Capítulo 3 - Encarando a Realidade

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Quando os primeiros raios de sol entram pela janela, nós ouvimos uma batida na porta. Olho pra Peeta em reflexo, pronta para o pior. Nossos olhares se cruzam, como se estivéssemos pensando a mesma coisa, e de fato, nós dois somos mais que um time. Basta um simples gesto, mudança no tom de voz ou olhar, que percebo facilmente o que ele esta sentindo ou pensando, e isto é recíproco. Saímos de nossas cadeiras sem fazer barulho algum e abaixados. Vou ao meu quarto o mais depressa possível e pego meu arco, ponho minha aljava nas costas com flechas comuns. Encontro Peeta empunhando uma faca e aceno para ele ficar atrás de mim. Ele balança a cabeça, em negativo, e vai em direção às janelas, espreitando uma a uma ao redor da casa.

Ele tem uma arma na casa dele, mas infelizmente está longe. A batida na porta se repete. Mas dessa vez é diferente. Dois toques e dois leves arrastos, um código que eu e os guardas usamos, mas a primeira batida foi diferente, e levou muito tempo pra este código ser usado. Saio do medo pra desconfiança. Ouço a voz de Gale. Peeta vai em direção à porta e a abre, sob meu olhar de reprovação, que ele ignora, segurando firme a faca nas costas.

Abaixo meu arco quando os dois se cumprimentam, e um dos guardas entrando atrás dele.

- Está tudo bem, Srta. Katniss? - me pergunta o guarda.

Aceno positivamente com a cabeça. Ele sai, deixando Cressida e Pollux entrarem também. Uma grande surpresa, mas as feições são de pesar, e eles pareciam exaustos.

Nenhum de nós se abraçou, como seria o normal. Parece que além da morte da presidente, há algo mais de errado. Mantenho a desconfiança. Peeta me olha de relance, fechando a porta atrás de todos, e com a faca ainda escondida.

Com o som da porta batendo, Gale olha de reflexo para trás, para Peeta, que responde com seu mais simpático sorriso de bom moço, acenando positivamente para ele com a cabeça. Conheço aquele olhar. Peeta poderia matá-los ali mesmo, caso necessário, para nos defender. Eu estava disposta a fazer o mesmo, exceto com Gale. E é justamente ele o primeiro a falar, em um tom mais que fúnebre.

- Katniss. A presidente Paylor foi envenenada de noite antes do jantar. De madrugada, ela não resistiu, e se foi.

- Ficamos sabendo no jornal. - disse Peeta, sério agora, e sem sair do lugar.

Permaneço em silêncio, séria e fria. Afinal, não sei se eles estão sob ordens de alguém, nem quem é esse alguém, ou se estão por vontade própria.

- Katniss, está tudo bem? - pergunta Cressida, se aproximando do jeito dela.

Até mesmo Pollux está sério, porém é difícil não se sentir entre amigos com ele.

Aceno com a cabeça:

- O que vocês estão fazendo aqui?

Pollux gesticula com a mão, indicando sinal de mergulho.

- Viemos escondidos de trem desde antes da presidente falecer. Nós ficamos sabendo do ocorrido durante a viagem ontem à noite, e vimos que tomamos a decisão certa. - responde Cressida, após olhar pro avox.

Peeta logo pergunta de que decisão eles estavam falando. Gale se exalta:

- De fugir daqui. De tudo. De Panem. Eu lhe disse que deveríamos ter fugido pra floresta. Tudo o que fizemos não adiantou em nada, Katniss. - completa Gale.

- Se tivéssemos fugido, eu não teria estado lá pra salvar minha irmã dos jogos.

- E a salvou depois?

Se Haymitch me visse agora, diria que esta foi a expressão mais carrancuda que já viu partir de mim. Gale tem nutrido nos últimos anos um dom que parece ter adquirido dele de me irritar. E ele ainda faz questão de completar a frase dizendo que Prim acabou morrendo do mesmo jeito, o que me faz apertar o arco com toda a força.

Peeta deixa sua faca cair no chão, e anda em minha direção com o rosto abatido.

- Ele está certo, Katniss.

Todos se surpreendem com o som da faca, ao passo que eu, pela reação dele.

Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)Onde histórias criam vida. Descubra agora