Capítulo 7 - Conflito Desarmado(Entre Verdades e Mentiras)

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- Onde está minha mãe? - pergunto depois de olhar ao redor, procurando-a, voltando então o olhar para Gale.

O silêncio e as expressões de todos, exceto minha e de Peeta, são de pesar.

- Onde está ela? - grito dessa vez, em protesto ao silêncio.

- Você mesmo disse que ela nos estaria esperando. - reforça Peeta.

Gale gagueja, já temendo minha reação, mas talvez nem tanto, porque infelizmente meu arco teve que ser deixado para trás. Estou agora arrependida pelo arco, pois pressupondo imediatamente a resposta dele, certamente eu já o teria matado e fugido de volta com Peeta para buscá-la.

- Ela estava com o conselho médico na Nova Capital, não tivemos nenhuma chance... - gagueja Gale, como nunca o vi gaguejar antes, diante de um olhar talvez inédito de minha parte de desprezo e morte, até ser interrompido pelo mais forte soco que já dei em alguém, que acidentalmente errou o alvo e pegou em cheio em seu Pomo de Adão.

Inacreditavelmente, ele cai com meu soco, com dificuldade para respirar. Não entendo muito de anatomia, e minha intenção era acertar o nariz, mas devido a minha altura, acertei ali. Eu não sabia que um golpe forte naquele local de um homem podia ser tão eficiente. Geralmente dizem que o ponto fraco de todo homem é um chute bem dado na virilha... é o que todos sabem.

Nem tenho tempo para fingir que não estou surpresa pela minha eficiência e pulo em cima do corpo suplicante por oxigênio, esmurrando seu rosto e gritando com toda a minha fúria.

Talvez devido a radiação, todos estamos fracos, mas o ódio me dá força, e me sinto mais que possessa...estou completamente irracional. Os demais hesitaram com medo de minha fúria ou talvez por aprovação, não sei, mas após alguns segundos, eles me tiram de cima do rosto ensanguentado de Gale.

- Ele precisa respirar. - diz Cressida, acudindo-o.

- Vamos voltar. - diz Peeta, tentando abrir a escotilha por onde entramos.

Tem início uma discussão. A escotilha não se abre, a não ser que Gale ordene, foi o que disse Cressida, e Pollux acenou em confirmação.

- Ordene! - grito, voltando a agarrar o maldito mentiroso estirado no chão. - Ordene, seu maldito!

Pollux me tira de cima dele, tentando poupá-lo e me acalmar. Peeta o empurra, e tem início uma briga. Vou pra cima de Pollux, ajudando Peeta, e Cressida me puxa dizendo para me acalmar. A arremesso para longe, o que a faz abraçar o clima de caos que se instalara, e passamos a nos comunicar com chutes e socos. É um tipo de diálogo onde ambas temos boa experiência: o "diálogo" dos punhos e pontapés. Pollux tem sua língua cortada, mas agora está "dialogando" como nunca com meu amor.

Sinto uma pancada na nuca por trás, de Gale, que se recupera, e caio olhando pra ele de pé com uma ferramenta ensanguentada na mão, e depois não vejo mais nada.

Acordo, não sei quanto tempo depois, sem saber se me conforto pela suavidade da poltrona em que estou, ou se sofro com a dor da ponta de um dos cubos de gelo segurados por Cressida que pressionam minha ferida na nuca.

Todos estamos com hematomas nos rostos e pelo corpo, além de contaminados, mas os medicamentos são mesmo eficientes e com poucos efeitos colaterais desagradáveis.

- Essa nave veio para cá no piloto automático, e estamos voltando guiados pelos computadores. - diz Gale, olhando pra frente.

Estamos acordados; Peeta ao meu lado e Cressida de pé na poltrona atrás de mim, passando os cubos para minha mão.

Nos encontramos em um ar de silêncio e absorção do que se passou, voltando a agir como seres civilizados que após o encerramento de uma briga, só querem, inconscientemente, se reatar. Noto que a maioria das pessoas tem esse comportamento após uma briga, mas eu não. Quero distância deles, mas ao contrário de mim, Peeta parece compartilhar do instinto natural de reconciliação que vejo as pessoas nutrirem.

- Nós não temos controle sobre esta nave. Só podíamos dizer nossos nomes para entrar. - acrescenta Gale, enquanto Cressida está provavelmente já sentada em sua poltrona atrás de mim, certamente para me vigiar.

- Ainda não decolamos? - indaga Peeta.

Gale e Cressida nos explicaram que por se tratar de um jato intercontinental que não pode ser visto nem detectado por outros países, este teve que vir no automático, sem nenhum tripulante, pois precisava voar e pousar em uma velocidade tão alta, que nenhum humano sobreviveria aos trancos e pressões, mas como agora possui passageiros, faremos uma viagem mais lenta.

Eles explicam que esta nave é revestida de um novo material especial, de difícil e lenta industrialização. Um material semi-quântico, cujo nome popularmente conhecido é pionte. Este é o único material que possui tanto propriedades do universo quântico, dos átomos, quanto do macroscópico, do universo que podemos ver e tocar. Por esta razão, ele é altamente sensível a campos magnéticos, porém quase insensível a ondas gravitacionais.

Assim que o poderoso reator nuclear da nave é ligado, a pionte entra em atividade, e começa a elevar a nave, guiada por um campo magnético especial, que outro equipamento da nave utiliza para decolagens. A nave pesa 2 milhões de toneladas, aproximadamente, devido a camada de piontes, mas seu peso, ou massa, só existe quando o reator está desligado. Uma vez ligado, toda a matéria no interior da nave passa a ter seu peso anulado, de modo que até uma criança lá embaixo do lado de fora poderia erguê-la com apenas uma das mãos, mas seria desintegrada ao toque.

Pionte é o fruto do quase milenar estudo científico do controle da antimatéria, que hoje em dia somente é usada para fins pacíficos. Ninguém mais ousa provocar outro holocausto antimaterial, devido às consequências outrora experimentadas.

Este é até este momento, o único material produzido pelo homem que viola a Teoria Geral da Relatividade de Einstein, mas não as Leis da Física, que se remodelou com as descobertas do passado.

Finalmente decolamos, e a nave se encontra inteiramente invisível, silenciosa e indetectável. Pusemos os cintos, pois a gravidade do interior da nave foi anulada. É extremamente divertida a sensação de liberdade e segurança da gravidade zero. Dá uma vontade quase irresistível de soltar o cinto e flutuar. A nave para às vezes durante a viagem a 15 Km de altitude em busca dos instáveis campos magnéticos que a Terra produz nos dias atuais. A nave se torna totalmente translúcida de modo que nem podemos enxergar suas anteparas, ou paredes, e vimos tudo ao redor como se a carcaça da nave fosse de vidro, parecendo até que ela nem existe.

Essa experiência e sensações são tão difíceis de se expressar em palavras que me esqueço totalmente da minha fúria, dor e preocupações durante o voo.

Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)Onde histórias criam vida. Descubra agora