Capítulo 23

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- O que? - o rosto de Milah curva-se em uma feição confusa e magoada ao mesmo tempo, fazendo-me sentir a pior pessoa do mundo por lhe dar esta notícia. Minhas mãos estão suando e posso ver meu coração fazer cara feia e dar-me as costas. Pelo bem de tudo e todos, eu preciso sair da casa dos Jones. Não é minha alternativa preferida, mas é a correta. Depois do que houve no jardim e dos sentimentos que vêm crescendo em meu peito, tenho certeza que não posso conviver no mesmo espaço que Killian. Não sem desejá-lo e trair toda a confiança que sua esposa, minha amiga, depositou em mim desde meu o primeiro dia de trabalho.

Passei a noite toda planejando a carta e o que eu diria de convincente nela, sem deixar claro que eu estava quase que fugindo de seu marido. Certamente, não seria nada prudente jogar as cartas na mesa agora, por mais justo e nobre que pareça. Não quero e nem pretendo vê-la triste e, pior, decepcionada comigo. Por isso mesmo acho que essa é a melhor solução, afastar-me daqueles grandes e expressivos olhos azuis me fará bem, irei de esquecê-lo, em algum momento.


Só espero que Jones não seja insistente como sempre e venha procurar-me.


- Sim, Milah. Decidi voltar porque quero e preciso ir embora pelo meu pai, tenho de fazer as pazes e cuidar dele. - digo esperando que ela não comece a chorar e faça as coisas ficarem piores para o meu lado. Estou parada no meio do quarto, enquanto a morena encontra-se sentada na cama, com o cenho franzido e a pena cruzada. - Vou partir amanhã pela manhã. - sua expressão suaviza e torna-se de dó misturada com tristeza, enquanto ela levanta-se e me abraça forte.

- Ah, Emma. Eu sentirei tanto a sua falta. - vejo o anjinho no meu ombro direito levantar uma sobrancelha, desafiando minha ética e moral. Bom, não era totalmente mentira dizer que eu estava voltando pelo meu pai, queria de verdade voltar a ter seu carinho antes que ele morresse também. Mas manter minha sanidade, compostura e dignidade eram os maiores motivos, só estão implícitos na minha fala. Milah solta do abraço e afaga minhas bochechas com um sorriso triste, porém logo para e arregala os olhos.

- Você vai se casar? - diz num sussurro, como se alguém pudesse nos ouvir. Trato de negar com a cabeça, corpo e todo o meu ser no segundo seguinte.

- Não, não, não. Pelo menos não por agora. - ela abre um sorriso surpreso, fazendo-me revirar os olhos. - De qualquer forma... Tenho de voltar para casa. - a Senhora Jones assente com a cabeça e segura minhas mãos com força, olhando-me no fundo dos olhos.

- Sentirei saudade das nossas conversas. Das nossas escapadas para a cidade. - nós rimos juntas. - Da sua cumplicidade, da sua amizade. Por favor, prometa-me que virá nos visitar quando puder. - sua voz falha e seus olhos começam a se encher de lágrimas. Meu coração se aperta ao vê-la assim.

- Só se você prometer que vai me visitar. - Milah agarra meu mindinho com o seu, beijando-os em seguida e fazendo uma promessa.

- Prometo. - sinto o choro começar a vir também e a abraço, acariciando seu cabelo longo e ondulado. Ficamos assim por alguns segundos, apenas sentindo um conforto que não será mais rotina. Como um aviso da realidade, ouvimos uma batida na porta, seguida de um "com sua licença" de uma voz conhecida...

- Senhorita Swan? - Ella aparece, fazendo-me abrir um sorriso. Desvencilho-me de Milah e viro para a loira na entrada do quarto.

- Já disse que pode me chamar de Emma, Cinderella. O que houve?

- Senhor Jones está chamando-a no escritório. - meus ombros endurecem, assim como todo o meu corpo.

- Ele deve falar com você sobre a demissão. Bom, vá Emma, tenho coisas a fazer mesmo. - assinto e respiro fundo, saindo do quarto antes de Cinderella, que foi para a escada, enquanto eu segui para o meio do corredor. Ao chegar, paro na frente da porta e encaro a maçaneta, rezando para que a situação deixasse-me ficar à dois metros de distância de sua loção inebriante. Depois de tomar coragem, bato levemente na madeira, já girando a tranca e abrindo a passagem. Assim que coloco-me inteiramente no cômodo, fecho a porta com as mãos e costas, mirando seu rosto magoado.

Destino InfelizOnde histórias criam vida. Descubra agora