[Victor Augusto]
Depois de mais algumas doses de uísque, finalmente estávamos indo embora. Bárbara chamou um taxi, eu não poderia dirigir.
Bebi mais que o normal, ajudou a tranquilizar a irritação que eu sentia toda vez que eu via Bárbara rir, sorrir ou fazer mais um amigo. Não entendia porque eu me importava ou porque isso me incomodava, ela estava encantando as pessoas. Se elas gostassem dela, me daria uma chance porque ninguém acreditava que uma pessoa tão boa e gentil se apaixonaria por um desgraçado como minha reputação dizia.
Seguimos para casa sob o olhar preocupado dela. Quando chegamos, ela me ajudou a sair do carro, a subir as escadas e a tirar meu blazer.
Babi: você ao menos comeu alguma coisa lá?
Victor: não, mas estou bem — falei tentando me livrar da tontura.
Babi: vou fazer alguma coisa para você, vai te ajudar a se sentir melhor depois de todos aqueles... — de saco cheio, eu a interrompi.
Victor: pare de agir como se importasse como eu me sinto ou com o que eu preciso — fui até o bar e peguei um copo — eu disse que estou bem, vou beber outro drinque.
Babi: não acho que seja uma boa ideia você continuar bebendo. Você já tomou bastante doses desse uísque.
Sem pensar, segurei seu braço um pouco forte a obrigando olhar para mim.
Victor: você não toma decisões por mim. Se eu quiser beber, eu bebo.
Ela me olhava confusa, sem entender toda essa minha irritação.
Babi: porque está bebendo tanto, Victor? Você já conseguiu a porra do seu emprego. Enganamos eles perfeitamente e tudo saiu como você planejou — disse me encarando com aqueles olhos arregalados — pare de agir como se tudo tivesse dado errado.
Explodiu. Tudo que eu estava sentindo a noite toda, toda a irritação em como eles a aceitavam tão facilmente em sua família e a frustração de eu ser o único de fora e a forma estranha como eu reagia quando ela estava perto. Quase como se eu gostasse disso.
Eu não deveria gostar. Não gostava dela.Victor: me diz, Bárbara. Você acha que quando concordou com essa farsa, você iria conseguir me mudar? Me tornar mais gentil e amável como você? Por isso tenta me tratar sempre da melhor forma? — aproximei-me com a raiva crescendo dentro de mim — é isso que pensa?
Ela balançou a cabeça discordando, seus olhos estavam assustados.
Victor: então porque concordou com essa merda toda? Porque está fazendo isso por mim?
Ela permaneceu em silêncio, seus dentes mastigando seus lábios por dentro tão forte que pensei que sairia sangue. Xingando, soltei-a.
Victor: sai da porra da minha frente.
Peguei sem olhar a garrafa de uísque, servi uma dose generosa e mandei o líquido pra dentro, ele queimou minha garganta e meu peito. Despejei novamente o líquido e fui até a janela olhando para Belo Horizonte inteiramente iluminada.Atrás de mim Bárbara não se mexia, eu ia dizer pra ela ir embora de novo, mas ela finalmente pareceu tomar coragem.
Babi: Marcia não é minha tia ou algum parente de sangue. Simplesmente chamo ela assim para não precisar explicar nosso relacionamento toda vez — ela continuava em pé ali, mas suas palavras eram firmes. Ela nem ao menos gaguejava. Seus olhos estavam fixos nos meus — Quando eu tinha 12 anos perdi meus pais em um acidente de carro. Eu não tinha mais ninguém, acabei ficando para a adoção.
Essa novidade me deixou surpreso, embora tenha permanecido quieto. Eu sabia que seus pais tinham morrido, mas ela nunca mencionou a adoção.
Babi: você deve saber que garotas de 12 anos não são bem vistas, depois dos 5 anos você se torna invisível para qualquer um que queira adotar — em seu rosto estava um sorriso, porem sarcástico — eu passei por diferentes lugares. O último não foi muito, hum, legal.
Neste momento, eu estava me sentindo horrível, mas ela ainda não havia acabado.
