Capítulo 15

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Com os dedos quase brancos pela força que estou fazendo ao segurar a parte de baixo do meu vestido, caminho lentamente até a porta da cozinha, tentando parecer o mais tranquila e natural possível. Dou graças à Deus que Jones não vem atrás de mim e respiro fundo, começando a correr. Não sei o porquê, mas eu sinto que é necessária toda a pressa.

Na verdade, talvez até saiba o motivo de querer apertar o passo:



Ficar mais longe o possível dele.


Ignoro todos os protestos dos meus joelhos, agora pouco tão confortáveis e quietinhos, sendo cobrados de forma quase imediata. Lágrimas caem pelo meu rosto e eu tento a todo custo abafar o som de meus soluços. Acho que nunca chorei tanto em vinte e quatro horas. Não devia ter descido com ele, não devia ter começado aquela porcaria de livro pra começo de conversa. A culpa está alastrada pelo meu corpo, tenho a sensação de sujeira, mas pior que a sujeira física.


Sinto-me suja no coração.


Meu diafragma e intercostal nunca movimentaram-se tão rápido, causando aquela maldita dor no baço aos poucos. Minha mente não consegue criar um raciocínio lógico, estou completamente no automático e não vejo para onde estou indo, mesmo chegando na porta do meu quarto. Ainda com as mãos trêmulas, tiro a chave do corpete e entro no quarto, fechando a porta logo em seguida. Está tudo girando, meu choro não cessa e minha respiração não acalma. Nesse momento turbulento, sei o que pode me fazer entrar nos eixos novamente e, assim, ajoelho-me ao pé da cama.

- S-senhor... - digo, ainda sentindo minha voz falhar, totalmente aguda. - E-eu... Eu gostaria de começar... Pedindo perdão. - os soluços me invadem, porém foco em falar e não apenas chorar. - Perdoe-me por...- respiro fundo, tentando controlar minhas reações novamente. - Por cair em tentação. S-sei que não devia ter me aproximado daquela forma, mas é que... Eu o desejo tanto. - admito num sussurro. - Mas não vim aqui dizer-lhe o que quero ou deixo de querer... Vim fazer uma promessa, bondoso Deus. - pela primeira vez naquela reza, olho para cima. - Prometo a ti que nunca mais tocarei aquele homem. Não daquela forma. Prometo não tocar em mais nenhum, a não ser que estejamos casados. - minha voz já estava menos oscilante e meu coração menos acelerado, assim como a minha respiração. - O que e quem eu desejo não justificam atos tão promíscuos. Senhor Jones é casado com Milah, uma mulher bela e muito iluminada. Pode castigar-me, eu mereço... Não venho sendo uma boa ovelha. Briguei com meu pai e, na noite seguinte, permiti uma proximidade e carícias vindas do meu patrão que foram muito além de apenas amizade. Estou pronta para pagar o que for necessário, espero que ainda possa receber suas benções e ir para o reino dos céus quando partir. Me perdoe, eu te amo. Em nome do pai, do filho e do espírito santo, amém. - faço uma cruz com dedo pela testa, peito e ombros, finalizando com um beijinho na mão. Inspiro todo o ar que consigo, espirando-o e sentindo um alívio em meus ombros. Falar com Ele sempre ajuda-me em momentos complicados como esse.

Depois de trocar de roupa, deito em minha cama e olho para o teto de madeira, pensando em tudo o que aconteceu e como eu queria que não tivesse acontecido. Após alguns segundos refletindo, fecho os olhos e viro de lado, tentando pegar no sono. Minha tentativa é totalmente em vão, já que todos os lugares que ele tocou parecem estar eletrocutados, ou em outro plano do meu corpo. Esfrego o pescoço e maxilar com as mãos, querendo com todo o coração que aquelas sensações fossem embora para que eu pudesse dormir. Fico quieta de novo e todos os seus toques retornam, fazendo-me revirar na cama várias vezes, para lá e para cá, da direita para a esquerda, de um lado para o outro...

Bato com força no colchão, farta de toda essa babaquice e toques eletrizantes. Fecho os olhos e lágrimas voltam a carregar minhas pálpebras, deixando-as mais cansadas do que já estão. Não queria ter sentido, não queria ter deixado ele se aproximar e me tocar daquela forma.


Destino InfelizOnde histórias criam vida. Descubra agora