Capítulo 21

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Após pegar o livro de Gancho e Lindy, Killian e eu ficamos um bom tempo descendo as escadas, tomando o maior cuidado possível com seus joelhos, para que não os machucasse ou torcesse. Não posso dizer que acho isso uma boa ideia, levando em consideração o que ocorreu da última vez que lemos esse conto sozinhos, mas seria uma excelente oportunidade para Jones respirar um pouco de ar fresco e sair do casarão. Fico feliz em ver que ele está voltando a andar aos pouquinhos, mesmo que com dificuldade. 

Enquanto o apoio em meu corpo e vejo suas caretas (porém sem emitir barulho algum), tento lembrar-me exatamente do me fez aceitar seu perdão. Não tenho certeza do motivo, mas sei que foi uma mistura de dó, idiotice e saudade. Eu havia sido sincera, sentia muita falta de nossas brincadeiras e conversas sobre tudo e nada. Killian tornou-se uma pessoa importante para mim em muito pouco tempo e isso me assusta um pouco, e é ao mesmo tempo reconfortante. 

- Isso, estamos no último degrau. Devagar... - encorajo o dono dos olhos azuis mais brilhantes que já vi na vida, dando todo o suporte físico que podia, não que fizesse muita diferença, visto que sou bem menor que ele. Jones pisa tranquilamente com o pé direito, mas quando o esquerdo toca o chão, sua perna acaba falhando e o jogando para frente. Não faço ideia de com que força, mas sou rápida o suficiente para segura-lo pelo tronco antes que seu joelho dobrasse muito. Colo minha barriga na sua e nossos rostos ficam a centímetros de distância, com a ponta de ambos os narizes encostando levemente. Como imãs, o verde e o azul se movimentam em sintonia, intercalando entre as órbitas e os lábios. Por um momento, fico encarando mais sua boca e pergunto-me se já reparei no quão bonita ela é. Carnuda, cheia, mas delicada. 


Seu beijo devia ser espetacular.


Começo a raciocinar sobre o que eu estou pensando e volto a encarar seus olhos, piscando continuamente e balançando a cabeça. Preciso sair daqui antes que as coisas fiquem mais complicadas para mim. Afasto meu rosto de seu e o guio para fora de casa com cuidado, abrindo a porta e nos levando ao jardim. Assim que pisa na grama, Killian respira fundo e fecha os olhos e sinto um sorriso tomar meu rosto. Tenho que parar de sorrir na direção desse homem. 

- Obrigado, Emma. Sei que foi ideia de Milah, mas estou feliz de estar aqui com você. - mesmo com a repreensão interna, deixo que meus lábios se curvem mais, levantando minhas bochechas. 

- Também estou feliz. - ficamos um período sem falar nada, apenas olhando em volta e apreciando a noite nem tão fria e nem tão quente. - Venha, vamos nos sentar. - Seguro sua cintura novamente e voltamos a andar, nos recostando na parede na casa e sentando no chão. Uma brisa boa passa assim que nos acomodamos, fazendo meus cabelos mexerem de leve. Solto um suspiro e olho para Jones, que mira-me com admiração. 

- O que foi? - pergunto com certa vergonha. Ele dá de ombros.

- Só estava te olhando. Você fica linda à luz da lua.  - ele diz com sinceridade, conseguindo criar um aperto gostoso em meu peito e um rubor e minhas bochechas. 

- Obrigada. - olho para baixo e solto um riso de nervoso. Pigarreio e pego o livro, colocando na página que havíamos parado. - Você que ler ou eu leio? - Killian tomba a cabeça para a direita. 

- Gostaria de te ouvir hoje. - seus lábios se curvam em um sorriso amigável. Assinto e começo a preparar minhas pregas vocais para o trabalho que farão nesse momento. Antes que eu abrisse a boca, vejo com o canto dos olhos o corpo de Jones aproximar-se mais.

 - Lindy encontrava-se em desespero total. Após o episódio desagradável com o capitão, o barco atracou em um porto para buscar (forma educada de dizer furtar) especiarias, comida, limões e rum, o que fez com que o horrendo homem tivesse de parar de torturá-la com palavras misóginas. A princesa, que de boba não tem nada, pensou que aquele fosse um ótimo momento para tentar sair daquele navio, infestado de piratas nojentos e essa ideia só lhe pareceu mais atraente ainda quando lembrou-se que Gancho havia esquecido a porta destrancada. Era sua única chance. Achou uma adaga em cima da mesa e deitou-se no chão, puxando-a com o pé e conseguindo desamarras seus pulsos e tornozelos. O plano até que estava saindo bem, conseguindo passar de fininho até o meio do navio, se não fosse pelo maldito rato que passou correndo em sua frente, fazendo-a soltar um grito. Os marujos a viram e olharam-se de forma maliciosa, para depois pegá-la e amarrá-la no topo do mastro, conseguindo ver suas roupas íntimas usando uma vara, tanto para levantar sua saia, quanto para bater em suas coxas. O capitão não se encontrava no barco naquele momento e Lindy não sabia se rezava para que ele aparecesse ou para que perdesse na cidade. As lágrimas caiam grandes, tanto pelo medo de cair quanto pela humilhação, recebendo comentários como: "Corpo pequenininho, mas deve dar pro gasto.", "Quanto mais cara de criança, melhor.", "Vamos ver se é rosinha ou não", "Não deve ter nenhum pelinho", "Com certeza é apertadinha.", "Eu foderia ela de jeito." - a cada frase dita, minha voz vai minguando e eu sinto um embrulho no estômago ao pensar-me nessa situação. Sinto a mão de Killian em meu ombro. 

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