Babi: morei na rua por um pequeno tempo e, um dia, conheci Marcia. Ela era uma senhora de idade muito gentil que me levou para a casa dela e cuidou de mim. Resolvi ficar ali com ela. Logo Marcia conseguiu minha tutela, a minha guarda e tudo parecia bem novamente. Ela foi tudo pra mim, mãe, amiga, professora. Nosso tempo juntas era tudo que eu mais amava, e ela me ensinava tantas coisas e pela primeira vez depois que meus pais se foram eu me senti segura e amada — lágrimas correram por seu rosto enquanto ela me falava todas aquelas coisas — Até que fui para a faculdade. Minhas notas era boas no ensino médio, consegui passar em um vestibular e era tudo que eu sonhava.
Victor: você não terminou a faculdade — lembrei disso onde estava escrito nas páginas de suas anotações que ela havia me entregado dias atrás.Babi: Marcia ficou doente. Ela tem Alzheimer, com o tempo foi piorando até que eu não podia deixa-la sozinha em casa. Ela precisava de cuidados a todo momento, e eu não podia estar ali para ela. A casa em que coloquei ela inicialmente era horrível, ela não ficava bem lá então logo achei uma melhor, que é onde ela está no momento, mas é o dobro do que eu pagava.
Victor: porque está me contando tudo isso?
Babi: pare de ser tão impaciente e me deixe terminar, Victor.
Assenti, levantando minhas mãos.
Babi: o propósito disso é que percebi que ela precisava desse lugar, lá ela fica mais animada e consegue até pintar como antes. Larguei minha faculdade e logo saiu uma vaga para a empresa de Pedro. Comecei lá e depois de algumas semanas, fui chamada para ocupar o lugar de sua antiga assistente pessoal. O salário era maior, já que você era difícil de lidar então aceitei. Eu precisava aceitar.
Victor: o dinheiro sempre fala mais alto — falei ironicamente. Efeito da bebida.
Babi: geralmente não é assim para mim, mas o aumento significava que eu poderia dar um quarto melhor para Marcia naquela casa de repouso, estava bem cuidada e segura. Eu lhe dei o mesmo conforto que ela me deu durante os últimos anos quando me adotou. — ela me olhou friamente — eu não me importava o quanto meu dia era uma merda, normalmente por sua causa, porque no fim eu veria a mulher que cuidou tão bem de mim ter o mesmo cuidado.Por mais que estivesse bebado, suas palavras me atingiram. Eu estava admirado com toda a sua atitude. Sempre tive essa sensação, mas agora era certa. Eu era um miserável perto dela.
Babi: nunca me importei com roupa, moradia ou qualquer outra coisa. Não ligava em economizar ao máximo para conseguir pagar a estadia de Marcia. Eu sempre estava arrumada e apresentável para você. Aguentei todas as coisas horríveis que você disse e fez e as ignorei para que pudesse manter meu emprego, porque fazendo isso tinha certeza de que Márcia estaria segura — agora era a parte em que eu me sentia ainda mais horrível com tudo que a fiz passar — concordei em ser sua noiva porque o dinheiro que está me pagando garante, até ela morrer, que nunca ficará com medo, frio ou mal cuidada. Não ligo para o que você diz ou faz, porque a sua opinião não significa nada. Este é simplesmente um emprego para mim e por mais que eu odeie isso, tenho que deixar você ser o babaca que sempre é porque, infelizmente, preciso de você tanto quanto você precisa de mim nesse momento — ela se virou para subir as escadas a sua frente, mas parou — e não, eu não espero te tornar um homem melhor ou algo do tipo, Victor. Não preciso perder meu tempo tentando fazer algo que é impossível para um cara como você — ela inspirou profundamente me encarando agora com raiva, ou pelo menos mais ainda do que já estava — e quando essa farsa acabar, vou embora e começar tudo de novo em outro lugar. Quando eu não tiver mais de me submeter a suas piadinhas cruéis e seu jeito arrogante, minha vida será muito mais fácil.Com isso ela subiu correndo as escadas, parecia chorar. E eu fui deixado perdido sem palavras naquela sala imensa e vazia.
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LOVE AND HATE
FanfictionVictor é um arrogante bem sucedido que trabalha pra uma grande empresa de administração. Depois de anos sendo passado para trás, a grande oportunidade de se vingar de seu antigo chefe o cega da razão. Ele precisaria confiar na pessoa que mais d...