Capítulo 5

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[Bárbara Passos]

Carregando seu café com todo o cuidado do mundo para não derramar nada no chão, me aproximei de sua sala, com uma leve batida só entrei quando recebi sua autorização. Seus comentários grosseiros foram ditos por mais de uma semana da última vez que me esqueci de bater antes.
Victor: sente-se, srta. Passos — meu coração der repente se acelerou. Merda. Ele finalmente conseguiu convencer Marcos sobre me demitir? Sei bem que ele estava tentando fazer isso desde a primeira semana que entrei. Tentei manter minha respiração regular, eu não posso perder esse emprego. Ainda mais agora.
Sentei-me nervosamente na poltrona de frente pra ele que me olhava me intimidando. Um arrepio traçou minha espinha.
Babi: algum problema, sr. Augusto?
Victor: o que discutirmos aqui dentro, espero que não saia daqui em hipótese alguma. Tudo bem, srta. Passos? — disse sem rodeios, seus olhos estavam travados nos meus. Algo que raramente acontecia, já que na maioria das vezes ele ignorava minha existência. Assenti, estranhando.
Victor: preciso de você para resolver uma questão pessoal — disse tomando um gole de seu café, parecia nervoso. Fiquei analisando-o enquanto ele organizava seus pensamentos. Ele era ridiculamente bonito. Poucos mais de 1,80, ombros largos e braços tonificados. Ele dedicava boa parte de seu dia a treinos. Mantinha seu cabelo castanho escuro de lado, mas mais comprido em cima, e tinha um topete fazendo com que uma parte caísse em sua testa. Uma imperfeição que só o tornava mais perfeito. Seus olhos cor de mel olharam pra mim, ele endireitou os ombros, recuperando o controle.
Victor: preciso que vá nesse endereço esta noite. Ao fazer isso, colocarei muita confiança em seu silêncio. Pode estar lá às sete? — ele queria me pedir algo? Não iria me demitir? Um leve tremor de alívio possou pelo meu corpo. Olhei para o cartão notando que o endereço não era longe de onde eu visitaria Márcia após o trabalho, para chegar lá às sete, no entanto, teria de ficar pouco tempo com ela já que meu expediente terminava perto das 18:30h. Ergui meu olhar decidindo ser honesta.

Babi: tenho um compromisso perto desse horário — esperei sua ira, provavelmente ele me pediria para desmarcar. Mas insisti — não poderei chegar pontualmente.
Fiquei surpresa quando ele apenas suspirou.
Victor: sete e meia? Oito? Você consegue? — assenti — tudo bem, vou me certificar de que meu porteiro saiba que você poderá entrar. Ele vai manda-la direto para meu andar.
Me engasguei, surpresa. Seu porteiro? Ele estava me pedindo para encontra-lo em sua casa? Levantei-me estranhando.
Babi: está tudo bem, sr. Augusto?
Victor: em breve ficará, eu espero — ele olhou para o relógio — tenho uma reunião agora. Obrigado pelo café e por seu tempo.
Ele pegou sua caneca e saiu da sala me deixando parada ali imaginando se eu havia entrado por engano em algum universo paralelo. Nunca, em um ano e meio trabalhando para ele, ele havia me agradecido.
O que está acontecendo?

Fiquei do outro lado da rua do prédio do sr. Augusto, olhando para a estrutura alta. Era incrivelmente bonita e cara. Provavelmente aquilo valia uma fortuna.
Seu apartamento ficava a pouco menos de 10 minutos da casa de repouso de Marcia. Não foi um bom dia para ela, ela estava chateada e agitada, recusando-se a comer ou conversar comigo então acabei saindo mais cedo. Eu estava decepcionada, ela estava bem nos outros dias da semana, mas hoje tudo havia mudado.
Inspirei fundo para me acalmar. Arrumei minha postura e atravessei a rua.
Quando subi, sr. Augusto logo me recebeu abrindo sua porta antes mesmo que eu batesse. Ele não vestia seus luxuosos ternos, pelo contrário, era a primeira vez que eu o via vestido casualmente com uma bermuda cinza e blusa branca folgada e descalço, estava quente. Muito quente. E nem falo sobre o tempo. Por um momento me segurei para não rir de seus dedos do pé, eram estranhamente engraçados. Ficamos parados olhando um ao outro, eu nunca havia visto Victor Augusto desconfortável e nervoso. E era exatamente sua reação no momento.
Victor: estou jantando. Quer me acompanhar?
Babi: estou bem — menti, eu estava morrendo de fome.
Victor: duvido.
Babi: como é?
Victor: você está muito magra. Precisa comer mais — disse e sem que eu percebesse ele pegou meu cotovelo e me guiou para a cozinha.
Victor: sente-se — ele se virou pegando uma caixa de pizza e colocando sob o balcão a nossa frente.
Babi: esse é o jantar? — perguntei, ele assentiu como se fosse perfeitamente normal isso. Não contestei.
Depois de alguns minutos comendo em um estranho silêncio sendo observada por aqueles olhos negros. Ele finalmente se levantou parando em minha frente.

Victor: srta. Passos, estou saindo da empresa de Pedro — disse me olhando seriamente. Fiquei boquiaberta. Porque ele faria isso? Ele era um dos melhores, senão o melhor daquela empresa.
Babi: por que? O senhor é... — perguntei demonstrando a incompreensão em minha voz, mas parei de falar quando percebi o que aquilo significava. Se ele saísse e a empresa escolhesse não me realocar, eu não teria mais emprego e mesmo se eles me realocassem, meu salário seria diminuído. De qualquer forma estava ferrada — por que está me contando isso?
Victor: porque preciso da sua ajuda — engoli seco. Como é? Nada estava fazendo sentido. Ele se aproximou mais ainda — quero contratar você.
Minha mente estava acelerada. Eu tinha plena certeza de que se ele seguisse em frente, iria querer uma pessoa nova. Ele nem mesmo gostava de mim. Limpei a garganta.
Babi: ainda como sua assistente pessoal?
Victor: não — ele parou, agora bem mais perto de mim, como se tentasse reunir coragem e então finalmente falou — como minha noiva.

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