uh... É que... - pigarreio pensando em como conseguiria organizar as ideias com papai me olhando de forma questionadora. - É que ele me pediu para chamá-lo assim, Milah, sua esposa, também pediu que o fizesse. Foi isso. 

- Isso é ótimo, Emma, mas não acho que seja um motivo plausível para chamá-los dessa forma tão íntima. Não é errado, porém... Dê tempo ao tempo, sim? Mesmo que tenham pedido, espere o momento certo até a verdadeira proximidade chegar. - David suspirou e eu voltei a comer minha sopa. Eu sei que ele está correto, havia uma hierarquia naquela casa e, chamar meus superiores daquela forma, deixava claro que acreditava que estávamos no mesmo patamar.

O que era uma grande mentira.

Continuamos a refeição em silêncio, o que me permitiu saborear mais a sopa e todos os seus componentes. Sorrio quando termino meu prato, meu corpo e coração agora estão quentes e eu estou mais do que pronta para tomar um banho. 

- Vou para o quarto, papai... - ele segura meu braço antes que eu levante.

- Espere, filha. Eu... Eu não quis ser chato ou desagradável, mas eu passei alguns problemas com a nobreza... Sei como podem ser baixos e sujos, como podem usar de seu nome e confiança para lhe atacarem pelas costas. Apenas... Tome cuidado, ta bom? - assinto e pego em sua mão. 

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