Capítulo 7

4K 316 73
                                    

[Barbara Passos]

Eu não conseguia dormir, não importava o quanto tentasse, não conseguia cair no sono. Eu estava exausta mental e fisicamente, mas não consegui relaxar o suficiente. Os eventos estranhos nos últimos dias agitavam minha mente. A oferta inesperada de Victor, minha resposta mais inesperada ainda e tudo que estávamos prestes a fazer: viver sob o mesmo teto, com todas as nossas diferenças que dificultam ainda mais nossa convivência diária. Isso até acabar esse plano vazio dele. O plano vazio no qual agora eu estava totalmente envolvida, tanto quanto meu chefe.
O apartamento era silencioso, não havia literalmente nenhum barulho. Eu estava acostumada com sons que me rodeavam a noite, carros passando na rua, outros inquilinos andando pra lá e pra cá, gritando uns com os outros, o som constante de sirenes e violência do lado de fora da minha janela. Eram esses ruídos que me mantinham acordada, algumas vezes com medo. Mesmo agora que não tinha nada eu não conseguia dormir, sabia que estava segura aqui, bem mais do que o quarto horrível em que morei no último ano. Eu deveria conseguir relaxar e dormir tranquilamente, mas nada acontecia.
Esse silêncio todo estava me incomodando.
sai da cama e fui até a porta, não havia nem mesmo barulho dos vizinhos. Andei na ponta dos pés pelo corredor parando na frente da porta do que eu sabia que era o quarto de Victor Augusto. Ela estava entreaberta e corajosamente abri um pouco mais enfiando a cabeça na abertura. Ele estava dormindo no meio da cama gigante, sem camisa com sua mão descansando no peito. Seu cabelo brilhante refletia contra cor escura dos lençóis, e para minha surpresa ele estava roncando. O som era sutil, mas constante. Ele estava relaxado e olhando assim, ele parece mais jovem e menos hostil na luz silenciosa da lua. Saí dali antes que ele acordasse e me pegasse o observando, no entanto, eu precisava ouvir o som da sua respiração regular e seu ronco estranhamente engraçado pra saber que eu não estava sozinha naquele lugar enorme e desconhecido. Enterrei meu rosto no travesseiro e, pela primeira vez em meses, chorei.

Pisquei os olhos e já eram quase sete da manhã. Levantei indo até a cozinha fazer meu café, sem saber que tinha companhia.
Victor: caiu da cama? — disse apoiado sobre o balcão, atento aos meus movimentos.
Babi: sempre acordo nesse horário, ao contrário de alguns, nunca tive a vida ganha — respondi com um sorriso falso — café?
Ele pegou sua xícara me fazendo enche-la.
Nos sentamos de frente para o outro, em um completo silêncio. Até que ele resolve acabar com a paz do lugar.
Victor: entregarei sua carta de demissão hoje ao RH, quero que me ajude a colocar minhas coisas na caixa quando chegarmos ao escritório.
Concordei, me levantando junto com ele.
Victor: a propósito, depois do almoço te levarei ao centro para... — ele disse percorrendo meu corpo inteiro com seu olhar — você sabe o que.
Revirei os olhos, serio, Victor Augusto?
Victor: vejo você no escritório — rindo, me fazendo arrepiar — floco de neve.
Nada era tão ruim que não pudesse piorar. Que apelido r i d í c u l o.

Mais tarde, já no escritório, ajudei ele a embalar e colocar todos os seus pertences dentro de caixas depois que eu havia feito o mesmo com as minhas coisas. Estávamos dentro de sua sala há alguns minutos fazendo isso, quando escutamos a porta ser aberta com um empurrão.
Pedro: o que porra está acontecendo aqui? — disse visivelmente irritado. Minha aposta? Ele já soube do pedido de demissão meu e de Victor e já deve imaginar o motivo.
Victor: acho que acabamos aqui, Bárbara. Vá para sua mesa e me espere — paralisei quando seus dedos tocaram minha bochecha — meu bem, vá!
Completamente perdida, fiz porque ele me pediu. Não havia andado mais do que dois metros e já podia escutar os gritos de Pedro.
Pedro: você está fodendo sua assistente, Victor? Está tendo um caso com ela?
Victor: não é um caso — disse debochado — estou com ela ha meses. Estamos juntos.
Pedro riu, uma risada seca e irritada. Ele estava completamente fora de si, Victor sabia exatamente como o tirar do sério.
Pedro: apaixonados é? Você nem mesmo a suporta, estava tentando se livrar dela a meses.
Victor: um bom disfarce. Que você caiu feito um babaca.
Pedro: você acabou de assinar seu atestado de morte nesta empresa — sua voz era fria, fechei meus olhos respirando fundo.
Victor: tarde demais — ele empurrou sobre a mesa dois papeis, nossas cartas de demissão — eu me demito. Assim como minha noiva.
Pedro: sua noiva? — mais uma vez ele estava rindo cinicamente para Victor — vai jogar sua carreira no lixo por causa de uma puta qualquer? Você já foi mais inteligente, Victor.
E foi assim, aconteceu muito rápido, não tive tempo de impedir. Em um segundo Pedro estava gritando, no outro Victor estava em cima de Pedro com a mão flexionada tão apertada no pescoço dele que os nós de seus dedos estavam brancos. Ele seguiu sobre Pedro com o peito subindo e descendo com sua respiração pesada. Victor era a imagem exata de um homem protegendo alguma coisa ou alguém que ele amava.

Victor: nunca fale dela assim de novo. Nunca mais sonhe em mencionar seu nome em uma frase que tenha adjetivos tão escrotos como aquele. Estamos saindo daqui hoje, estou farto de você e dessa empresa de merda — ele se levantou, se ajeitando enquanto Pedro continuava esticado no chão impotente.
Pedro: vai se arrepender disso, Victor — disse limpando o sangue em seu rosto.
Victor: meu bem, pegue suas coisas. estamos indo — Victor passou por mim me levando até minha mesa.
Saímos de sua sala ignorando Pedro que agora esbravejava feito um louco atrás de nós. Outros funcionários e executivos ficaram olhando, agitados. Mantive meus olhos nas costas de Victor, seguindo-o até o elevador certa de que ele estava se exibindo. Ele mantinha a cabeça erguida ombros para trás e nada envergonhado pela cena que estava causando. Quando ele chegou no elevador, apertou o botão e se virou para a pequena multidão que estava assistindo, sem saber o que estava acontecendo, mas adorando aquele drama todo. As portas se abriram e ele colocou as caixas no chão do elevador. Entramos, conforme a porta do elevador começou a fechar, ele colocou o braço para fora forçando para reabri-lo.
Victor: E para que possam parar de fofocar e imaginar tudo. Sim, Bárbara e eu estamos juntos. Ela é a melhor coisa que essa empresa fez por mim.
Depois disso, ele me pegou pela cintura e me arrastou até seu corpo quente e firme me beijando forte conforme as portas se fechavam novamente, deixando boa parte das pessoas que nos olhavam, boquiabertos.

LOVE AND HATEOnde histórias criam vida. Descubra agora