Capítulo 52

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[Victor Augusto]

Ela não queria me ouvir. Agora, cara a cara, eu vi mais ainda as consequências do meu erro. Ela nem mesmo conseguia olhar em meus olhos por mais de segundos, sempre os desviavam para outro lugar, quando o que eu mais queria era que ela visse o quanto eu estava arrependido.
Victor: eu nem sei por onde devo começar, foram tantas coisas acontecendo em dias — acalmei minha voz, olhando para ela.
Babi: do começo.
Sempre tão compreensiva.
Victor: primeiro de tudo, eu não tive a chance de te contar, mas eu pretendia fazer isso em breve — respirei fundo, me preparando para despejar tudo — lembra da mulher que te contei, a pessoa que foi minha única figura materna quando eu era moleque?
Ela assentiu, sem dizer nada. Então continuei.
Victor: eu a conhecia somente como Helena, para mim, apenas Lena. Mas seu nome era Marcia Helena Mancini.
Quando olhei novamente para Bárbara, sua boca estava se abrindo lentamente conforme ela processava a informação. Seus olhos piscando freneticamente tentando entender a dimensão daquilo tudo. Nosso maior vínculo, era Marcia Helena. Foi por ela que Bárbara aceitou meu contrato, e foi por esse contrato que me apaixonei por essa mulher.
Babi: isso é, isso é muita coincidência, como... — eu peguei em sua mão fazendo-a parar.
Victor: eu sei, fiquei sabendo quando fui assinar os documentos dela quando ela faleceu.
Uma lágrima solitária desceu pela bochecha de Bárbara.
Babi: e ela nem mesmo sabia quem era você, talvez não tenha se dado conta quando te viu — com nossas mãos entrelaçadas, meus dedos acariciaram os dela em forma de apoio. Mas logo que ela percebeu tudo aquilo, e tratou de retira-la da minha.
Babi: uma já foi, quantas mais você tem guardadas aí? — perguntou séria — eu acordo cedo amanhã e também preciso acabar uns projetos, se você for mais breve, eu agradeceria.

Victor: Bárbara, pare de fingir indiferença. Pare de me tratar como se eu não fosse ninguém — eu pedi, da forma mais sincera que encontrei. Seus olhos tremeram, mas logo ela assentiu.
Victor: quando você me perguntou, a um tempo atrás, se eu já havia me apaixonado, neguei — ela me encarou, levantando uma de suas sobrancelhas, sinalizando para que eu continuasse — eu menti. Já me apaixonei por uma mulher, e por causa dela me fechei completamente para o amor.
Babi: e porque mentiu? — ela perguntou, seu rosto confuso.
Victor: porque eu não queria meu passado de volta ao meu presente, mas esqueci que nada permanece lá. Nosso passado sempre volta para nos assombrar — seus olhos se reviraram, em desprezo.
Babi: uau, já pensou em escrever um livro de auto-ajuda? Essa frase ficaria boa na capa — debochou.
Victor: ela voltou. Quando você ainda estava se recuperando da morte de Marcia — Bárbara se fechou completamente, pareceu entender a situação de imediato — ela me ligou, depois de anos sem nenhum contato.
Babi: e então você recordou sua paixão, foi ao seu encontro e esqueceu completamente do que tinha em seu presente. Bela história! — disse batendo palmas, quando se levantou pegando sua bolsa e saindo do meu alcance.
Eu tentei ir atrás dela, mas me atrapalhei com a toalha da mesa, perdendo-a de vista.

Fui até o caixa para fechar a conta, depois segui para o lado de fora procurando por ela. Nada, provavelmente havia pegado um taxi.
Essa conversa não ia terminar aqui.
Manobrando meu carro, dirigi ate sua casa. Minutos depois, eu estava em frente a porta de seu apartamento. Quando bati, pude escutar sua voz me pedindo para ir embora. Insisti, até que ela atendesse.
Babi: qual o seu problema? Eu pedi para ir embora! — ela disse firme, me encarando.
Victor: me deixa explicar tudo, é só o que te peço, por favor.
Ela simplesmente fechou a porta na minha frente, me deixando plantado ali. Orgulhoso, me sentei no tapete de boas vindas, e comecei a falar, sabendo que ela estava ouvindo do outro lado.
Victor: quando conheci ela, ela era jovem e feliz. Naquele momento, eu pensei ter finalmente encontrado alguém que correspondesse meus sentimentos, mas o que tive anos depois foi o contrário — encostei minha cabeça na porta, lembrando de tudo — ela com o tempo se tornou fria, amarga e só ligava para o que eu oferecia a ela de valioso. Ela ligava para bens materiais, não para o amor. Até que cheguei ao meu limite, rompendo nosso noivado. E então, ela não aceitou, ficou atrás de mim por meses até eu descobrir que ela usava meus presentes para comprar droga. Ela era usuária de cocaína, logo depois que terminamos, ela decaiu mais ainda. Teve duas overdoses em um período de 3 meses, até ser internada em uma clínica, totalmente custeada por mim, porque eu ainda a amava independente de tudo. Me senti culpado por a ter deixado naquele estado, e então ela ficou nessa clínica por quase um ano, depois disso teve outra recaída tendo de voltar para lá novamente. Eu prestei toda a ajuda necessária a ela e sua família por meses, até que perdi o contato completamente com eles. Quando eu estava com você, pelo que eu sabia, ela ainda estava nessa clínica se tratando. E então, ela me ligou.

Parei de contar, apenas para saber se ela ainda estava ali me escutando.
Victor: você ainda esta aí? — perguntei olhando para a porta.
Depois de algum tempo, escutei sua voz baixa.
Babi: estou — sorri tristemente com sua confirmação.
Victor: ela me ligou, já sabendo do nosso casamento. Por um momento, pensei que sua ligação era para pedir dinheiro ou para me convencer a voltar para ela. Quando eu a questionei, ela me pediu para encontra-la e então eu fui, porque por mais que eu estivesse apaixonado por você, eu ainda me preocupava com ela — confessei. E então a porta se abriu atrás de mim. Me levantei rapidamente para encontrar Bárbara com os olhos vermelhos de lágrimas, mas ela não estava triste. Sua expressão era de raiva quando ela jogou varias fotos contra meu peito. Consegui segurar algumas, mas a maioria caiu no chão. Me agachei para olha-las, sem entender o que elas significavam.

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