Inspiro fundo e sinto um cheiro de baunilha com tulipas invadirem todo o meu cérebro, causando um arrepio em minha espinha. Não sei de onde vem esse perfume dos deuses, mas sei que quero apreciá-lo pro resto da vida. Minha mão toca algo macio e sedoso, como uma pluma, e logo dou-me conta de é um braço.Um alguém.
Rapidamente recuo, parece-me tão sagrado que tenho medo de estragar tocando-o.
- Pode tocar, não sou desmanchar...- uma voz suave e angelical reverbera por todo o meu corpo, fazendo-me questionar se morri e estou no céu. - ...Pelo menos não por fora. - sinto sua mão acariciar minha barba rala e passar de leve as unhas pelo meu pescoço, provocando um enfraquecimento dos meus joelhos. Arrisco-me e volto a passar minha mão em sua pele, tomando todo o cuidado do mundo para não ser muito brusco.
O que me deixa mais intrigado é que não consigo ver nada, minha visão está completamente apagada, mas todos os meus outros sentidos estão muito, muito bem apurados. Posso sentir sua presença a metros de distância, como se estivéssemos ligados por um fio. Tento falar, mas minha voz não sai, o que me obriga a transparecer qualquer coisa com suspiros e toques. Porém, antes que eu tivesse a chance de entrelaçar nossas mãos, sinto um beijo no canto de minha boca e todo o meu campo visual abre-se e acabo dando de cara com grandes olhos verdes.
Verdes?
- Você me achou. - não enxergo seu rosto, mas a curvinha que suas esmeraldas ganham entregam que está sorrindo. Coma alma toda. Ainda que tremendo, levanto minha mão e tento tocar sua face, conseguindo afastar suas madeixas da testa.
Eu quero afastar-me, quero fechar os olhos, abrir novamente e enxergar grandes bolas brilhantes azuis, mas meu corpo me trai e a única coisa que sinto vontade é de apertá-la contra mim e nunca mais soltar. Lágrimas começam a se formar e a rolar em meu rosto, a culpa invade meu ser e sinto-me o pior homem de todos.
- Ei. - ela me chama e acaricia minha bochecha. - Está tudo bem, foi inevitável.
Inevitável...
Inevitável...
Remexo-me na cama e, preguiçosamente, a claridade toma conta do meu campo de visão, fazendo-me suspirar e tampar os olhos, enxergando no nada os malditos mirantes verdes. Ainda sinto-me um tanto culpado, já que são os olhos de Milah que invadem minha mente durante o sono, mas foi somente um sonho... Não é?
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Colocam uma omelete em minha frente com algumas torradas e já começo a devorá-las, sentindo o contraste do ovo com salsinha e pimenta do reino. Adoro o café da manhã que fazem aqui em casa.
- Bom dia, Jones. - na minha quarta garfada, paro de comer e vejo uma Emma toda sorridente. Um pequeno sorriso também cresce em meu rosto, mas logo se desmancha ao perceber seus olhos. Aqueles olhos. Daquele sonho. Essas são as esmeraldas que perturbaram minha mente antes de eu acordar. O sorriso dela também se fecha, deixando uma expressão preocupada ocupar seu face. - Killian, está tudo bem? - não há apenas confusão nas janelas de sua alma, mas também compaixão, como se quisesse ajudar-me. Percebo que devo estar um fantasma e espantado, então trato de fingir uma tontura e coloco o dedo indicador e o dedão nos olhos, mas logo me "recuperando" e tentando não mirar sua íris, focando na sua testa.
- Bom dia, Swan. Está tudo bem sim, só tive uma pequena tontura. Como passou a noite? - evito seu olhar e volto a comer minha comida.
- Ah, foi ótima. Dormi bem rápido, nem lembro-me como cheguei no quarto. - minha memória me trai, trazendo lembranças da nossa leitura e dela dormindo em meu ombro. Sinto os ovos entalarem no meu tubo laríngeo e tusso, olhando de relance para Emma. Seu cenho volta a franzir e a preocupação toma conta de seu rosto novamente. Peço para que espere com uma mão, enquanto a outra alcança a limonada e dou um belo gole, sentindo o alívio em minha garganta.
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Destino Infeliz
RomanceKillian Jones, filho de um grande Senhor, não tem problemas com casamentos arranjados, estava disposto a casar-se de bom grado com Milah, herdeira de um grande título, até que o destino resolve lhe pregar uma peça, mudando completamente seu foco. Ou...