Voltamos em grupo para nossas casas. Eu, Peeta, Gale, Cressida e Pollux, todos cansados, exceto eu, que me sentia renovada. Eu queria conversar porque estava de algum modo entusiasmada graças a Akahtra, mas o semblante de todos pedia descanso. Cada um entrou em suas casas. Eu estava estranhamente falante com Peeta após o banho, inclusive quando já estávamos deitados. Jamais agi assim. Só percebo que ele está dormindo depois de muito tempo, até que o sono finalmente me abraça.
Acordamos de manhã com o som do despertador. Já era manhã e dormimos bastante, mas o sol não existia neste país. Murmuro algo para Peeta, que acende o abajur.
- Quem é você? - pergunta Peeta, olhando para mim.
Ele se afasta e acende a luz do quarto, que é mais forte. Estou mole ainda de sono, tentando entender que expressão assustada era aquela de Peeta. Achei cômico, e começo a rir. Mas ele insiste.
- Onde está a Katniss? O que você fez com ela? - grita ele, saindo do medo para a raiva, se aproximando.
- Peeta, não grite alto esse nome. - sussurro, preocupada com os vizinhos que podem ouvir. Mesmo com aquela cara de raiva, achei a reação dele muito engraçada, e não conseguia fazer outra coisa se não rir, chegando ao ponto de enfiar o rosto no travesseiro pela cena.
Fui irresponsável. Tinha me esquecido de sua última crise há cinco meses. Mas o riso acaba quando ele me agarra no pescoço insistindo na questão.
- Peeta... - foi a única coisa que tive tempo de falar.
Eu não conseguia me soltar dele, e não podia gritar por socorro, já que isso poderia destruir nosso disfarce naquele país, mesmo estando na vila.
- Peeta... sou eu, Katniss.
Ele fica enlouquecido. Me arrasta da cama pelo braço, me fazendo soltar um urro de dor na perna. Mas ele me força a descer as escadas até a cozinha. Chegando lá, sem me soltar, ele pega uma faca e a põe em meu pescoço.
- O que você fez com ela? Quem são vocês?
- Sua cor preferida é laranja, lembra?
Isso parece tê-lo acalmado um pouco, mas não adiantou muito. Peeta começou então a me dar ordens estranhas. Primeiro, tive que abrir o armário de serviço e pegar uma fita adesiva e lhe entregar. Ele corta uma parte e tampa minha boca. Depois prende meus punhos nas costas e pernas, me arrastando até o banheiro de baixo. Fiquei sozinha ali após ele trancar a porta por fora.
Ouço depois de algum tempo o som da porta de entrada da casa se fechando. Se minha perna não doesse tanto, eu conseguiria me levantar e tentar alguma coisa, mas a cada tentativa eu tombava.
Deve ter se passado meia hora quando ouço a porta da casa se abrindo e alguns passos de várias pessoas em silêncio. O próprio Peeta abre a porta, e lá estão Pollux, Cressida e Gale, espantados ao me ver.
Cressida foi a primeira a falar:
- Isso não é coisa do povo da vila.
- Verdade, não faria sentido se fossem eles. - acrescenta Gale.
- Estão contentes agora? Eu disse que eu não estava louco. - resmunga Peeta.
Pollux faz um gesto para Peeta, pedindo desculpas.
- O que faremos com ela?
Começo a me debater, sem entender nada, querendo me soltar. Antes fosse um daqueles pesadelos, mas não era.
Peeta passa a faca para Cressida e Gale vem em minha direção dizendo:
- Vou destampar sua boca para lhe fazer algumas perguntas. Se você gritar, ela corta sua garganta, entendido?
Hesito sem entender, depois consinto. Gale retira a fita de minha boca, e eu não perco tempo, indignada:
- Que diabos vocês estão fazendo?! Estão loucos?
- A voz também é diferente. Não é ela. - diz Cressida.
- Onde está Angela? O que fizeram com ela? - pergunta Gale.
- Eu não sabia que hoje é dia das bruxas. Também não é meu aniversário pra me passarem um trote de mal gosto. - digo ironicamente.
Mas agora complemento aos berros:
- ... então querem fazer o favor de pararem com essa palhaçada?
Todos se espantam, como se tivessem reconhecido algo de mim em mim. Gale me olha fixamente nos olhos e manda Cressida guardar a faca. Os outros protestam, mas ele insiste, retirando as fitas de meus pés e mãos.
Talvez eu lamente pelo resto da vida por isso que ele acaba de fazer. Talvez eu preferisse que Cressida me rasgasse a garganta. Certamente eu deveria ter gritado para que ela fizesse isso.
Gale me ergue, me perguntando quem sou eu.
- Catnip está bom pra você? - desafio sua sanidade.
Peeta perde a paciência e me põe de frente ao espelho do banheiro, gritando:
- Olhe para você. Este rosto é da Katniss? Por acaso é? Hein?
Quando me vejo, quase desmaio. Esse reflexo não é meu. Meu cabelos estão loiros, meu semblante mais fino, e meus olhos estão verdes. Mas minha perna ainda dói.
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Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)
FanfictionKatniss é temida por países que querem evitar uma onda de revolução global inspirada pelo Tordo de Panem.