Destino Infeliz

Capítulo 34

- Daqui a pouco vai começar a sangrar. - diz Milah, pegando minha mão e tirando-a da minha boca, afastando a unha de meu indicador dos meus dentes nervosos. Pisco e miro seu rosto sério. - O que aconteceu com você? Não para de praguejar e de olhar para chão com cara de que alguém vai ser assassinado desde que Emma e Bealfire saíram daqui. - arregalo as pálpebras e pigarreio, ajeitando-me na cadeira. Depois da partida da dupla, organizamo-nos para o almoço e, mesmo depois de comer, a vontade de roer a unha foi inevitável. Não que fosse racional, tenho essa mania há anos e nunca consegui me desfazer dela, principalmente quando estou nervoso. 

Deixar Swan ir embora com aquele cafajeste foi como abrir mão de protegê-la, como se pouco me importasse o que ocorreria dentro daquela casa mais tarde. Imagens de uma Emma machucada, desamparada, ou até talvez... Só de pensar a raiva instala-se em minhas veias, sinto que posso matá-lo com minhas próprias mãos caso ele encoste um maldito dedo nela. Pior do que temer o que ele fará, é temer o silêncio da loira. Conheço-a suficientemente bem para saber que é orgulhosa a ponto de não abrir-se comigo ou com ninguém, deixando tudo embaixo de panos quentes para que não se preocupem com ela. 

É impossível não reparar em cada passo que dá. 

Saber que Emma ainda deseja-me, que quer estar ao meu lado, só trouxe mais inquietação para meu coração, criando uma ansiedade surreal e assustadora. Contentei-me com apenas um aceno de despedida e, naquele exato momento, pude ver meu coração implorar para agarrá-la e beijar todo o seu ser até eu perder as forças, amando-a como nenhum outro. Pegar em sua mão, fazê-la rir, tomar café na cama enquanto exploro seu pescoço com meus lábios, dançar pela casa, dizer que amo Emma Swan Nolan para todo o mundo e nunca parar de gritar. E pensar que o único homem com esse direito pode estar machucando-a de todas as maneiras. 

Fecho os olhos fortemente com esse último pensamento, respirando fundo e pensando em uma boa resposta para minha esposa, que continua olhando-me com confusão. Passo milhões de possibilidades, mas logo me vem a possibilidade de dizer a verdade: 

- Não confio em Bealfire. - ela levanta as sobrancelhas e continua em silêncio, esperando uma continuação. - Ele pareceu-me autoritário demais, como se fosse matar-me ou, pior, a Emma. - a morena franze o cenho e tomba a cabeça para a esquerda. 

- Você acha? Tem certeza que sua desconfiança não está atrelada aos seus problemas com Rumple? - sinto um arrepio na nuca ao nome do pai do esposo de Swan. Reviro os olhos e balanço a cabeça em consideração. 

- Talvez. Mas, ainda sim, não esperava que fosse do tipo que olhava para a esposa como se estivesse planejando amordaçá-la e prendê-la num porão. - Milah bufa. 

- Deixe de ser exagerado, Killian. Está tudo bem, você está vendo coisa onde não tem. - cerro as pálpebras para ela e expiro com tédio, desistindo dessa discussão. De repente, cortando todos os meus mil pensamentos, um gemido baixo sai do pequeno pacote na cadeirinha improvisada ao lado de minha esposa, fazendo-me levantar para olhá-lo com ela. Liam boceja e abre e fecha as mãozinhas, abrindo os olhos devagar. Eu e Milah suspiramos em uníssono, enquanto entrego meu dedo mindinho para o bebê segurar, o qual o faz com a 'força' que só um recém nascido tem, envolvendo-o com sua palminha e pequenos dedos. Abro um grande sorriso.