Capítulo 37 - O Deserto do Saara em Marrocos

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Um dos pequeninos raquíticos deve ter cometido o erro de não se agachar, desequilibrou-se com o vento e certamente caiu. Em meio a contagem regressiva, 5 segundos depois, ouve-se o primeiro tiro de canhão. Os Jogos nem começaram e já temos a primeira vítima. 33, 32, 31...

Não posso tirar as mãos do círculo, pois o vento é muito forte vindo de trás de mim. Em minha posição inicial ao subir pelo duto, supõe-se que estou de frente para o ponto onde estão as armas. Meu arco deve estar lá, porém manco. Não sou mais uma corredora e tenho a consciência de ser uma das presas mais fáceis numa perseguição, mesmo com meus braços fortalecidos em meses de academia. Mas a dor na perna continua forte como antes.

- 10, 9, 8...

Se a pessoa que caiu foi levada pelo vento, sua cabeça deve estar a uma distância de um metro do círculo somando isso com o impulso da explosão, sua distância final pode ser de três metros de lá. Talvez ele tenha perdido as pernas e outras partes.

- Zero!

Aguardo dois segundos após o início e vou na direção da explosão. Já que isso é um deserto, vou precisar checar seu corpo para ver o que sobrou de roupas. 2 metros de campo de visão, mas o encontrei. É uma menina morta, e não deve ter mais de 14 anos. Seu estado é desolador: metade de seu corpo não existe mais e o que sobrou de sua roupa está em chamas, mas servirá. Joguei um pouco de areia para apagar o fogo e lhe dispo recolhendo material suficiente para formar um turbante e me proteger da radiação solar.

Essa tempestade arruinou meus planos de me juntar aos aliados que conquistei. Não vale a pena procurar armas, nem ficar aqui esperando dar o bote em alguém que tenha conseguido alguma mochila. Minha única opção é fugir contra o vento, me afastando do almoxarife de armas aberto, como chamam aqui. Em desespero, esqueço a dor e caminho em direção dos  ventos. Não adianta tentar correr nem pular.

É quente demais. Talvez entre 44 e 50 graus célsius. No entanto, a tempestade densa é boa pois camufla a todos, mas caminho em passos firmes sem ainda formar o turbante na cabeça pois está quente ainda. O que fiz foi despir meu traje externo e transparente de algodão sintético que me protege do calor um pouco e enrolar as roupas da menina dentro da veste.

Cinco tiros de canhão se sucedem lentamente enquanto me afasto com firmeza. Será que Peeta foi promovido por Heavensbee e está me protegendo com essa tempestade? É o que prefiro imaginar. Peeta deve ser agora um dos técnicos de controle dos jogos recebendo ordens de matar ou salvar alguém, disparar canhões e criar bestantes. Sei que ele está lá como um dos ventríloquos controlando a nós, marionetes, sob ordens de Heavensbee. Do verdadeiro Heavensbee, cujo nome aqui em Socrática é Rogerer, e é o idealizador-chefe dos jogos há vários anos. Sua idade aparenta ser de quarenta e poucos anos. O Heavensbee que conheci em Panem é um de seus clones, que está refugiado dentro da embaixada de Snow.

Esse deve ser o Saara simulado de mil e trezentos anos atrás, dentro do gigantesco e quase infinito domo subterrâneo. Eles usam uma tecnologia tão mais sofisticada de realidade virtual do que a de Panem, que o domo é tão alto quanto a estratosfera e a extensão territorial passa de nove milhões de quilômetros quadrados, uma área um pouco maior do que a de um antigo país gigante e perto daqui chamado Brasil.

Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)Onde histórias criam vida. Descubra agora