Capítulo 14

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Assim que entramos na cozinha, fecho a porta e a guio para o nosso lugar. Sinto que Emma está um pouco inquieta, ou quieta demais... Não sei. Tenho a impressão de que meu pai possa ter falado realmente com ela, botando bobagens em sua cabeça, como: saber "seu lugar", tratar-me com respeito, fazê-la pensar no que a sociedade diria...


Pouco me importa a sociedade.


Swan e eu somos amigos, gostamos da companhia um do outro e nos divertimos juntos. Qual a porcaria do problema nisso? Sinceramente, as pessoas complicam demais coisas muito simples.

- Nós não lemos noite passada, temos que recuperar o tempo pedido, não? - digo sentando-me ao seu lado. - Onde paramos mesmo? - Emma pigarreia.

- Gancho estava ameaçando a Lindy, ele queria saber o que o pai dela mais amava, se não me engano. - ela lembra, mirando o chão em busca do arquivo "memórias" do seu cérebro. - Já estou com dó dela. - rio de leve.

- Também estou um pouco, mas acredito que esse seja um romance estilo "Bela e a Fera", então daqui a pouco ele está aos pés dela. - a loira continua olhando o solo e, de repente, revira os olhos, o que me faz franzir o cenho. - Eu disse algo errado, Swan? - logo que seu sobrenome sai dos meus lábios, suas esmeraldas me encaram com certa confusão, como se tivesse se esquecido do gesto que acabou de fazer. - Estávamos falando do livro e você revirou os olhos e eu... - não termino a frase, já que o restante é presente. Emma arregala seus mirantes e balança a cabeça.

- Perdoe-me, Jones. Não era com você, juro. - disse enquanto pousava a mão em meu braço, passando-me segurança.- É só que... - o nosso contato visual se torna maior pela segunda vez naquele dia, podendo sentir seu verde no último dedo dos meus pés, invadindo meu ser completamente. É como se eu mergulhasse nessa imensidão, mas um pouco mais. Como se essa fosse a única forma de eu estar completo, estar e ser por inteiro. Seus olhos brilham, mas logo encaram outros cantos do cômodo, juntamente com sua mão, que abandona meu casaco. - Eu acabei lembrando de uma coisa que me disseram um dia desses. - olho para seu rosto, pedindo em silêncio para que continuasse. - A pessoa disse que não havia coisa mais idiota do que romances, pois ilude jovens sonhadoras como eu, que esperam um príncipe encantado num cavalo alado. - Emma bufa e fica alguns segundos sem dizer nada, até decidir quebrá-lo. - Eu não quero um príncipe encantado. - sorrio e pego sua mão.

- Eu sei, Swan. Você é muito mais do que isso. Apenas saiba que quem te disse isso não lhe conhece de verdade. Não conhece a pessoa extraordinariamente inteligente que você é. Brilhante, questionadora, inovadora... Sim, sonhadora também. - levanto as sobrancelhas e faço um bico, rendendo-me ao adjetivo que não queria usar. - Mas no bom sentindo. - endireito-me e pego sua outra mão, juntando-as em meu peito. - E romances não só iludem, eles nos dão esperança de que amor um dia chegará em nossas vidas. Só precisamos esperar o tempo certo. Não se apresse, tudo o que acontecer terá de acontecer. Você fará acontecer e trilhará seu próprio destino. Você é gigante, Emma. Nunca se esqueça. - vejo seus olhos lacrimejarem um pouco com minha última frase. - Agora chega de chorar, vamos ler logo essa história. - encosto as costas na parede e começo a narrar em voz alta. - "Qual seu problema?! Não sabe falar, por acaso?" Gancho praguejava, andando de um lado para o outro em sua cabine, já cansado de esperar a princesinha mimada desembuchar. Ela, por outro lado, segurava o choro com todos os berros direcionados ao seu ouvido. Odiava quando gritavam com ela, e aquele pirata parecia não ler mentes. "O que está esperando? Que eu bote minha espada em seu pescoço? Quer ver se eu sou capaz de machucá-la de verdade, não é?" o capitão concluiu, mirando-a de forma maliciosa. Lindy prontamente balançou negativamente a cabeça, exalando seu tão grande desespero. Seus olhos pediam por socorro, gritavam para que alguma entidade ou alma boa entrasse naquele cubículo e a salvasse deste possível destino: a morte. O pirata ajoelhou-se em sua frente e segurou sua cabeça com força pelos cabelos. "Aposto que está maluca para saber se eu realmente a violaria... Se é que me entende." assim que terminou a sentença, puxou o lábio da garota com seus dentes, causando espasmos de agonia na pobre filha do rei. Ela havia conversado sobre isso com sua mãe uma única vez, mas em um cenário muito mais agradável, não com um homem sujo, grosso e que mal conhecia, pronto para invadi-la da pior forma. "Não sei se estamos na mesma página nesse assunto, porém gostaria que ficasse registrado..." ele pega suas mãos amarradas e as guia para um pouco abaixo do fecho de sua calça. "Que isso..." Gancho aperta sua mão em cima da dela, obrigando Lindy a sentir a espessura daquilo. " Estragaria não somente sua nova e intocável buceta - pigarreio e olho com o canto do globo ocular para Swan, que se mostrou inconfortável, assim como eu, com a palavra grotesca que saiu de meus lábios. - "Mas toda a sua alma". Perdão... - a loira dá de ombros.

