Capítulo 16

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Eu acho que preciso ser internado em um hospício.



Sinceramente, não sei o que está acontecendo comigo, provável que enlouqueci de vez. Não deixei de amar Milah, nem um pouquinho, sinto um carinho enorme e uma vontade de protegê-la de tudo e todos, principalmente agora, carregando uma criança minha. Nossa. Seus braços ainda são casa para mim, meu coração se enche toda vez que a vejo, quero mais que tudo estar ao lado dela... Mas, desde o meu sonho, vejo sempre uma sobreposição de olhos azuis e verdes, como se as duas me invadissem e quisessem sempre mais de mim. Odeio essa palavra, mas estou dividido. Entre amor e desejo. Entre Milah e Emma.

Não vou negar minha vontade de estar com Swan. Tentei a todo custo afastar a ideia da minha cabeça, porém quando a vi tão triste naquele dia depois do incidente com seu pai, pensei em milhões de coisas que talvez melhorassem o seu dia, que talvez a fizesse sorrir de novo. Gosto de seu sorriso, de sua risada, de como suas bochechas levantam e seus olhos fecham ao gargalhar. Adoro o seu cheiro... Ah, com certeza é o que mais gosto nela. Aquele perfume foi meu fim, não segurei-me e fiz o que mais temia e o que jurei nunca fazer no dia do meu casamento: trair minha esposa. Sinto a culpa em meu corpo como um veneno, que vai se alastrando aos poucos, matando-me dia após dia. Eu não queria, não era a intenção, porém o desejo falou mais alto e o lado racional foi para o inferno. Tudo estava tão propício, como se estivesse de estar, como se esse era o nosso destino. O calor, nossos corpos próximos, o livro e aquele cheiro de Emma foram minha ruína interna, meu castigo eterno. 

Agora, além de minha mente não colaborar com a realidade, ela resolveu se afastar e tirar de mim uma das coisas que mais me alegravam diariamente: sua companhia. Gostaria que Swan me ouvisse, mas acho que falei e fiz tanta besteira, que nem adiantaria tentar. Quando eu dei a possibilidade dela ser minha amante, eu não estava em mim, não pensei direito. Acabei sendo egoísta e pareceu-me a melhor solução, só queria ter as duas... Queria não me sentir um louco por amar uma e desejar a outra.

Infelizmente, mesmo quando os problemas parecem tomar conta de toda a nossa vida, nada para e precisamos continuar nossos afazeres de sempre. Então, depois de protelar muito, resolvi ler as cartas que chegaram na semana, a maioria com destinação ao meu pai, as quais deixava em uma pilha separada para entregar-lhe mais tarde. Já havia lido uma de um tal de Locksley, um senhor que era novo na região e procurava aliados, tanto apoio comercial quanto amigos. Li pelo menos umas duas vezes essa última parte, e cheguei a conclusão de que talvez amigos sejam uma boa opção.


Precisava de alguém para conversar, sem que interferisse na minha vida diária.


Continuo lendo os destinatários das cartas, deparando-me também com o meu nome algumas vezes. Já nos últimos três envelopes, paro de colocar em minha pilha ou na de Brennan, encarando o nome "Emma Swan" no verso do papel, acompanhado de "Bealfire Gold" logo acima. Respiro fundo, sentindo um certo incômodo no peito. 


O maldito tinha mandado uma carta à ela.


Meus dedos coçam para abrir a carta e ler cada vírgula, mas o meu bom senso grita e faz não com a cabeça, fazendo-me colocar o bilhete de lado. As duas últimas correspondências eram para meu pai, deixando-me mais aflito ainda por não ter mais o que empilhar. Encosto-me mais na cadeira e bato meus dedos na mesa de madeira, criando um ritmo, enquanto mexo meu pé de forma ansiosa. Meus olhos encontram a mensagem do filho de Gold novamente e fecho as pálpebras, amaldiçoando-me pelo o que vou fazer. 

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