Com faltando apenas um dia pro baile, encontro-me sentada embaixo da árvore da casa dos Jones, uma macieira alta, com um grande tronco e bem folhada, algumas maçãs avermelhadas e brilhantes já pousavam no chão. Está menos frio do que no início da semana, por isso me permiti sentar na grama verde e macia e aproveitar o céu azul, ainda que com nuvens. Milah está na aula de equitação, então não necessita do meu auxílio, apesar de achar que eu devia aprender a montar.
Nem pensar.
No momento, concentro-me em um livro e suas palavras, como são significativas e completas, elas bastam-se. De repente, paro de raciocinar a sequência de fatos no papel e começo a analisar as palavras de forma concreta, assustando-me logo depois por perceber que não fazem sentido algum. A palavra "mar" é, automaticamente, relacionada ao oceano, a praia, as ondas, água e areia. Sem essas ligações, juntar as letras m+a+r parece inútil, não há porquê.
- Mar...- digo bem devagar, tentando achar um significado por trás dessa palavra ao separá-la da imagem que se forma na minha mente. O incômodo invade-me quando não acho nada. - Não é possível, deve haver algo!
- Deve haver o que? - solto um gritinho ao ouvir a voz grossa do meu lado e coloco a mão no peito com o coração disparado, vendo Jones sentar ao meu lado na grama.
- Que susto, Jones! - um leve sorriso abre-se em seu rosto enquanto sua mão vai ao meu braço, fazendo um carinho.
- Perdoe-me, Emma. Não quis lhe assustar. - assinto e abaixo a mão de volta ao meu colo. - E Jones? - franzo o cenho e entorto um pouco a cabeça, não entendendo o seu último comentário. - Você nunca me chamou assim. - seus olhos brilham em divertimento, mas logo balancei a cabeça em negativa.
- Claro que sim, já te chamei assim várias vezes.
- Não, você só me chamou de Senhor Jones, não só pelo sobrenome. - olhei em seu rosto e percebi que ele tinha razão, só chamava-o assim em minha mente.
- Tem razão... Desculpe-me, Senhor, se você não... - fui rapidamente interrompida.
- Eu gostei. - Killian sorriu sem mostrar os dentes para mim. - E não quero que me chame mais de Senhor, sinto-me muito velho.
- Mas é a etiqueta. - ele revirou os olhos e sorriu ainda mais.
- Sim, sim, a maldita etiqueta. Quem liga para ela, Emma? Você sabe meu nome e eu sei o seu, vamos usá-los! - abro a boca, mas nada sai. - Particularmente, acho isso tudo uma bobeira. Tanto nome, tanto predicativo, adjunto... Para que? As regras só dificultam as coisas.
- Mas botam as pessoas em seus devidos lugares. - Killian vira mais seu tronco para olhar-me.
- Que lugar, Emma? Somos todos humanos, somos livres! A sociedade criou que eu sou superior a você, mas não necessariamente isso é verdade. Podemos ficar no mesmo patamar, todos temos sentimentos, cérebro e coração. O que nos diferencia é o que o Estado divide. - sinto que ele pega minha mão e faz carinho com o polegar. - Somos amigos, não somos? - Jones olha-me esperançoso e eu confirmo. - E não somos diferentes, não dessa forma hipócrita que nos fazem acreditar. Posso te tratar como qualquer dama cheia de jóias em um salão real, pois você não é menor ou maior que ela... Apenas no quesito intelectual. - faço um 'O' tentando não rir.
- Jones! Que coisa desagradável de se dizer. - dou um empurrãozinho em seu ombro enquanto ele ri e solta minha mão.
- Viu? É muito mais divertido quando não pensamos nos 'bons modos'. - Killian olha-me e, logo depois, parece que se lembra de algo. - E o que devia haver algo quando eu cheguei? - balanço a cabeça e volto a mirar as palavras no livro.
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Destino Infeliz
Roman d'amourKillian Jones, filho de um grande Senhor, não tem problemas com casamentos arranjados, estava disposto a casar-se de bom grado com Milah, herdeira de um grande título, até que o destino resolve lhe pregar uma peça, mudando completamente seu foco. Ou...