- São piratas, fazer o que. - rio de sua "explicação", logo sentindo seu corpo se afastar um pouco do meu, deixando-me confuso.

- Venha cá, Emma. É só uma palavra, não precisa fugir. - enlaço meu braço esquerdo em seu ombro, fazendo-a encostar sua cabeça na parte de cima de meu peito. Ela fica um pouco receosa, mas aceita o afeto. - Era fato que Lindy estava morrendo de medo, todo o seu corpo dizia isso, mas quando os olhos do capitão encontravam os seus, não sentia tanto desespero. Algo naquelas órbitas azuis lhe diziam que ele havia sofrido muito em vida, trazendo uma certa pena no peito. Porém, naquele momento, o que menos sentia era piedade. O coração da princesa lhe dizia para ter um pouco mais de paciência, que talvez, só talvez, ele pudesse a vir ser alguém importante para ela. "Não vai falar mesmo? Certeza?" Gancho ameaçou, começando a avaliar as curvas da garota, que ainda não dizia nenhuma palavra. Depois de alguns segundos, ele partiu para a ação. "Muito bem..." o homem passou a trabalhar no cinto da calça... - sou interrompido pela voz de Emma.

- Ele vai estuprá-la! - ela exclamou horrorizada. Tento olhá-la, mas seu rosto não vira para o meu, fazendo meu nariz encontrar seu cabelo. Sem pensar, inspiro e sinto um cheiro doce de baunilha com tulipas.


Aquele cheiro.


Todas as memórias deixadas de lado daquele sonho invadem minha mente, enquanto meu coração começa a bater muito rápido, esquecendo-me completamente do livro. Minhas mãos começam a tremer e sinto uma necessidade enorme de tocá-la. Sei que não devo, mas parece que estou sob efeito de alucinantes, não estou no meu estado normal.

-... Jones..? - Swan me chama com certa estranheza, mas não consigo afastar meu rosto de sua cabeça. Inspiro forte novamente e arrepios percorrem por todo o meu corpo, vindo do meu coro cabeludo e chegando ao meu mindinho. Solto um gemido, largando o livro e virando completamente para ela, segurando seu maxilar com as duas mãos. Enfio meu nariz em suas madeixas e deixo o cheiro enlouquecedor me guiar, descendo até seu pescoço, que é o núcleo de todo aquele perfume. Assim que minha pele toca a sua, meu corpo vibra, canta, voa...


Eu seria capaz de fazer qualquer coisa agora.


- Killian, eu não sei o que está fazendo, mas... - Emma não termina sua frase logo depois dos meus lábios encostarem no seu maxilar. Ela suspira e agarra meus braços, puxando-me para perto. Um grunhido sai de meus lábios e começo a adorar o local, beijando e mordendo-o como se minha vida dependesse disso. A cada segundo que passa, o cheiro de baunilha se fixa mais em minha mente e meu cérebro se encontra incapaz de pensar. Vou afastando-me aos poucos do seu pescoço, chegando em seu queixo e, finalmente, em sua boca. É nesse momento que eu paro. Nossas testas estão encostadas e as nossas respirações completamente altas, eufóricas. Seus lindos lábios estão há poucos centímetros dos meus, mas não atrevo-me a continuar, por mais que eu queira. Swan os encosta, não em um beijo, mas aproxima-se o suficiente para que eu sinta sua carne na minha, me dando a confirmação que eu precisava. Assim que avanço para invadir sua boca, a loira se afasta com os olhos arregalados, tomando conta do que acabou de fazer. Ela me olha e vejo desejo, consigo perceber seu peito descer e subir e posso dizer que a última coisa que ela quer é que eu pare.


A última coisa que nós queremos.


Emma levanta-se rapidamente, quase caindo por suas pernas estarem bambas. Levanto também e seguro sua cintura, tentando ajudá-la, o que é em vão, já que ela tira minhas mãos dali.

- Acho melhor eu... E-eu... Eu vou subir, acho que você deveria também. Ficar com sua esposa. - suspira e não olha-me nos olhos.

- Emma, me perdoe, eu... - ela interrompe-me.

- Boa noite, Senhor.- Swan diz baixinho e passa por mim, levando seu perfume, sua boca e todo seu encanto.











Olá, mooos! Tudo?

Passei rapidinho com esse cap mais curto porque estou super atolada. Mas vim dar-lhes um presentinho, o próximo vai ser maior, prometo.

E ai, o que acharam? O que foi esse quase beijo? Feedbacks? Vocês estão gostando?

Obrigada por estarem lendo!

Beijinhos e até quarta! :)

Destino InfelizOnde histórias criam vida. Descubra agora