Destino Infeliz

Capítulo 17

A impressão que eu tenho, é que está tatuado na minha testa em letras grandes: T R A I D O R A.

Eu estou com Milah na feira, sendo rodeada por lojas, barracas e muitas pessoas, as quais sinto que estão de fato olhando para mim com desdém. Talvez seja só loucura da minha cabeça, talvez minha mente esteja tão sobrecarregada que está começando a ver coisas. Tanta coisa tem acontecido: meu pai, Jones, Milah, até o Bealfire ainda me bagunça. Estou precisando urgente de umas férias.

Apesar de não conseguir controlar o que penso, pois constantemente sou invadida por nuvens questionadoras e julgadoras, tenho controlado muito o que meu corpo tem desejado. Quem, nesse caso. A todo momento que fecho os olhos, vejo-o e sinto seu calor em mim, mas sempre obrigo-me a pensar em sua esposa e no quão imprudente eu fui. O desejo vai embora rapidamente. Toda via, não sei se serei capaz de aguentar mirá-lo todos os dias, como um maldito lembrete daquela noite e do que eu não devia sentir. Olhar no rosto de Milah também tem sido um castigo, principalmente quando ela me encara com os olhos cheios de alegria, amor e compaixão. Seria muito mais fácil se eu não gostasse dela.

Por Deus, essa mulher não poderia ser nem um pouquinho arrogante?

A única forma de livrar-me de tudo isso seria demitindo-me, o que até me parece uma boa alternativa, mas, nesse momento, eu preciso do dinheiro. Com o papai doente, a única forma de nos sustentarmos seria usarmos nossas economias, que até segurariam as necessidades por tempo, porém acabaria em poucos meses. Eu precisaria de uma terceira opção, que não envolvesse poupança ou trabalho, já que sempre demora para me contratarem de novo. Teria de ser um sustento, um apoio, um contrato...

Uma junção de famílias.

Bealfire e sua proposta prontamente clareiam minha mente e ao mesmo tempo que uma luzinha acende em minha cabeça, quase reviro os olhos de desgosto. Sim, seria uma possibilidade, apesar do provável futuro não tão agradável. Mas talvez eu possa aprender a amá-lo, não é?  Algo de bom ele deve ter, eu só não achei ainda.

Balanço a cabeça e obrigo-me a prestar atenção na voz de Milah enquanto passamos e esbarramos em algumas pessoas.

- ... Eu tinha uns vestidos desse estilo, mas nunca gostei muito de babado... E você? - olho para seu rosto e sorrio sem mostrar os dentes.

- Não parei para pensar nisso ainda, porém acredito que gosto sim... Só não demais. - ela ri.

- Claro, claro, tudo que é em demasia se torna ruim. Até mesmo chocolate. - franzo o cenho e o meu sorriso se abre mais. É quase impossível ficar séria perto dela. - E isso é muito estranho, porque chocolate é uma das melhores coisas no mundo inteiro! - Milah para de falar e andar, virando-se para mim com os olhos brilhando em alegria. - Vamos comer chocolate? Tem uma lojinha aqui perto que vende os melhores da região! - assinto com a cabeça e ela dá um gritinho feliz, puxando-me pela multidão. Após passarmos o grande fluxo da feira, viramos duas vezes a direita e, no início da nova rua, está a famosa loja, cheia de cartazes chamativos na vitrine. A Senhora Jones entra, ainda entrelaçada ao meu braço e, quase que instantaneamente, o cheiro maravilhoso e inesquecível de chocolate invade minhas narinas.

- Uau. - digo depois de expirar e abrir os olhos, encontrando Milah sorrindo para mim.

- Venha, vamos nos sentar. - acompanho-a e me acomodo em sua frente. O lugar não está tão cheio, então conseguimos pegar uma mesa ao lado da janela, dando-nos a vista da rua movimentada e de algumas montanhas. A morena chama em um aceno a garçonete, que prontamente vem à nossa mesa.

- Boa tarde, Senhora Jones. Senhorita. - a mulher nos cumprimenta. - Gostariam de alguma bebida? - Milah nega logo em seguida.

- Não, querida, obrigada... - ela para de falar o olha para mim. - Você quer, Emma? - balanço a cabeça em negação. - Bom, então queremos duas bombas, por favor. - a moça em nossa frente anota nosso pedido e logo sai. - Já comeu bombas de chocolate? - assinto.