Capítulo 40 - O Inferno de Dante

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Passei por duas imensas dunas com muita dificuldade ao som de trovões que começaram muito distante, e alcanço uma parte mais plana, tropeçando em algo duro. Minha canela esquerda se corta. Era uma pedra que eu não podia ver, pois estava de olhos vendados, assim como o resto do corpo totalmente tampado. Eu já havia enrolado pedaços do tecido da roupa da menina morta na bomba em minhas mãos para protegê-las da acidez e toxidade da areia.

Não tenho tempo de avaliar o tamanho do corte na canela esquerda, e prossigo com mais cuidado, dessa vez deixando de usar a espada como muleta, e passando a usá-la na minha frente, como os cegos fazem para saber se há algum obstáculo.

Sempre indo a nordeste de minha posição inicial, mas sem saber se é o verdadeiro nordeste cardeal. Pensando melhor, assim que eu descobrir onde fica o verdadeiro noroeste, é para lá que tenho que ir em busca de água, pois como estudei geografia, sei um pouco sobre o Saara.

A areia parece ficando mais firme, e já consegui desviar de várias outras pedras. Sou obrigada a caminhar de braços abertos na intenção de, mesmo às cegas, dar sorte de achar algum arbusto ao toque.

- Óculos ou água, por favor! - grito, num volume moderado para ver se tenho algum patrocinador que possa me ajudar.

Ainda não estou com sede, mas sei que a desidratação logo vai me pegar, porque estou suando em bicas. Deve estar fazendo 46 graus agora ou 55 dentro dessa roupa toda, e pra piorar, a tempestade de areia está começando a fazer furos em minha roupa devido a acidez, queimando minha pele. Me visto com a roupa do carreirista por cima. Agora tenho menos peso na mão esquerda, que se distribui pelo meu corpo.

Infelizmente agora estou de preto com essa roupa dele, e assim que a tempestade acabar, e isso se eu estiver viva até lá, serei facilmente vista em contraste com a areia branca do deserto. Foi exatamente por esta razão que pedi ao estilista me vestir de branco. Minha estratégia não era exatamente, e nem apenas fingir ter o espírito da Noiva Andina, mas me camuflar com o branco do deserto.

Mais adiante, sinto um declive com terra firme e várias pedrinhas. Neste instante, em meio ao som do vento e trovões, ouço outra coisa vindo depressa ao longe, mas não sei distinguir o que é. Seja o que for, não é humano. Sigo mais e mais depressa, e minha espada bate em uma rocha. Procuro continuar em meu caminho, andando em volta, mas não acho uma passagem. O estranho som aumenta, e em desespero, sem saber para onde ir, retiro parte do traje que tampa meu rosto e abro um pouco os olhos com a mão à frente. Primeiro olho para leste, onde é seguro olhar e só vejo 2 ou três metros naquela direção, mais nada. Na minha frente é uma montanha de rochas sedimentares, bloqueando toda a passagem para o norte, noroeste e nordeste.

Tento escalar, mas o som aumenta e se aproxima. É a água que pedi, ou...

Corro, corro e corro de volta por onde vim feito louca sem nem sentir dor na perna. Os trovões era de chuva ao longe, e percebo agora que esta agradável terra firme e essa montanha eram uma armadilha, pois esse declive cheio de pedras e terra só podem ser uma coisa: o leito de um rio que se forma em segundos após uma chuva que cai há cerca de 150 Km de distância. Eu devia ter previsto isso, mas como prever, se para mim a tempestade era feita pelos idealizadores dos jogos?

O vento queima meu rosto e meus olhos, mas sou obrigada a tentar enxergar a distância da água em relação a minha posição, mas é em vão, pois contra o vento não enxergo nem um palmo sequer.

Porém, voltando para o lugar de onde vim, consigo enxergar ao menos as pedras afiadas para me desviar delas.

Um rio que se forma assim tão depressa pode chegar a 90 Km/h ou mais. Se eu for pega pelo impacto, é morte quase instantânea.

Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)Onde histórias criam vida. Descubra agora