Capítulo 6

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Mais tarde naquele dia, eu estava sentado na biblioteca lendo "Vinte Léguas Submarinas", meu livro favorito da vida. Gosto muito do mar, da cor azul e de água, tenho uma conexão com a praia e eu não fazia ideia da onde isso vinha, eu só sentia. Só tive oportunidade de viajar de navio uma vez, aos 16 anos. Não sabia de nada e achava que sabia de tudo, era tão ingênuo... Apesar que não se passaram tantos anos assim, mas, de qualquer forma, continuava ridiculamente inocente. Eu tremia com a possibilidade de chegar perto de alguém e tocá-lo mais intimamente. Eu digo "alguém" pois também me interesso por rapazes, mas tenho preferência feminina. Infelizmente, a sociedade não está pronta para ouvir que um Senhor, como eu, não teria problemas em se relacionar com os dois gêneros, mas nunca questionaram-me e nunca vi necessidade de dizer nada. É sobre ser, não rotular. 

Uma batida na porta me fez tirar os olhos do livro e pedir para que entrassem. Por poucos segundos fiquei me perguntando que poderia ser, já que estamos no meio da tarde, o que significa que Milah e Emma estão em seu chá com biscoitos e meu pai está tirando o seu cochilo... Se bem que poderia ser algum criado. A dúvida logo se dissipou quando vi a dama de companhia da minha esposa entrar no cômodo. 

- Emma, a que devo sua ilustre presença? - fecho o livro, marcando a página na mente e vejo-a fazer uma pequena reverência.

- Perdoe-me por atrapalhar sua leitura, Senhor, mas.... - seus olhos fitam o chão e eu sinto-me mal, já imaginando o que seria. Levanto da cadeira enquanto começo a esfregar uma mão na outra, sempre fazia isso quando ficava nervoso.

- É sobre hoje de manhã? Eu lhe deixei mal, não foi? - sua boca se abre, porém eu sou mais rápido. - Emma, eu já lhe pedi perdão, se houver qualquer coisa que eu possa fazer... - ela balança a cabeça negativamente. 

- Não, não, Senhor Jones. Não é sobre isso, eu já lhe disse que não estou brava. - aproximo-me dela. 

- É Killian, Emma. Por que voltou a me chamar de Senhor? - digo, franzindo o cenho. Não gostava de ser chamado assim pois parecia que ela era inferior a mim e eu não me sentia assim em relação a Emma. Na verdade, sentia uma forte ligação com a loura, gostava dela e de conversar sobre nada e tudo ao mesmo tempo.

- Não importa, não estou aqui para falar de mim, e sim do baile. - assinto e fico quieto, esperando ela continue. - Eu sei que não é apropriado,mas eu gostaria de pedir-lhe algo.-  novamente seus olhos encaram o canto da biblioteca.

- Ei, Emma. Olhe para mim. - ela o faz e sorrio levemente, mostrando-lhe que estava tudo bem. - Não precisa ter vergonha, pode pedir-me qualquer coisa. 

- Será que você poderia...- pigarreia.- ... Falar com o seu pai e convencê-lo de eu não ir ao baile? - franzo o cenho. 

- Você não quer participar? 

- Não é que eu não queira, só não acho... Apropriado. Sou apenas uma criada, eu devia ajudar nas tarefas e preparar Milah. - faço não com a cabeça e rio pelo nariz. 

- De jeito algum, Emma. Você não é apenas uma criada, agora você é da casa e amiga de Milah, pode muito bem ir. Além do mais... - pego sua mão. - ... Diversão é sempre bom. Tens também esse direito. - sinto que ainda está desanimada e resolvo tentar tirar um sorriso seu. - Nós podemos dançar... - coloco minha mão na sua cintura e a sua em meu ombro, enquanto seu rosto ganha um tom avermelhado. Começo a conduzi-la pelo cômodo, como se estivéssemos em um salão. - Girar...- giro seu corpo e a ouço rir. - Comer petiscos muito bons...- colocamos as mãos próximas uma da outra e eu vou para a esquerda e ela para a direita, passo clássico dos bailes. - E o melhor de tudo... - puxo-a pela mão para perto de mim e ficamos nos encarando. - Podemos tomar vinho. 

Destino InfelizOnde histórias criam vida. Descubra agora